12 março 2016

«Domingo do Perdão»


PATRIARCADO ECUMÊNICO DE CONSTANTINOPLA
Arquidiocese Ortodoxa Grega de Buenos Aires e América do Sul
Igreja Anunciação da Mãe de Deus
SGAN - Quadra 910 - Módulo ‘’B’’ - CEP: 70.790-100 - Brasília-DF
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Brasília, 13 de março de 2016.
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«Domingo do Perdão» (ou dos Lacticínios)

(7º antes da Páscoa - Modo Grave)

A expulsão de Adão e Eva do Paraíso.

Memória da Trasladação das relíquias de S. Nicéforo, Patriarca de Constantinopla (847)


Neste dia realiza-se, nas igrejas ortodoxas, um rito especial durante o qual todos, começando pelos sacerdotes, pedem perdão uns aos outros pelas ofensas cometidas, intencionais ou não. A Quaresma é um tempo de intensa luta contra o pecado e é muito importante começar o jejum com uma consciência limpa, sem o peso de saber que estamos em dívida moral com alguém. O Evangelho nos diz que, se não perdoarmos aos outros as suas faltas, o Pai também não nos perdoará as nossas. Neste dia, vamos à Igreja para pôr em prática estas palavras, aproximando-nos uns dos outros e pedindo perdão. E ouviremos a resposta tradicional: «Deus perdoará! » Com o perdão, começamos o caminho rumo ao renascimento espiritual, e o Senhor nos ajudará a dar este primeiro passo. «Abençoai e perdoai-me, pais, irmãos e irmãs! »


Matinas

Tropário – Modo Plagal 4 - (8º tom):
Desceste das alturas, ó misericordioso, e aceitaste o sepultamento durante três dias, para nos livrar das paixões. Senhor, És nossa vida e nossa ressurreição, glória a Ti.
Glória ao Pai , ao Filho e ao Espírito Santo,

Desceste das alturas, ó misericordioso, e aceitaste o sepultamento durante três dias, para nos livrar das paixões. Senhor, És nossa vida e nossa ressurreição, glória a Ti.
Agora, sempre e pelos séculos dos séculos. Amém.

Theotokion:
Tu, que por nossa salvação, nasceste de uma virgem e padeceste a crucificação, ó boníssimo por Tua morte, despojaste a morte, Tu que é Deus, nos revelaste a ressurreição, não desprezes aqueles que a Tua mão criou. Manifesta a Tua misericórdia, ó amigo do homem; aceita as preces daqueles que deste a Luz e salva os desesperados, ó nosso Salvador.

Katisma – Modo Plagal 4 - (8º tom):
1ª Katisma:
Oh Vida de todos! Ressuscitaste dentre os mortos. O Anjo resplandecente se dirigiu às mulheres, dizendo: “Deixai de chorar e anunciai aos Apóstolos louvando e proclamando que ressuscitou Cristo, o Senhor, que se alegrou como Deus em salvar o gênero humano!”
Glória ao Pai , ao Filho e ao Espírito Santo.

Verdadeiramente ressuscitou do sepulcro e ordenaste as piedosas mulheres que anunciassem aos Apóstolos a Ressurreição, como está escrito. Pedro correu ao sepulcro e ao ver a Luz na tumba, se estremeceu e viu o sudário, o qual era impossível que vê-lo na obscuridade. Creu e correu exclamando: “Glória a Ti, Cristo Deus Salvador nosso, porque nos salvou, sendo Tu em verdade o reflexo do Pai!”
Agora, sempre e pelos séculos dos séculos. Amém.

Theotokion:
Louvemos a quem é a Arca e a Porta celestial; a Montanha Santíssima e a Nuvem luminosa; a escada celeste e o Paraiso flante; a Salvadora de Eva e Mulher única do universo; porque por seu meio se chegou a cabo a salvação de todo mundo dos pecados de outrora. Por isso nos dirigimos a ela rogando-lhe: Intercede ante teu filho e teu Deus, para que nos conceda o perdão dos pecados nossos que nos prosternamos com boa fé ante teu Santíssimo parto.

2ª Katisma:
Oh Salvador, os homens selaram Teu sepulcro e o anjo retirou a pedra da porta da tumba; as mulheres viram tua ressureição dentre os mortos evangelizando a Teus discípulos em Sión, oh Vida de todos, e desataste as cadeias da morte, Senhor glória a ti.
Glória ao Pai , ao Filho e ao Espirito Santo.

Quando as mulheres chegaram ao sepulcro com os aromas do enterro, escutaram desde o sepulcro uma voz angelical que dizia: Deixai as lágrimas e recebei a alegria em vez de tristeza clamando e bradando que Cristo é Senhor ressuscitado e se alegrou como Deus em salvar o gênero humano!
Agora, sempre e pelos séculos dos séculos. Amém!

Theotokion:
Oh cheia de graça, todo universo se alegra em ti, os coros angelicais e o gênero humano, oh Templo Santíssimo e Paraíso falante; Orgulho da Virgindade que de ti foi engendrado o Deus, que se fez menino e é nosso Deus antes dos séculos. Ele fez de seu seio trono, e tornou teu ventre mais amplo que os céus. Por isso, cheia de graça, todas as gerações contigo se alegram e te glorificam.

Ypakoí – Modo Plagal 4 - (8º tom):
Obediência:
As Mirróforas chegaram ao sepulcro do Doador da Vida buscando o Imortal entre os mortos. Receberam o anuncio do Anjo, e anunciaram aos Apóstolos que o Senhor Havia ressuscitado dando ao mundo a grande misericórdia.

Anabtmo:
1ª Antífona:
Desde a minha juventude o inimigo me está provando e com seus atrativos me está queimando; porém eu, apoiado em Ti o vencerei.

Os que odeiam a Sion será como o pasto antes de ser seco, porque Cristo com a foice do sofrimento cortará seus pescoços.

Glória ao Pai , ao Filho e ao Espírito Santo, agora, sempre e pelos séculos dos séculos. Amém.

Pelo Espírito Santo todos vivem. Ele é Luz de Luz, Grande Deus; por isso o louvamos com o Pai e o Verbo.

2ª Antífona:
Que se cubra meu coração humilde com teu temor, para que não ensoberbeça e depois lhe humildes, oh Todo Piedoso.

Quem se apoia no Senhor não terá temor quando Ele julgar a todos com o fogo dos sofrimentos.

Glória ao Pai , ao Filho e ao Espírito Santo, agora, sempre e pelos séculos dos séculos. Amém.

Pelo Espírito Santo, tudo é divinizado vê e fala do futuro e faz milagres celestiais, porque canta há um só Deus, Trino e Uno, pois a Divindade sendo Três Luzes está unificada em um só Senhorio.

Prokimenon:
O Senhor vosso Deus, reinará para sempre, ó Sião, de geração em geração. (2 vezes).

Stichos:
Ó minha alma, louvai o Senhor.
O Senhor vosso Deus, reinará para sempre, ó Sião, de geração em geração.

Kondakion – Modo 4 Plagal- (8º tom):
Tu Te elevaste do túmulo e ressuscitaste dos mortos, elevaste Adão, Eva se rejubila em Tua ressurreição e as extremidades do mundo celebram teu despertar de entre os mortos, ó misericordiosissimo.

Ikós:
Despojaste os palácios dos infernos e ressuscitaste dos mortos, ó pacientíssimo, vieste ao encontro das mirróforas e em lugar, da tristeza lhes trouxeste a alegria.
Aos apóstolos manifestaste os sinais de tua vitória, ó meu Salvador, que dás a vida, e iluminaste a criação, ó amigo do homem.
Eis porque o universo se rejubila pelo teu despertar de entre os mortos, ó misericordiosíssimo.

Evangelho:                                                                             Jo 20, 11-18
Evangelho de Nosso Senhor Jesus  Cristo, segundo o Evangelista São João.

Naquele tempo, Maria, ficou à entrada do sepulcro, chorando. Enquanto chorava, curvou-se para olhar dentro do sepulcro e viu dois anjos vestidos de branco, sentados onde estivera o corpo de Jesus, um à cabeceira e o outro aos pés. Eles lhe perguntaram: "Mulher, por que você está chorando? " "Levaram embora o meu Senhor", respondeu ela, "e não sei onde o puseram". Nisso ela se voltou e viu Jesus ali, em pé, mas não o reconheceu. Disse ele: "Mulher, por que está chorando? Quem você está procurando? " Pensando que fosse o jardineiro, ela disse: "Se o senhor o levou embora, diga-me onde o colocou, e eu o levarei". Jesus lhe disse: "Maria! " Então, voltando-se para ele, Maria exclamou em aramaico: "Rabôni! " (que significa Mestre). Jesus disse: "Não me segure, pois ainda não voltei para o Pai. Vá, porém, a meus irmãos e diga-lhes: Estou voltando para meu Pai e Pai de vocês, para meu Deus e Deus de vocês". Maria Madalena foi e anunciou aos discípulos: "Eu vi o Senhor! " E contou o que ele lhe dissera.

Exapostilário – 8º:
Quando Maria viu dois anjos dentro do túmulo, admirou-Se e não reconheceu Jesus; pensando ser Ele o jardineiro, perguntou-Lhe: “Senhor, aonde puseste o corpo de Cristo?”. Quando Ele A chamou, reconheceu ser logo o Salvador e ouviu a Sua recomendação: “Não Me toques, porque Eu ainda vou a Meu Pai, mas diga o que viu aos Meus irmãos”.

Theotokion – 8º:
Tu, que por nossa salvação, nasceste de uma virgem e padeceste a crucificação, ó boníssimo, por Tua morte despojaste a morte; Tu que és Deus, nos revelaste a ressurreição. Não desprezes aqueles que Tua mão criou e manifesta a Tua misericórdia, ó amigo do homem. Aceita as preces daquele, a quem deste a Luz e salva os desprezados, ó nosso Salvador.

Laudes - Modo Plagal 4 - (8º tom):
1 – Esta glória será para todos os Justos.
Senhor, Tu que te submeteste ao juízo, para ser julgado por Pilatos, não deixaste o Trono donde estás sentado junto ao Pai, ressuscitaste dentre os mortos livrando o mundo da escravidão, porque és Piedoso e Amante da humanidade.

2 – Louvai a Deus em seu santuário, louvai na magnificência de seu firmamento!
Senhor, se os judeus te puseram no sepulcro com morto, os saldados te fizeram guarda como um rei adormecido. Como a um tesouro de vida te selaram; porem ressuscitaste dando a imortalidade à nossas almas.

3 – Louvai por suas proezas, louvai conforme Sua imensa grandeza!
Senhor, nos deste Tua Cruz como arma contra o inimigo, que se atemoriza e treme diante dela não podendo resistir frente sua força, porque ressuscitou os mortos acabando com a morte. Por isso nos prosternamos ante Tua Sepultura e Ressureição.

4 – Louvai ao som da trombeta, louvai com saltério e a harpa!
Senhor, o Anjo que clamou em Tua ressurreição aos guardiões atemorizou, e as mulheres lhes disse: “Porque buscais ao vivo entre os mortos? Ressuscitou com Deus dando a Vida ao mundo.”

5 – Louvai com pandeiro e a dança; louvai com cordas e flautas!
Sofreste sobre a Cruz, oh impassível em Tua divindade, e aceitaste a sepultura de três dias para livrar-nos da escravidão do inimigo, e dando-nos a Vida com Tua Ressureição, oh Cristo amante da humanidade.

6 – Louvai com címbalos retumbantes; louvai com címbalos de júbilo. Tudo que respira louve ao Senhor!
Oh Cristo, me prosterno ante Tua Ressureição do sepulcro glorificando e louvando; e com a qual nos libertaste das cadeias do Hades, pois como Deus concedeste ao mundo a Vida Eterna e a grande misericórdia.

7 – Levanta-Te, Senhor meu e Deus meu, que tua mão se levante e não te esqueças para sempre de Teus pobres.
Os transgressores da lei vigiaram Teu sepulcro que continha a vida, junto com os guardas que o selaram. Porém com Tu és um Deus imortal ressuscitaste Onipotente ao terceiro dia.

8 – Te confesso, Senhor, como todo meu coração e proclamo todos teus milagres.
Senhor, quando transpassaste as portas do Hades, as destruíste, e o cativo exclamou dizendo: “Quem é este que não se julga debaixo da terra, senão aquele que transformou o cárcere da morte em uma tenda? Este que recebeu morto e atemorizou como Deus?” Oh Salvador Todo-poderoso, tem piedade de nós.


Eothinon – 8º:
Glória ao Pai , ao Filho e ao Espírito Santo.
As sentidas lágrimas de Maria Madalena não foram vertidas em vão. Veja como ela aprendeu dos anjos, ó Jesus, a olhar a Tua face; mas como ela era uma fraca mulher, estava pensando em coisas mundanas, foi impedida de tocar em Ti, ó Senhor, mas foi mandada a anunciar a Tua ressurreição aos Teus discípulos, declarando a Tua ascensão para a perpétua herança Paternal. Concede-nos, como foi a ela concedido, de ver o Teu aparecimento, ó Senhor Deus.

Theotokion:
Agora, sempre e pelos séculos dos séculos. Amém.
Bendita e venerável és Tu, ó Mãe de Deus, em cujo seio se encarnou Aquele que visitou o inferno, libertando Adão e Eva da maldição, destruindo a morte e dando a vida a todos nós.
Por isso bendirei o Cristo em qualquer tempo, e sempre o Seu louvor estará em minha boca (2 vezes).

Tropário:
Ó Senhor, ressuscitado do sepulcro, rompeste os grilhões do inferno, eliminaste o poder da morte, salvando todos dos laços do inimigo; e quando apareceste a teus discípulos, os enviaste a evangelizar e, através deles, deste tua paz ao mundo, tu que és o Único Misericordioso.



Divina Liturgia

Anunciação - Modo 4:
É hoje o começo da nossa salvação e a manifestação do mistério eterno.
O Filho de Deus torna-Se Filho da Virgem e Gabriel anuncia a graça.
Por isso, cantamos com ele à Mãe de Deus:
“Salve, ó cheia de graça, o Senhor está contigo!”

Tropário da Ressurreição – Modo 4 Plagal- (8º tom):
Desceste das alturas, ó misericordioso, e aceitaste o sepultamento durante três dias, para nos livrar das paixões. Senhor, És nossa vida e nossa ressurreição, glória a Ti.

Kondakion – Modo 4 Plagal - (8º tom):
Glória ao Pai , ao Filho e ao Espírito Santo.
Tendo ressuscitado do túmulo deste a vida aos mortos e levantaste Adão; Eva se regozija com a tua Ressurreição, e exultam de alegria os confins da terra, ó Misericordioso!

Theotokion – Modo 4 Plagal - (8º tom):
Agora e sempre e pelos séculos dos séculos. Amém
Tu, que pela nossa salvação nasceste da Virgem, sofreste a crucifixão, ó Misericordioso, e com a morte venceste a morte, como Deus, revelando a Ressurreição; não abandones a nós, criaturas de tuas mãos!
Mostra a tua bondade pela humanidade, atende as preces da tua Mãe, que roga por nós, ó Misericordioso, e salva, ó Salvador, nosso povo desolado!

Kondakion Próprio:
Tu, Senhor, Orientador para a sabedoria e Doador da prudência, Mestre dos ignorantes e amparo dos desafortunados, fortalece meu coração e dota-o de compreensão. Dá-me o poder da palavra, ó Verbo do Pai, pois não deterei meus lábios para te aclamar: «Tem piedade de mim, ó Misericordioso!»

Prokimenon:
Fazei votos ao Senhor nosso Deus e cumpri-os; todos os que o cercam tragam oferendas.
Deus é conhecido na Judéia, grande é o seu nome em Israel.

Epístola:                                                                                 Rm 13,11-14,4
Leitura da Epístola do Apostolo São Paulo aos Romanos:


Irmãos, Isso é tanto mais importante porque sabeis em que tempo vivemos. Já é hora de despertardes do sono. A salvação está mais perto do que quando abraçamos a fé. A noite vai adiantada, e o dia vem chegando. Despojemo-nos das obras das trevas e vistamo-nos das armas da luz. Comportemo-nos honestamente, como em pleno dia: nada de orgias, nada de bebedeira; nada de desonestidades nem dissoluções; nada de contendas, nada de ciúmes. Ao contrário, revesti-vos do Senhor Jesus Cristo e não façais caso da carne nem lhe satisfaçais aos apetites. Acolhei aquele que é fraco na fé, com bondade, sem discutir as suas opiniões. Um crê poder comer de tudo; outro, que é fraco, só come legumes. Quem come de tudo não despreze aquele que não come. Quem não come não julgue aquele que come, porque Deus o acolhe do mesmo modo. Quem és tu, para julgares o servo de outros? Que esteja firme, ou caia, isto é lá com o seu senhor. Mas ele estará firme, porque poderoso é Deus para o sustentar.

Aleluia!
Aleluia, aleluia, aleluia!
Vinde, regozijemo-nos no Senhor, cantemos as glórias de Deus, nosso Salvador!
Aleluia, aleluia, aleluia!
Apresentamo-nos diante d'Ele com louvor, e celebremo-lo com salmos!
Aleluia, aleluia, aleluia!

Evangelho:                                                                                         Mt 6, 14-21
Evangelho de Nosso Senhor Jesus  Cristo, segundo o Evangelista São Mateus:

Naquele tempo, o Senhor disse: «Se vós perdoardes aos outros as suas faltas, vosso Pai que está nos céus também vos perdoará. Mas, se vós não perdoardes aos outros, vosso Pai também não perdoará as vossas faltas. Quando jejuardes, não fiqueis de rosto triste como os hipócritas. Eles desfiguram o rosto, para figurar aos outros que estão jejuando. Em verdade vos digo: já receberam sua recompensa. Tu, porém, quando jejuares, perfuma a cabeça e lava o rosto, para que os homens não vejam que estás jejuando, mas somente teu Pai, que está no escondido. E o teu Pai, que vê no escondido, te dará a recompensa. Não ajunteis tesouros aqui na terra, onde a traça e a ferrugem destroem e os ladrões assaltam e roubam. Ao contrário, ajuntai para vós tesouros no céu, onde a traça e a ferrugem não destroem, nem os ladrões assaltam e roubam. Pois onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração».



SINAXE

Pe. Paulo A. Tamanini

A Quaresma, é o tempo em que a Graça de Deus se manifesta com maior intensidade ante nossos olhos, uma vez que a liturgia, as orações, os jejuns e a penitência contribuem muito para que sintamos em nossas vidas a misericórdia divina, o perdão que nos é dado e um convite à conversão contínua. É o tempo da espera, da meditação, do silêncio. É um tempo onde o exterior torna-se secundário diante da realeza que se descobre ao penetrarmos nossa interioridade. É tempo de parar, de refletir, de meditar, de silenciar os ruídos do dia-a-dia, para ouvir atentamente o que o Senhor nos fala.

A Quaresma é o tempo do deserto e da ausência. Experienciamos o vazio, a solidão, o abandono das coisas mundanas, experenciamos a ausência do barulho e das preocupações que assolam a nossa vida, para nos encontrar conosco mesmos. É o retiro tão necessário para a edificação de nossa vida espiritual.

«Em cada pedra vejo um sinal da presença de Deus, e a ausência dos ruídos, que poderiam me afastar do Senhor. Em cada noite escura me agasalho na proteção do Altíssimo, sentindo apenas que o Senhor me envolve com sua mão poderosa». (Santo Epifânio, monge e bispo de Chipre)

O tempo do «deserto» nos torna conscientes de nossa realidade mais essencial: somos filhos amados de Deus no seu Filho, feitos à imagem e semelhança, d'Ele, nosso Criador.

A necessidade de recuperarmos esta «imagem e semelhança» nos inquieta e nos move em direção ao "deserto". Necessitamos nos encontrar com o Pai e nos identificar com Ele. A Quaresma é o tempo propício para este encontro que nos faz recuperar a consciência de nossa verdadeira e mais profunda identidade. Não somos do mundo, mas estamos no mundo, para transformá-lo. Fermento na massa, como disse Nosso Senhor. Tomar consciência de nossa verdadeira natureza nos faz pessoas diferentes.

O Perdão é o tema central do Evangelho deste Domingo que também é conhecido como «Domingo da Abstinência de Laticínios». A Igreja, Mãe e Mestra, propõe a seus filhos que se abstenham de certos alimentos, não para nos punir, mas para nos educar, porque nos ama a todos. Uma das grandes dimensões do amor verdadeiro, além das manifestações singelas de carinho e afeto, é a correção. A Igreja nos ama como filhos. Amando-nos nos corrige para nos levar à santidade. Se deixarmos nossas vontades agirem livremente, aos poucos, nos tornaremos seus escravos. Deixar de comer carne ou produtos derivados do leite não são apenas preceitos, mas atitudes que podem revelar o quanto somos dominados ou não pelas inclinações da carne. O excesso de comida ou de bebida «destrói a obra de Deus», nos diz o apóstolo Paulo. (Rm 14). Na Epístola deste domingo, o mesmo apóstolo nos admoesta:

«Despojemo-nos, pois, das obras das trevas e nos revistamos das armaduras da luz. Revesti-vos do Senhor Jesus e não façais caso da carne para satisfazer os apetites». (Rm 13).

O Pai misericordioso está sempre pronto a estender a todos o perdão divino. No entanto, a condição para merecê-lo, é que também nós estejamos prontos a estender o mesmo perdão aos nossos irmãos devedores. No gesto de perdão, revelamos nossa identidade de cristãos, manifestando a misericórdia de nosso Deus. Perdoar é alcançar o estágio mais elevado do amor pelo inimigo. É o amor que cura as feridas e restaura nossas dores a partir de dentro. Amar nossos inimigos, preceito máximo da doutrina de Jesus, é ser capaz de perdoar os que nos causaram o mal. O perdão substituiu a vingança e a justiça baseada nas mensurações puramente humanas, pelo amor. O perdão se baseia na lei do Amor, por isso muitas vezes não é compreendido.

Artur da Távola, teólogo e filósofo da atualidade, em crônica publicada no jornal O Dia do Rio de janeiro em 28 de março de 2002 com título: «Como é difícil perdoar!» nos faz uma triste constatação logo no início: diz o autor: «Pouca gente, mesmo entre cristãos, compreende o sentido profundo do perdão. A maioria pensa que é forma de anistia do sentimento, ato interno capaz de compreender o ofensor e desculpá-lo no fundo do coração misericordioso. Este primeiro degrau do perdão já é difícil de ser galgado. E a propósito da Semana Santa, quero dizer o seguinte: O verdadeiro sentido da revolução cristã do perdão, porém, é outro, e bem mais radical: mais que ausência de ódio no coração do ofendido, o perdão é ação de amor na direção do ofensor. O cristianismo é tão revolucionário que exige do ser humano não apenas a grandeza de compreender e desculpar o ofensor, mas a capacidade de amá-lo. Perdoar é perdoar, isto é, "doar amor através (per) do ofensor».





«Perdoar é doar amor através do ofensor»

Quem doa amor ao ofensor dá-lhe as condições profundas de contrição, compunção, compaixão e arrependimento, os quatro caminhos através dos quais o ser humano pode renascer de si mesmo e das trevas, trocando a morte pela vida.

Por ser o gesto mais difícil e elevado, o perdão é a única forma de permitir ao ofensor a entrada de amor no seu coração. Qualquer forma de cobrança, punição e vingança aferra a crueldade do ofensor e, de certa forma, fá-lo sentir-se justificado. A doação objetiva e concreta de amor poderá não ser eficaz, adiante, porém é a única forma através da qual o ofensor tem a chance de se arrepender sinceramente e reencontrar um caminho que lhe faz falta e é a única maneira de se redimir, crescer como pessoa, transformar-se.

Ser bom, fazer-se seguidor das religiões, sentir-se justo, fraterno, solidário, honesto, tudo isso - embora exija esforços - é relativamente fácil e em geral alimenta o ego. Difícil é perdoar o ofensor, não apenas desculpando-o, mas sendo capaz de o amar na integralidade do seu ser. Por isso, aliás, o cristianismo em essência encontra tanta dificuldade de se implantar entre os homens: exige a descoberta da grandeza humana, da virtude no sentido de exercício da única força capaz de mudar o mundo: o amor real. Não há revolução maior. Quem é capaz?

Ruben Alves
Extraído do site ecclesia.com.br


13 de Março: Trasladação das relíquias de São Nicéforo, Patriarca de Constantinopla (847)

Este santo é comemorado no dia 02 de junho. Depois que o imperador Constantino IV e a imperatriz Irene restabeleceram a veneração das santas imagens, o jovem Nicéforo lhes foi apresentado e, de pronto, por suas grandes qualidades, conquistou-lhes a simpatia. Na corte, distinguiu-se por sua oposição aos iconoclastas, tendo sido secretário no Segundo Concílio de Nicéia e comissário imperial. Mesmo sendo em brilhante orador, filósofo, músico, com todas as qualidades de um estadista, sempre teve uma forte inclinação para a vida religiosa, isolada, e mesmo estando envolvido nos assuntos públicos, construiu um monastério num lugar isolado próximo ao Mar Negro. Após a morte de Tarásios, patriarca de Constantinopla, não foi encontrado ninguém mais apto a sucedê-lo que Nicéforo. Sendo leigo, houve algumas objeções à sua eleição, qualificando-a como contrária aos cânones, e só a pedido expresso do imperador, pode ser persuadido a ser ordenado sacerdote e a aceitar o cargo. Durante a sua consagração, realizada em 12 de abril, no ano 802, manteve em mãos o tratado que ele havia escrito em defesa da veneração aos ícones e, no final da cerimônia, depositou-o ao lado do altar, como uma promessa de que seria sempre defensor da tradição da Igreja. Não demorou muito tempo até que o novo patriarca tivesse de enfrentar-se novamente com os que lhe eram hostis. Suas principais obras foram uma Apologia para o ensino ortodoxo em relação com os santos ícones e outro extenso tratado em duas partes: a primeira, uma defesa da Igreja contra a acusação de idolatria; e a segunda, conhecida como «Antiherética», uma refutação aos escritos de Constantino V sobre as imagens sagradas. Além de vários outros tratados, a maioria sobre a iconoclastia, deixou duas obras históricas conhecidas como Breviarium e Cronografia; a primeira é uma breve história do reinado, de Mauricio à Constantino IV e Irene; a outra, uma crônica com os principais acontecimentos, desde o início do mundo. Na compilação dos concílios é possível ainda encontrar-se os dezessete cânones de Nicéforo, sendo que no segundo declara ilícito viajar aos domingos sem necessidade. Em 2 de junho do ano 828 o santo morreu, e em 13 de março do ano 846, por ordem da Imperatriz Teodora e do Patriarca São Metódio, os restos mortais de São Nicéforo foram transferidos da Ilha de Prokenesis para Constantinopla, tendo sido depositado Igreja dos Santos Apóstolos.
Tradução e publicação neste site com permissão de www.ortodoxia.org
Trad.: Pe. André Sperandio

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