13º Domingo de Lucas (24/11/2013)

13º DOMINGO DE LUCAS
(MATINAS: Jo. 21, 14-25 | LITURGIA: Gl. 6, 11-18 e Lc. 18, 18-27)*
Ainda te falta uma coisa! 

“Vende tudo que tens, distribui o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no céu; depois vem e segue-me.” Esta foi uma prescrição particular para um homem que tinha uma necessidade específica.

Jesus não estabeleceu a pobreza como um requisito ou um ideal para todos. Ele não condenou as posses e riquezas. Não há nenhum registro de que Jesus tenha dito a Tiago e João para se desfazerem de seu barco de pesca, ou que Ele tenha dito a Maria e Marta para venderem sua casa em Betânia. Jesus era um bom doutor, e como tal não receitava o mesmo remédio para todos os pacientes.

O jovem do Evangelho de hoje havia permitido que suas posses formassem um grande muro entre ele e Deus; e Jesus, que sabia o que o que esse homem pensava, percebeu isso num único olhar. Por isso, Ele disse: “vende tudo o que tens”.

Dizemos que as palavras de Cristo são “prescrições”, mas elas são mais parecidas com uma “operação cirúrgica”. Jesus foi tão “bom doutor” como um “bom cirurgião”. Ele acreditava em remédios drásticos quando o problema era profundo e agudo. Então, de certo modo, é como se Ele dissesse: Se a tua riqueza te faz pecar, corta-a (cf. Mt. 5, 30). Ora, esse homem era tão preso a suas posses que nada menos do que uma cirurgia seria suficiente.

O que é esta “uma coisa” em nossas vidas que nos mantêm distantes de Deus? Seja o que for, devemos tratá-lo como um câncer, diz Jesus: Livra-te dele imediatamente, não importa quão dolorosa a separação, depois vem e segue-me.

Para alguns essa “uma coisa” pode ser o álcool: que ao dominar a força de vontade do homem, torna-se uma doença fatal.

Para alguns essa “uma coisa” pode ser o sucesso: que destrói as linhas mais tênues do caráter, tornando o homem arrogante, esnobe e ingrato.

Para alguns essa “uma coisa” pode ser o dinheiro: que reduz a visão do homem, podendo levá-lo ao ponto de enxergar tudo e todos como meros cifrões de uma moeda.

...

Quando nosso Senhor conheceu André, Mateus, Tiago, João, Pedro e os outros apóstolos, Ele lhes fez um convite: “Segue-me”, disse Ele. Os Evangelhos nos relatam que esses homens “deixaram tudo e seguiram Jesus” (cf. Lc. 5, 11).

Jesus estendeu esse mesmo convite ao jovem rico do Evangelho de hoje “... vem e segue-me.” Ele também foi convidado por Jesus para tornar-se um apóstolo como Mateus, Pedro, João...

Se ele tivesse seguido Jesus, hoje estaríamos honrando sua memória como um apóstolo, mas sequer sabemos o seu nome. “Uma coisa” o manteve distante de Deus: seu amor pelas riquezas.

O que é que esta “uma coisa” em nossa vida? É algum pecado que nos recusamos a abandonar? É uma parte de nossas vidas nos recusamos a oferecer a Deus? É um amor que colocamos acima de nosso amor a Cristo? É uma pessoa que nos recusamos a perdoar? O que quer que seja, a mensagem de Cristo para nós é: até mesmo um único pecado, se nós não o renunciarmos e procurarmos o perdão de Deus, pode nos manter fora do Reino dos Céus.

Pe. Anthony M. CONIARIS

Prof. emérito da Holy Cross Greek Orthodox 

School of Theology, em Brookline, MA (EUA).

Traduzido do livro: "Gems from the Sunday and Feasts Gospels"

Boletim n. 44, 24.11.2013:

13º Domingo de Lucas

PENSAMENTO

† São João Clímaco | Άγιος Ιωάννης της Κλίμακος (523-606)

Mas, todos nós que temos em pouco nosso ofício, lembremo-nos de que o Senhor disse àquele jovem que havia guardado quase todos os mandamentos: "Ainda te falta uma coisa: vende tudo que tens, distribui o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no céu; depois vem e segue-me" (Lc. 18, 22). Por aí se vê que, sobrepujando em virtudes aos que vivem no mundo, nada mais fazemos do que aquilo que é próprio de nosso ofício. Se desejamos correr ligeira e alegremente por este caminho, estimando-o no que ele merece, consideremos atentamente que o Senhor chamou aos homens que no mundo vivem, dizendo a um deles: “Deixa que os mortos enterrem os seus mortos” (Lc. 9, 60).

A Escada da Divina Ascensão.

 2º Degrau: do desapego, p. 14.

Tom da semana: 5º Tom

(Ἦχος πλ. α΄ – Ἑωθινόν ΙΑ΄)

† MATINAS

11º Eothinon (Ἑωθινόν ΙΑ΄)

EVANGELHO SEGUNDO SÃO JOÃO

Pedro é constituído Pastor. A sorte do Discípulo Amado.

(Jo. 21, 14-25)

Naquele tempo, Jesus apareceu aos discípulos, depois de ressuscitado dos mortos. Quando acabaram de comer, Jesus disse a Simão Pedro: “Simão filho de João, tu me amas mais do que estes?” Ele respondeu: “Sim, Senhor, tu sabes que eu te amo”. Jesus disse: “Apascenta os meus cordeiros”. Jesus perguntou pela segunda vez: “Simão filho de João, tu me amas?” Pedro respondeu: “Sim, Senhor, tu sabes que eu te amo”. Jesus lhe disse: “Apascenta as minhas ovelhas”. Pela terceira vez Jesus perguntou: “Simão filho de João, tu me amas?” Pedro ficou triste por lhe ter perguntado três vezes ‘tu me amas?’ e respondeu: “Senhor, tu sabes tudo, sabes que eu te amo”. Disse-lhe Jesus: “Apascenta as minhas ovelhas. Na verdade eu te digo: quando eras jovem, tu te vestias para ir aonde querias. Quando envelheceres, estenderás as mãos, e será outro que as amarrará e te levará para onde não queres”. Disse isso para indicar com que morte Simão haveria de glorificar a Deus. Dito isto, acrescentou: “Segue-me”.

Pedro voltou-se e viu atrás de si o discípulo a quem Jesus amava, aquele que na ceia tinha estado ao lado de Jesus e lhe tinha perguntado: “Senhor, quem é que te vai entregar?” Pedro perguntou a Jesus: “Senhor, e este? Que será dele?” Jesus respondeu: “O que te importa se eu quero que ele fique até que eu venha? Segue-me tu”.

Por isso espalhou-se entre os irmãos o boato de que aquele discípulo não morreria. Mas Jesus não havia dito: “Não morrerá”, e sim: “O que te importa se eu quero que ele fique até que eu venha?” Este é o discípulo que dá testemunho destas coisas e as escreveu. E sabemos que o seu testemunho é verdadeiro.

Jesus fez ainda muitas outras coisas. Se fossem escritas uma por uma, penso que nem o mundo inteiro poderia conter os livros que se deveriam escrever. Amém. 

† DIVINA LITURGIA

EPÍSTOLA DE SÃO PAULO AOS GÁLATAS

Conclusão da Carta de Paulo

(Gl. 6, 11-18)

IIrmãos, vede com que grandes letras vos escrevo com minha própria mão. Os que se querem impor pela carne, são estes que vos obrigam à circuncisão, só para não serem perseguidos por causa da cruz de Cristo. Pois nem os próprios circuncidados guardam a Lei, mas querem que vós vos circuncideis para se gloriarem em vossa carne. Quanto a mim, não pretendo jamais gloriar-me a não ser na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, por quem o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo. Pois a circuncisão de nada vale, nem a incircuncisão, e sim a nova criatura. Para todos que seguirem esta regra, a paz e a misericórdia e para o Israel de Deus. De ora em diante ninguém me moleste, pois trago no meu corpo as marcas de Jesus. A graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, irmãos, esteja com vosso espírito.

EVANGELHO SEGUNDO SÃO LUCAS

O jovem rico
(Lc. 18, 18-27)

Naquele tempo, um certo homem de posição perguntou-lhe: “Bom Mestre, o que devo fazer para ganhar a vida eterna?” Jesus lhe respondeu: “Por que me chamas de bom? Ninguém é bom a não ser Deus. Conheces os mandamentos: Não cometerás adultério, não matarás, não furtarás, não darás testemunho falso, honra pai e mãe”. Ele disse: “Tudo isso eu tenho observado desde a juventude”. Ouvindo isso, Jesus lhe disse: “Ainda te falta uma coisa: vende tudo que tens, distribui o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no céu; depois vem e segue-me”. Quando ouviu isso, o homem ficou triste, porque era muito rico. 
   Vendo-o assim triste, Jesus disse: “Como é difícil para os que têm riquezas entrar no reino de Deus! É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino de Deus”. Os que o ouviam disseram: “Então, quem pode salvar-se?” Ele respondeu: “O que é impossível para os seres humanos é possível para Deus”.   

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Jo. 21, 14-25:

1. Cap. 21, V. 18. Profecia sobre o gênero de martírio que Pedro haveria de enfrentar: a crucificação.
2. VV. 22-23. "eu quero...": o texto em grego é mais claro: "Se eu quiser que ele fique assim até que eu venha (i.e. até o fim do mundo) que tens tu com isso?". Jesus recusa responder a essa pergunta de curiosidade, afirmando seu poder sobre o destino de cada um e ao qual nos devemos confrontar.
3. VV. 24-25. Estes versículos poderiam ser atribuídos a algum discípulo ou discípulos do Evangelista, mas bem podem ser do próprio João que, após ter acrescentado este apêndice, quer colocar em seus escritos um ponto final, desta vez definitivo, pois se quisesse escrever tudo sobre Jesus não acabaria mais, o que expressa pela "hipérbole nem o mundo inteiro poderia conter", justificando-se assim de suas omissões.   

Gl. 6, 11-18:

1. Cap. 6, V. 11. "Vede...": o grego diz: "Vede com que grosseiras letras vos escreve minha própria mão". Interrompe aqui o ditado para, de próprio punho, escrever a assinatura e uma saudação final.
2. V. 15. "Nova criatura": a graça santificante transforma a mente, o coração e as ações do homem.
3. V. 16. "Israel de Deus": i.e. a Igreja, constituída pelos verdadeiros israelitas de Deus que o são pela fé e participação na promessa, e não israelitas segundo a carne. 
4. V. 17. "as marcas...": as cicatrizes do maus tratos recebidos atestam sua fidelidade a Jesus Cristo.   

Lc. 18, 18-27:

1. Cap. 18, V. 25: (cf. Mt. 19, 24) Afirma Jesus com essa comparação, que ainda é proverbial no oriente, a impossibilidade que tem um rico de se salvar, em razão do afeto que naturalmente dedicará a suas riquezas, e assim o entenderam os discípulos. Jesus não os corrigiu, mas o confirmou completando: é impossível aos homens, mas não a Deus. De que modo? Já o havia proclamado Jesus: "Bem-aventurados os pobres de coração...", i.e., o rico deve fazer-se pobre, pelo menos de coração, desapegando-se de suas riquezas. O fazer-se pobre de fato é apenas conselho para uma vida mais perfeita, mas não é obrigatório para todos. 

Mons. José Castro Pinto. Notas in: Bíblia Sagrada,

Novo Testamento. Barsa: 1967, pp. 18, 99 e 169.

* Leituras conforme o Typikon do Patriarcado Ecumênico (Τυπικὸν τῆς Μεγάλης τοῦ Χριστοῦ ᾽Εκκλησίας): Typikon 24-nov-2013.