Terça-feira, 25 de março
ANUNCIAÇÃO DA SANTÍSSIMA MÃE DE DEUS
E SEMPRE VIRGEM MARIA
E SEMPRE VIRGEM MARIA
(MATINAS: Lc. 1, 39-49, 56 | LITURGIA: Hb. 2, 11-18 e Lc. 1, 24-38)*
Quem entrar numa Igreja Ortodoxa ou greco-católica notará
sempre nas portas centrais da Iconostase o ícone representando a cena da
Anunciação: numa folha da porta está o anjo Gabriel e na outra a Virgem. Às
vezes a dimensão da cena pode até estar reduzida, mas sempre o “início da salvação” é posto
iconograficamente em posição de destaque e a mesma porta parece sugerir a ideia
do ingresso de Deus na humanidade, ao encarnar-se no seio da Virgem Maria.
Cristãos
do Oriente e do Ocidente celebram, habitualmente juntos, a festa da Anunciação
do Senhor, no dia 25 de março. Porém, enquanto os católicos romanos, tendo em
conta o período litúrgico, por vezes transferem a data da festa, os fiéis de
tradição constantinopolitana celebram-na exatamente nesse dia, querendo
respeitar os nove meses exatos em relação à data do Natal de Cristo, mesmo que
esse dia tivesse de cair na Semana Santa.
Tropário da
Anunciação (4º Tom).
“Hoje é o prelúdio da
nossa Salvação e a manifestação do Mistério preparado desde a eternidade: o
Filho de Deus torna-se Filho da Virgem e Gabriel anuncia a graça. Por isso, com
ele clamamos à Mãe de Deus: Salve, ó Cheia de Graça, o Senhor é contigo!”
Assim o
tropário principal da festa resume o evento da encarnação de nosso Senhor Jesus
Cristo e merece deter-se na expressão “cheia
de graça” que, no grego [Κεχαριτωμένη],
como no eslavo [rus. Благодатная],
é formada por uma única palavra, como que um novo nome caracterizando a Virgem
de Nazaré que se torna a Mãe de Deus e que inúmeras vezes se faz presente nos
textos dos Ofícios do dia. Quase sempre a data cai durante a Quaresma, por isso
há somente um dia de pré-festa e a celebração se conclui à tarde do mesmo dia
25, ao passo que, no dia 26, se lembra, conforme o costume bizantino, de
comemorar no dia seguinte, o segundo protagonista da festa, o arcanjo
Gabriel. O tropário da véspera convida à exultação:
Tropário da vigília
da Anunciação (4º tom).
“Hoje é o prelúdio da
alegria universal. Com júbilo celebremos a pré-festa, pois Gabriel com espanto
e temor se aproxima da Virgem para anunciar-lhe a boa nova: Ave, ó cheia de
graça, o Senhor é contigo!"
Sabe-se que a palavra do original grego habitualmente traduzida por “Salve” ou “Ave”
[Χαῖρε],
literalmente significa “alegra-te” e
essa versão foi conservada no texto eslavo eclesiástico [rus. Радуйся]. Toda a celebração
é rica de expressões poéticas em que se aprofunda a reflexão teológica sobre o
grande mistério da encarnação da Palavra: Maria é saudada como “sarça incombusta”, “abismo insondável”, “ponte
que conduz aos céus e escada que ali se eleva, como Jacó a contemplou”, “nova Eva que desfez a maldição e chamamento
de Adão”, “receptáculo do ser que
nenhum outro pôde conter”. Nas Vésperas se fazem cinco leituras bíblicas
tiradas do Antigo Testamento: Gênesis (escada de Jacó), Êxodo (sarça ardente),
Provérbios (“A Sabedoria construiu para
si uma casa” e “O Senhor me possuiu
desde o começo”) e Ezequiel (a porta pela qual o Eterno passará e que
depois permanecerá fechada). Lá pelo fim há uma composição hinográfica de André
de Jerusalém († 740) que é uma
síntese dos temas e o tom da festa:
“Hoje é o ledo anúncio
da alegria, triunfo da Virgem; as coisas aqui debaixo se harmonizam com as de
cima; Adão foi renovado e Eva libertada da tristeza primitiva; o tabernáculo da
nossa mesma natureza, com a divinização da substância assumida, foi consagrado
Templo de Deus.
Ó
Mistério! Incompreensível é a maneira desse rebaixamento, inefável a maneira
dessa concepção. Um anjo se encarrega dessa missão prodigiosa; um regaço
virginal acolhe o Filho; o Espírito Santo é enviado do alto; o Pai, nos
céus, se compraz e a união acontece por vontade comum. Salvos nele e por ele,
unamos as nossas vozes à de Gabriel e gritemos à Virgem: Ave, ó cheia de graça,
da qual veio a salvação, Cristo, nosso Deus, que, tendo assumido a nossa
natureza, a elevou à altura da sua. Roga-lhe para que salve nossas almas!”
Uma
particularidade do Cânon do ofício matinal desse dia é a forma dialogal com o
qual foi composto. As estrofes se alternam entre o diálogo da Mãe de Deus e o
diálogo em que o anjo fala. As seis primeiras Odes são de autoria de São Teófano,
bispo de Nicéia († 845) e as outras
três têm como autor São João Damasceno. A cada estrofe-tropário repete-se a
invocação: “Santíssima Mãe de Deus,
salva-nos!”
Também
através de perguntas, hesitações, respostas de esclarecimento, o Ofício do dia
confirma aquilo que o conhecido teólogo bizantino, leigo, Nicolau Cabásilas,
afirmava a respeito da Anunciação: “A
encarnação, não foi somente obra do Pai, da sua potência e do seu
Espírito; mas foi também obra da vontade e da fé da Virgem”, a qual, num
hino das Vésperas, depois que o anjo lhe tinha lembrado que “quando Deus quer, a ordem da natureza é
vencida e obras prodigiosas são realizadas”, assim exclama:
“Faça-se em mim segundo
a tua palavra: porei ao mundo aquele que não tem corpo e que de mim tomará
carne, para reconduzir o homem à sua primitiva dignidade, pois somente ele pode
fazê-lo, mediante esta união.”
O
evento que celebramos no dia 25 de março aconteceu em Nazaré, no Oriente. É
compreensível, pois, que tal festa tenha começado a ser celebrada ali. Foi
introduzida em Roma, posteriormente, pelo papa Sérgio I, já por nós citado, um
siciliano de origem síria e de cultura grega.
O
belíssimo hino Acatisto, em honra à Mãe de Deus, tão apreciado pela
piedade popular bizantina há cerca de treze séculos, e que agora começa a ser
conhecido também no Ocidente, está presente em diversos trechos do Ofício da
festa, como, por exemplo, no proêmio que precede as vinte e quatro estrofes do
hino, ou no Kondákion (8º tom) cujo texto transcrevemos em seguida:
Kondákion da
Anunciação (8º tom)
“Nós, teus servos, ó
Mãe de Deus, te conferimos os lauréis da vitória, penhor de nossa gratidão,
como a um general que combateu por nós e nos salvou de terríveis calamidades.
E, como tens um poder invencível, livra-nos dos perigos de toda espécie para
que te aclamemos: Salve, Virgem Imaculada!”
Para concluir, eis a reflexão de Pavel Florensky, sacerdote ortodoxo russo – gênio poliédrico ao qual a mesma Enciclopédia soviética dedicou três colunas – falecido num lager nos anos Quarenta: “O momento da Anunciação, no qual a criação, na pessoa da Mãe de Deus, acolhe a divindade em si mesma, contém toda a eternidade e, nesta, toda a plenitude dos tempos. A festa da Anunciação, do ponto de vista cósmico, celebra-se no equinócio da primavera... Como nesse equinócio está incluída em germe toda a plenitude do ano cósmico, assim a Anunciação contém, como o botão de uma flor, a plenitude do ano eclesiástico. Pois bem, o ano cósmico e o ano eclesiástico são figuras do ano ontológico, isto é, o ano ou a plenitude dos tempos e das pausas de toda a história mundial. Esta está contida inteiramente na Virgem Maria, e a Virgem Maria se expressa por completo no momento da anunciação.”
Madre Maria DONADEO.
O Ano Litúrgico Bizantino. Ed. Ave Maria: 2008.
Tom da semana: 6º Tom
† MATINAS
A visitação
(Lc. 1, 39-49, 56)
(Lc. 1, 39-49, 56)
Naqueles dias, Maria se pôs a caminho e foi apressadamente às montanhas para uma cidade de Judá. Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel. Aconteceu que, mal Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança saltou em seu ventre; e Isabel, cheia do Espírito Santo, exclamou em voz alta: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre! Donde me vem a honra que a mãe do meu Senhor venha a mim? Pois quando soou em meus ouvidos a voz de tua saudação, a criança saltou de alegria em meu ventre. Feliz é aquela que teve fé no cumprimento do que lhe foi dito da parte do Senhor”. Então Maria disse: “Minha alma engrandece o Senhor e rejubila meu espírito em Deus, meu Salvador, porque olhou para a humildade de sua serva. Eis que de agora em diante me chamarão feliz todas as gerações, porque o Poderoso fez por mim grandes coisas: O seu nome é santo."
Maria ficou com Isabel uns três meses e voltou para casa.
Maria ficou com Isabel uns três meses e voltou para casa.
† DIVINA LITURGIA
Tropário da Anunciação da Mãe de Deus (4º Tom)
Ευαγγελισμός της Υπεραγίας Θεοτόκου
Σήμερον τῆς σωτηρίας ἡμῶν τό Κεφάλαιον, καί τοῦ ἀπ᾽ αἰῶνος Μυστηρίου ἡ φανέρωσις· ὁ Υἱός τοῦ Θεοῦ, Υἱός τῆς Παρθένου γίνεται, καί Γαβριήλ τὴν χάριν εὐαγγελίζεται. Διό καὶ ἡμεῖς σὺν αὐτῷ τῇ Θεοτόκῳ βοήσωμεν· Χαῖρε Κεχαριτωμένη, ὁ Κύριος μετὰ σοῦ.
Hoje é o prelúdio da nossa Salvação e a manifestação do Mistério preparado desde a eternidade: o Filho de Deus torna-se Filho da Virgem e Gabriel anuncia a graça. Por isso, com ele clamamos à Mãe de Deus: Salve, ó Cheia de Graça, o Senhor é contigo!
Kondákion da Anunciação da Mãe de Deus (8º Tom)
Τῇ ὑπερμάχῳ στρατηγῷ τά νικητήρια, ὡς λυτρωθεῖσα τῶν δεινῶν εὐχαριστήρια, ἀναγράφω σοι ἡ Πόλις σου Θεοτόκε. Ἀλλ᾽ ὡς ἔχουσα τό κράτος ἀπροσμάχητον, ἐκ παντοίων με κινδύνων ἐλευθέρωσον, ἵνα κράζω σοι· Χαῖρε νύμφη ἀνύμφευτε.
Nós, teus servos, ó Mãe de Deus, te conferimos os lauréis da vitória, penhor de nossa gratidão, como a um general que combateu por nós e nos salvou de terríveis calamidades. E, como tens um poder invencível, livra-nos dos perigos de toda espécie para que te aclamemos: Salve, Virgem Imaculada!
† DIVINA LITURGIA
Tropário da Anunciação da Mãe de Deus (4º Tom)
Ευαγγελισμός της Υπεραγίας Θεοτόκου
Tropário da Anunciação da Mãe de Deus (4º Tom)
Ευαγγελισμός της Υπεραγίας Θεοτόκου
Σήμερον τῆς σωτηρίας ἡμῶν τό Κεφάλαιον, καί τοῦ ἀπ᾽ αἰῶνος Μυστηρίου ἡ φανέρωσις· ὁ Υἱός τοῦ Θεοῦ, Υἱός τῆς Παρθένου γίνεται, καί Γαβριήλ τὴν χάριν εὐαγγελίζεται. Διό καὶ ἡμεῖς σὺν αὐτῷ τῇ Θεοτόκῳ βοήσωμεν· Χαῖρε Κεχαριτωμένη, ὁ Κύριος μετὰ σοῦ.
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Hoje é o prelúdio da nossa Salvação e a manifestação do Mistério preparado desde a eternidade: o Filho de Deus torna-se Filho da Virgem e Gabriel anuncia a graça. Por isso, com ele clamamos à Mãe de Deus: Salve, ó Cheia de Graça, o Senhor é contigo!
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Kondákion da Anunciação da Mãe de Deus (8º Tom)
Τῇ ὑπερμάχῳ στρατηγῷ τά νικητήρια, ὡς λυτρωθεῖσα τῶν δεινῶν εὐχαριστήρια, ἀναγράφω σοι ἡ Πόλις σου Θεοτόκε. Ἀλλ᾽ ὡς ἔχουσα τό κράτος ἀπροσμάχητον, ἐκ παντοίων με κινδύνων ἐλευθέρωσον, ἵνα κράζω σοι· Χαῖρε νύμφη ἀνύμφευτε.
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Nós, teus servos, ó Mãe de Deus, te conferimos os lauréis da vitória, penhor de nossa gratidão, como a um general que combateu por nós e nos salvou de terríveis calamidades. E, como tens um poder invencível, livra-nos dos perigos de toda espécie para que te aclamemos: Salve, Virgem Imaculada!
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Cristo, nosso irmão e Salvador
(Hb. 2, 11-18)
Irmãos, todos, tanto quem santifica, como os santificados, vêm de um só e ele não se envergonha de chamá-los irmãos, dizendo: "Anunciarei teu nome a meus irmãos, no meio da assembléia te louvarei." E depois: "Porei nele minha confiança." E ainda: "Eis-me aqui, eu e os filhos que Deus me deu." Pois assim como os filhos participam do sangue e da carne, de igual maneira ele os assumiu para destruir pela morte aquele que tinha o império da morte, isto é, o diabo, e livrar aqueles que pelo temor da morte estavam a vida toda sujeitos à escravidão. Pois, como é sabido, ele não deu a mão aos anjos mas à descendência de Abraão. Por isso era preciso que em tudo Ele estivesse solidário com os seus irmãos, para vir a ser um sumo sacerdote misericordioso e fiel nas coisas de Deus, para expiar os pecados do povo. Porque Ele mesmo padeceu sendo tentado, por isso é que pode ajudar os tentados.
EVANGELHO SEGUNDO SÃO LUCAS
Anunciação do Messias
(Lc. 1, 24-38)No sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado da parte de Deus para uma cidade da Galileia, chamada Nazaré, a uma virgem, prometida em casamento a um homem, chamado José, da casa de Davi. O nome da virgem era Maria.
Entrando onde ela estava, o anjo lhe disse: “Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo!” Ao ouvir as palavras, ela se perturbou e refletia no que poderia significar a saudação. Mas o anjo lhe falou: “Não tenhas medo, Maria, porque encontraste graça diante de Deus. Eis que conceberás e darás à luz um filho e lhe porás o nome de Jesus. Ele será grande e será chamado Filho do Altíssimo. O Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai. Ele reinará na casa de Jacó pelos séculos e seu reino não terá fim”.
Maria perguntou ao anjo: “Como acontecerá isso, pois não conheço homem?” Em resposta o anjo lhe disse: “O Espírito Santo virá sobre ti e o poder do Altíssimo te cobrirá com sua sombra; é por isso que o menino santo que vai nascer será chamado Filho de Deus. Até Isabel, tua parenta, concebeu um filho em sua velhice, e este é o sexto mês daquela que era considerada estéril, porque para Deus nada é impossível”.
Disse então Maria: “Eis aqui a serva do Senhor. Aconteça comigo segundo tua palavra!” E dela se afastou o anjo.
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Lc. 1, 39-49, 56:
- Cap. 1, VV. 41-45. Isabel, inspirada por Deus, elogia Maria, assim também quando [os cristãos] lhe tecem louvores estão imitando Isabel no momento em que estava inspirada.
- VV. 46-49. Maria, extasiada pelo recordação de tanta bondade de Deus, Lhe ergue este hino de louvor pela sua grandeza e bondade. Com expressões calcadas nos livros sagrados, que devia conhecer bem, agradece a Deus a maravilha da Encarnação (46-49). A profecia: "Eis que de agora em diante me chamarão feliz todas as gerações", que se tem perfeitamente cumprido através dos séculos, prova que Maria também estava inspirada por Deus.
- Cap. 2, V. 12: Sl. 21 (22), 23.
- V. 13. 2Sam. 22,3; Sl. 17 (18),3; Is. 8,18.
- V. 14. "carne e sangue (comum)": tiveram a mesma natureza humana.
Mons. José Castro Pinto. Notas in: Bíblia Sagrada,
Novo Testamento. Barsa: 1967, pp. 49, 199.
Novo Testamento. Barsa: 1967, pp. 49, 199.
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