12 novembro 2015

8º Domingo de Lucas


PATRIARCADO ECUMÊNICO DE CONSTANTINOPLA
Arquidiocese Ortodoxa Grega de Buenos Aires e América do Sul
Igreja Anunciação da Mãe de Deus
SGAN - Quadra 910 - Módulo ‘’B’’ - CEP: 70.790-100 - Brasília-DF
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Brasília, 15 de novembro de 2015.
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8º Domingo de Lucas

(24º depois de Pentecostes - Modo Grave)

Memória dos Santos Mártires e Confessores Gurias (Esl.: Gurij),
Samonas, e Abibus, de Edessa († 299-306).


Matinas

Tropário – Modo Grave - (7º tom):
Destruístes com a Tua Cruz a morte, abristes ao ladrão o paraíso, transformaste o luto das mirróforas e ordenaste, aos Teus Apóstolos pregarem que Tu ressuscitaste, ó Cristo Deus, dando ao mundo a grande misericórdia.
Glória ao Pai , ao Filho e ao Espírito Santo,

Destruístes com a Tua Cruz a morte, abristes ao ladrão o paraíso, transformaste o luto das mirróforas e ordenaste, aos Teus Apóstolos pregarem que Tu ressuscitaste, ó Cristo Deus, dando ao mundo a grande misericórdia.
Agora, sempre e pelos séculos dos séculos. Amém.

Theotokion:
Virgem gloriosa, tesouro de nossa ressurreição, arrancai dos abismos do pecado aqueles que colocam a sua esperança em Ti, pois salvaste os pecadores subjugados às suas faltas, Tu que destes nascimento à nossa salvação, Tu que permanecestes virgem no parto, durante o parto e após o parto.

Katisma – Modo Grave - (7º tom):
1ª Katisma:
A vida foi posta no sepulcro e o selo sobre a pedra. Os soldados custodiaram a Cristo como ao rei que dorme; os anjos o glorificaram como rei imortal; e as mulheres proclamaram dizendo: “Ressuscitou o Senhor dando ao mundo grande misericórdia!”
Glória ao Pai , ao Filho e ao Espírito Santo.

Oh Cristo Deus, derrotaste a morte com a Tua sepultura de três dias, e Ressuscitaste, com Tua vivificadora Ressureição, o homem corrompido. Glória a Ti, oh Único amante da humanidade.
Agora, sempre e pelos séculos dos séculos. Amém.

Theotokion:
Oh Virgem Mãe de Deus, intercede sem cessar ante Cristo Deus, quem por nós foi crucificado e ressuscitou destruindo o poder da morte para salvar nossas almas.

2ª Katisma:
Estando selado o sepulcro ressurgiste resplandecente, oh Vida! E estando as portas cerradas vieste a teus Discípulos, oh Cristo Deus, ressureição de todos, e com eles nos renovaste o Espírito reto conforme a grande misericórdia.
Glória ao Pai , ao Filho e ao Espirito Santo.

As mulheres correram a teu sepulcro levando aromas mesclados com lágrimas; e ao ver os soldados vigiando, oh Rei de todos, disseram entre si: “Quem removerá a pedra?” Mas o grande enviado Ressuscitou, pisoteando a morte. Onipotente Senhor, glória a Ti!
Agora, sempre e pelos séculos dos séculos. Amém!

Theotokion:
Alegra-te, oh Virgem Mãe de Deus cheia de graça, porto e intercessora do gênero humano, porque em ti encarnou o Salvador do mundo, sendo tu única Mãe e Virgem. Intercede a Cristo nosso Deus, para que conceda a paz ao mundo, oh Bendita e para sempre glorificada.

Ypakoí – Modo Grave- (7º tom):
Obediência:
Tu que tomaste nossa imagem e semelhança e que suportaste a crucificação em seu corpo, salva-me com Tua ressureição, oh Cristo Deus, porque és amante da humanidade.

Anabtmo:
1ª Antífona:
Oh Salvador, Tu que salvaste a Sion do engano durante o exílio, salva-me da escravidão das paixões e reviva-me.
O semeador, que em sua semeadura padece e derrama lágrimas, colherá a alegria vivificante que sempre alimenta.
Glória ao Pai , ao Filho e ao Espírito Santo, agora, sempre e pelos séculos dos séculos. Amém.
O Espírito Santo é a fonte dos tesouros divinos, porque dele é a sabedoria, o respeito e o entendimento. Para Ele o louvor, a glória, a força e toda honra.

2ª Antífona:
Se o Senhor não construísse a casa da alma, em vão nos cansaríamos porque sem ele jamais se realizará o dito feito.
Os Santos são a recompensa do fruto do ventre, e amadurecem em quanto o Espírito os move a crer na adoção paternal.

Glória ao Pai , ao Filho e ao Espírito Santo, agora, sempre e pelos séculos dos séculos. Amém.

Pelo Espírito Santo se deu existência a toda criação, porque ele tem o senhorio desde sempre. Ele é a Luz inacessível, Deus é vida de todos.

3ª Antífona:
Os que temem ao Senhor são sempre bem aventurados, pois encontraram o caminho da vida e a glória eterna.

O Chefe dos pastores, quando viu os filhos de seus filhos como plantas ao redor de Sua mesa, alegrou-se, regozijou-se e ofereceu-os à Cristo.

Glória ao Pai , ao Filho e ao Espírito Santo, agora, sempre e pelos séculos dos séculos. Amém.

O Espírito Santo é a fonte dos dons, a riqueza da glória, e o fundamento dos grandes mandamentos; por isso é adorado juntamente com o Pai e o Filho na glória.

Prokimenon:
Levanta-te, Senhor e Deus meu, estende Tua mão!
Não Te esqueça de Teus pobres para sempre! (2 vezes).

Stichos:
Te confesso, Senhor, como todo o meu coração.
Levanta-te, Senhor e Deus meu, estende Tua mão! Não Te esqueça de Teus para sempre!

Kondakion – Modo Grave - (7º tom):
O império da morte não pode mais reter os homens, porque o Cristo para quebrar e destruir seu poder.
O inferno está acorrentado, o coro dos profetas se rejubila. Dizei aos fiéis: Eis o Salvador, saí à frente da ressurreição.

Ikós:
Neste dia, as profundezas do abismo do inferno tremeram diante da Unidade da Trindade.
A terra estremeceu, os guardas das portas infernais permaneceram terrificados ao vê-lo.
E toda a criação se rejubilou, cantando com os profetas um cântico de vitória a Ti, nosso Deus libertador, que destruíste as forças da morte.
Possamos clamar de alegria e bradar a Adão e seus filhos: O madeiro da cruz te fez entrar no paraíso, saí fiéis à frente da ressurreição.



Evangelho:                                                                                         Mt 16, 1-8
Evangelho de Nosso Senhor Jesus  Cristo, segundo o Evangelista São Mateus.

Naquele tempo, os onze discípulos partiram para a Galiléia, para o monte que Jesus lhes tinha designado. E, quando o viram, o adoraram; mas alguns duvidaram. E, chegando-se Jesus, falou-lhes, dizendo: É-me dado todo o poder no céu e na terra. Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. Amém.

Exapostilário – 2º:
As portadoras de mirra quando viram a pedra removida e um jovem sentado no túmulo, se alegraram ao ouvi-lo dizer: “O Cristo ressuscitou; ide, pois, dizer a seus discípulos e a Pedro para irem ao monte da Galiléia, pois, lá, Ele apascentará a todos os seus amados como prometera”.

Theotokion – 2º:
Um anjo de paz apareceu à Virgem antes de ficar grávida de Ti, ó Cristo. Também um anjo removeu a pedra do túmulo. O primeiro anunciou a indescritível alegria em troca da tristeza.
O segundo anunciou aos Teus eleitos e às mulheres a Tua ressurreição dentre os mortos, louvando-Te, ó doador da vida.

Laudes - Modo Grave - (7º tom):
1 – Esta glória será para todos os Justos.
Cristo ressuscitou dentre os mortos rompendo as cadeias da morte. Anuncia, oh Terra, a grande alegria, e louvem, oh céus, a glória de Deus.

2 – Louvai a Deus em seu santuário, louvai na magnificência de seu firmamento!
Vimos a ressurreição de Cristo, prosternemo-nos ante o Santo Senhor Jesus, Ele o único isento de pecado.

3 – Louvai por suas proezas, louvai conforme Sua imensa grandeza!
Não sejamos tíbios em prosternamo-nos ante a ressurreição de Cristo, porque nos salvou de nossos pecados. Santo é o Senhor Jesus que nos mostrou Sua ressurreição.

4 – Louvai ao som da trombeta, louvai com saltério e a harpa!
Com que recompensaremos o Senhor por tudo que nos tem dado? Porque Deus, por nós, convivem com os humanos, e por nossa natureza corrupta o Verbo se fez carne e habitou entre nós. Ele é o Benfeitor dos ingratos e Salvador dos cativos. Sol da justiça para os que estão nas trevas. Ele impassível sobre a Cruz. A luz no Hades, a Vida na morte, e a ressurreição para os caídos. Por isso clamamos: oh Deus nosso glória a Ti.

5 – Louvai com pandeiro e a dança; louvai com cordas e flautas!
Senhor, destruíste as portas do Hades e, com Teu poder, acabaste com a força da morte. Com Tua divina e gloriosa ressurreição levantaste os mortos, que estavam na obscuridade desde o princípio, porque és Rei de todos, Deus Todo-poderoso.

6 – Louvai com címbalos retumbantes; louvai com címbalos de júbilo. Tudo que respira louve ao Senhor!
Vinde, alegramo-nos com o Senhor e regozijemo-nos com Sua ressurreição, porque com Ele ressuscitou os mortos livrando-os das cadeias do Hades, e com Deus outorgou ao mundo a Vida eterna e a grande misericórdia.

7 – Levanta-Te, Senhor meu e Deus meu, que tua mão se levante e não te esqueças para sempre de Teus pobres.
O Anjo brilhante, sentado sobre a pedra, anunciou às Mirróforas: “O Senhor ressuscitou como havia predito, dando ao mundo a grande misericórdia. Anunciai aos Seus Discípulos que Ele os precederá na Galileia”.

8 – Te confesso, Senhor, como todo meu coração e proclamo todos teus milagres.
Oh judeus transgressores, porque recusaste a Pedra Angular? Esta é a Pedra que Deus pôs em Sion, que fez brotar a água da pedra e que fez brotar do seu lado a imortalidade. Esta é a pedra que foi cortada da montanha virginal, sem a vontade do homem. O Filho do Homem veio sobre as nuvens do céu, como disse Daniel na antiguidade, e seu reino é eterno.

Eothinon – 2º:
Glória ao Pai , ao Filho e ao Espírito Santo.
As mulheres que estavam com Maria e levaram aromas ficaram satisfeitas por terem conseguido o seu desejo de ir ao Sepulcro; ficaram espantadas quando viram a pedra do túmulo rolar; um divino jovem acalmou a perturbação de suas almas, dizendo: “O Cristo Deus já ressuscitou e anunciai aos discípulos para irem a Galiléia, para vê-Lo ressuscitado, porque Ele, o Senhor, é o doador da vida”.

Theotokion:
Agora, sempre e pelos séculos dos séculos. Amém.
Bendita e venerável és Tu, ó Mãe de Deus, em cujo seio se encarnou Aquele que visitou o inferno, libertando Adão e Eva da maldição, destruindo a morte e dando a vida a todos nós.
Por isso bendirei o Cristo em qualquer tempo, e sempre o Seu louvor estará em minha boca (2 vezes).

Hoje é a salvação do mundo. Louvemos Aquele que ressuscitou do túmulo, dando-nos origem a uma nova vida, porque anulou a morte com a Sua morte e nos concedeu a misericórdia de obter essa grande vitória.


Divina Liturgia

Anunciação - Modo 4:
É hoje o começo da nossa salvação e a manifestação do mistério eterno.
O Filho de Deus torna-Se Filho da Virgem e Gabriel anuncia a graça.
Por isso, cantamos com ele à Mãe de Deus:
“Salve, ó cheia de graça, o Senhor está contigo!”

Tropário da Ressurreição – Modo Grave - (7º tom):
Destruístes com a Tua Cruz a morte, abristes ao ladrão o paraíso, transformaste o luto das mirróforas e ordenaste, aos Teus Apóstolos pregarem que Tu ressuscitaste, ó Cristo Deus, dando ao mundo a grande misericórdia.

Tropário da Festa - Modo 3:
Santo Apóstolo e Evangelista Mateus, suplica a Deus misericordioso que conceda às nossas almas o perdão dos pecados.

Kondakion – Modo Grave - (7º tom):
Glória ao Pai , ao Filho e ao Espírito Santo.
O domínio da morte já não pode submeter o homem pois Cristo, descendo, aboliu e destruiu o seu poder, o Hades está vencido, e os profetas se alegram, clamando em uníssono: "O Salvador apareceu àqueles que têm fé! Corram, fiéis, para a Ressurreição!"

Theotokion – Modo Grave - (7º tom):
Agora, sempre e pelos séculos dos séculos. Amém
Como templo da nossa ressurreição, ó Toda-gloriosa retira do túmulo e da desolação aqueles que esperam em ti, tu nos salvaste da escravidão do pecado, gerando a nossa Salvação, permanecendo sempre virgem.

Hino à Mãe de Deus:
Ó Admirável e Protetora dos cristãos e nossa Medianeira do Criador não desprezes as súplicas de nenhum de nós pecadores, mas apressa-te em auxiliar-nos como Mãe bondosa que és, pois te invocamos com fé: roga por nós junto de Deus, tu que defendes sempre aqueles que te veneram.

Prokimenon:
O Senhor dará poder a seu povo O Senhor abençoará seu povo com a paz.
Oferecei ao Senhor, ó filhos de Deus, oferecei ao Senhor tenros cordeiros.

Epístola:                                                                                             Ef 1, 14-22
Leitura da Primeira Epístola do Apostolo São Paulo aos Efésios:

Irmãos, Cristo Jesus é a nossa paz, o qual de ambos os povos fez um; e, derrubando a parede de separação que estava no meio, na sua carne desfez a inimizade, isto é, a lei dos mandamentos, que consistia em ordenanças, para criar em si mesmo dos dois um novo homem, fazendo a paz, e pela cruz reconciliar ambos com Deus em um corpo, matando com ela as inimizades. E, vindo, ele evangelizou a paz, a vós que estáveis longe, e aos que estavam perto; porque por ele ambos temos acesso ao Pai em um mesmo Espírito. Assim que já não sois estrangeiros, nem forasteiros, mas concidadãos dos santos, e da família de Deus; edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina; no qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para templo santo no Senhor. No qual também vós juntamente sois edificados para morada de Deus em Espírito.

Aleluia!
Aleluia, aleluia, aleluia!

É bom exaltar o Senhor e cantar louvores ao teu Nome, ó Altíssimo (Sl 92, 1).
Aleluia, aleluia, aleluia!

Proclamar pela manhã o teu amor e a tua fidelidade pela noite (Sl 91, 2).
Aleluia, aleluia, aleluia!

Evangelho:                                                                             Lc 10, 25-37
Evangelho de Nosso Senhor Jesus  Cristo, segundo o Evangelista São Lucas:

Naquele tempo, [enquanto Jesus falava] levantou-se um doutor da lei e, para pô-lo à prova, perguntou: Mestre, que devo fazer para possuir a vida eterna? Disse-lhe Jesus: Que está escrito na lei? Como é que lês? Respondeu ele: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu pensamento (Dt 6,5); e a teu próximo como a ti mesmo (Lv 19,18). Falou-lhe Jesus: Respondeste bem; faze isto e viverás. Mas ele, querendo justificar-se, perguntou a Jesus: E quem é o meu próximo? Jesus então contou: Um homem descia de Jerusalém a Jericó, e caiu nas mãos de ladrões, que o despojaram; e depois de o terem maltratado com muitos ferimentos, retiraram-se, deixando-o meio morto. Por acaso desceu pelo mesmo caminho um sacerdote, viu-o e passou adiante. Igualmente um levita, chegando àquele lugar, viu-o e passou também adiante. Mas um samaritano que viajava, chegando àquele lugar, viu-o e moveu-se de compaixão. Aproximando-se, atou-lhe as feridas, deitando nelas azeite e vinho; colocou-o sobre a sua própria montaria e levou-o a uma hospedaria e tratou dele. No dia seguinte, tirou dois denários e deu-os ao hospedeiro, dizendo-lhe: Trata dele e, quanto gastares a mais, na volta to pagarei. Qual destes três parece ter sido o próximo daquele que caiu nas mãos dos ladrões? Respondeu o doutor: Aquele que usou de misericórdia para com ele. Então Jesus lhe disse: Vai, e faze tu o mesmo.

Kinonikón:
Caminharemos, Senhor, na luz da glória de tua face pelos séculos.
Aleluia, aleluia, aleluia!


SINAXE

O Bom Samaritano

No Novo Testamento, samaritano é o nome dado aos habitantes do distrito de Samaria; mas o nome tem profundos matizes religiosos. Para os judeus, os Samaritanos eram um grupo herético e cismático e por isso, eram repudiados e odiados mais do que os pagãos. A origem do cisma entre judeus e samaritanos se aprofunda na primitiva história israelita. Os judeus que se estabeleceram em Jerusalém após o Edito de Ciro (538 a.C) não consideravam a comunidade que habitava no distrito de Samaria, e antigo centro de Israel, como verdadeiros israelitas. Eles eram descendentes de uma população mista de assírios e mesopotâmicos. Essas populações tinham introduzido na terra de Israel o culto a seus próprios deuses.

Essas crenças estrangeiras parecem que não sobreviveram, pois entre as inúmeras agressões por parte dos judeus aos samaritanos, não encontramos acusações que mostrem que os samaritanos adorassem deuses estrangeiros.

Quando a comunidade judaica iniciou a reconstrução do Templo em Jerusalém, os samaritanos quiseram se unir para tal tarefa, mas foram repelidos violentamente. Várias vezes, os samaritanos questionaram a forma que os judeus se utilizavam para reconstruir o Templo. A rixa entre os judeus e samaritanos não se limitava ao campo sócio religioso, tinha raízes políticas, igualmente. As diferenças políticas, sociais e as disputas de poder minavam as relações de convívio. Como era impossível unir-se para a reconstrução do Templo, os samaritanos construíram para seu povo um novo templo na cidade de Garizim. A partir deste fato então, o cisma entre essas dois povos tornou-se aberto e definitivo, chegando a ponto de os samaritanos atacarem os peregrinos que por sua aldeia passavam a caminho do templo de Jerusalém ou quando de lá retornavam.

A hostilidade entre os judeus e samaritanos emerge diversas vezes na Bíblia. O Eclesiástico (50, 25-26) refere-se a eles como sendo ‘o povo louco’ que vivem em Siquém de “não-nação”. Alguns afirmam que a Jesus, certa vez, foi proferido um grave insulto quando o chamaram de ‘samaritano’ (Jo 8,48).

Lucas, no capítulo nove, narra que uma aldeia samaritana recusou hospitalidade a Jesus e a seus discípulos durante uma viagem da Judéia para Jerusalém. Também os discípulos de Jesus, ficaram escandalizados quando viram seu Mestre conversando com uma mulher samaritana, e, mais ainda, quando pediu-lhe água para saciar sua sede (Jo 4).

Jesus, por sua vez quis quebrar esta barreira que separava os filhos de Deus. Na cura dos dez leprosos elogiou a atitude de um samaritano que retornou do Templo para agradecer-lhe o milagre (Lc 17).

Este é o panorama sócio religioso, o pano de fundo político sobre o qual o Evangelho deste domingo é construído. Diagnosticamos assim o grau de exigência do amor que Jesus veio revelar. É o amor não puramente humano; é o amor divino, capaz de quebrar preconceitos históricos; o amor que lança seus ramos para além daquilo que imaginamos ser os nossos limites. Para ilustrar esta exigência e grandeza, Jesus responde à pergunta que um conhecedor da Lei o fez: “o que devo fazer para herdar vida eterna?” Jesus lhe cita os mandamentos do amor a Deus (Dt 6,5) e do amor ao próximo (Lv 19,18), coisas que o perito deveria saber! Tentando justificar sua pergunta, ele explica a Jesus que fez tal questionamento, não por desconhecer os mandamentos, mas porque existem dúvidas sobre quem é o "próximo". O Evangelista São Lucas situa esta narrativa em uma viagem que Jesus fez através da Samaria, e põe em relevo a problemática sócio cultural que ali se passava: a questão dos samaritanos.

Então Jesus conta uma história. Alguém desce a serra de Jerusalém em direção a Jericó, pela estrada que sai do Templo e atravessa as escarpas inóspitas do deserto de Judá. É assaltado, e os ladrões o deixam semimorto na beira da estrada. Passa um sacerdote de Jerusalém: desvia-se. Passa um levita do Templo: desvia-se. E passa um samaritano. Este se aproxima, cuida das feridas e leva o homem à hospedaria, dando ao dono uma provisão para que dele cuide nos próximos dias. E Jesus pergunta, mineiramente: "Quem é o próximo do homem que caiu nas mãos dos ladrões?" A resposta se impõe: "Aquele que usou de misericórdia para com o coitado". O senhor doutor poderia ter dito diretamente: o samaritano, mas tal palavra era difícil demais para sair de sua boca. De qualquer modo, teve de admitir, ainda que em termos indiretos, que o próximo era um samaritano.

O “próximo” não depende de origem, raça, instrução ou qualquer outro de nossos critérios de discriminação. Há quem seria “próximo” por natureza, como o sacerdote e o levita, mas não se comportam assim. Há quem é “inimigo” por natureza, como o samaritano, mas se torna próximo do judeu assaltado.

Assim como não existia ruptura mais profunda que a entre os judeus e samaritanos, sendo dissolvida pelo amor, da mesma forma, devemos nos deixar mover pelo amor para romper tudo o que nos possa separar. A amplitude e a profundidade da doutrina do amor de Jesus não podia exigir ato maior de um judeu: aceitar um samaritano como irmão. Sua doutrina continua a mesma, não se modificou em nada. Mesmo assim há, em tempos atuais, quem queira separações, divisões, rompimentos, distância entre os ‘perfeito’ e os pecadores, entre os ‘santos’ e os miseráveis entre os ‘puros’ e os maculados.

Não basta que conheçamos o que Deus quer de nós, é preciso concretizar; é preciso agir; é preciso viver.
“Filhinhos, nisto sabemos se conhecemos a Deus, se guardamos seus mandamentos. Aquele que guarda os mandamentos de Deus, nele o amor é verdadeiro e perfeito. Quem ama seu irmão permanece na luz. Não amemos com palavras nem com a língua, mas com obras e em verdade.” (I Jo)

Quem ama a Deus, não pode deixar de amar cada homem como a si próprio independente da situação, condição e exigência”.

São Máximo o Confessor (+680)

FONTE:
KONINGS, Johan. Descobrir a Bíblia a partir da Liturgia. São Paulo: Ed. Loyola. 1997
MACKENZE, John Dicionário Bíblico. São Paulo: Ed Paulinas, 1983.


15 de Novembro: Santos Gorias (Esl.: Gurij), Samonas e Habib, mártires (início do séc. IV)


Os santos Gorias e Samonas foram presos durante a perseguição de Diocleciano. Como eles se recusassem a render sacrifícios aos deuses pagãos, foram pendurados pelas mãos com pesos amarrados aos pés. Depois, passaram três dias no interior de um horrível calabouço, sem comer ou beber. Quando foram retirados de lá, Gorias estava agonizante. Samonas foi cruelmente torturado mais uma vez, mas permaneceu firme na fé. Ambos morreram decapitados. Mais tarde, um diácono de Edessa de nome Habib, escondeu-se durante a perseguição de Licínio, mas finalmente se entregou para também ganhar a coroa do martírio. O magistrado perante o qual compareceu, fez a tentativa de convencê-lo a abjurar a fé e, em troca, escapar com vida, mas Habib se recusou a isso, sendo por isso condenado à fogueira. Sua mãe e outros parentes acompanharam até o local da execução. Os carrascos deram permissão para que se desse o beijo da paz entre eles, antes de serem atirados às chamas. Os cristãos recolheram depois o corpo do mártir, que o fogo não havia consumido, e sepultaram-no num local próximo de seus companheiros e amigos Gorias e Samonas. As relíquias desses mártires estão conservadas num dos dois principais santuários de Edessa, na Síria.

Tradução e publicação no site ecclesia.com.br
com permissão de Ortodoxia.org
Trad.: Pe. André

09 de Novembro: São Nectário de Éguina, Metropolita de Pentápolis († 1920)




São Nectário: o Santo do afeto e do perdão

Não deixará, a Santa Igreja Ortodoxa de Cristo de gerar santos até o final dos tempos. A Igreja se rejubila pelos santos que se revelam em nossos dias, e hoje, em especial, pelo dulcíssimo néctar da vida virtuosa, o vaso precioso dos dons do Espírito Santo, o fiel e inspirado São Nectário, bispo de Pentápolis. Este homem santo nasceu em 1º de outubro de 1846, em Silibría da Trácia Oriental, recebendo o nome de Anastásio. Seus pais eram Demóstenes Kefalás e Maria. Sua mãe, Maria, era uma fiel devota, e quando Anastásio contava com apenas 5 anos de idade já lhe ensinara o Salmo 50. Quando o menino rezava este salmo, na altura de “ensinarei aos maus os teus caminhos”, ele repetia muitas vezes este versículo como previsse o que Deus lhe estava reservando para mais adiante. Por razões econômicas, concluindo a escola primária e o ciclo básico da escola secundária de sua cidade natal, com 14 anos de idade, mudou-se para Constantinopla, indo trabalhar no comércio de um parente seu, remunerado apenas com a comida e a habitação. Apesar das condições adversas, encontrou refúgio no estado que foi sua fiel companhia durante toda a sua vida. Os aforismos que julgava úteis para os clientes do comércio ele os escrevia nas embalagens do fumo que lhes vendia. Mais tarde, trabalhou como preceptor num estabelecimento de Constantinopla que pertencia ao Santo Sepulcro, e no qual seu tio exercia o cargo de reitor. Apreciava muito participar dos ofícios religiosos diários, e já sentia uma forte inclinação para a vida monástica.

Em 1868, com 20 anos de idade, deixou Constantinopla indo morar na Ilha de Quíos onde trabalhou como funcionário público e mestre de escola em Liti até 1873, ano em que ingressou no monastério Nea Moni. Após um tempo de noviciado que durou três anos, recebeu a tonsura monástica com o nome de Lázaro. No dia 15 de janeiro de 1877, data de aniversário de seu batismo, foi ordenado diácono pelo metropolita Gregório, de Quíos, recebendo o nome de Nectário. Em Quíos, concluiu a escola secundária, mas, por causa de um terremoto que aconteceu em 1881, viu-se obrigado a transferir-se para Atenas onde presta seus últimos exames na escola de Varvaquios como aluno livre e recebe seu diploma secundário.

Ainda em 1881 viaja para Alexandria, onde é recebido pelo Patriarca Sofrônio, que lhe recomenda estudar na universidade. Isso foi possível graças à ajuda econômica dos irmãos Joremis. Em 1822 ganhou uma bolsa da Fundação A. G. Papadakis. Em outubro de 1885 completou sua formação universitária, diplomado com qualificação de «bom».

Em 23 de março de 1886 foi ordenado presbítero pelo Patriarca Sofrônio de Alexandria. Em 16 de agosto deste mesmo ano foi promovido ao ofício de Grande Arquimandrita e confessor, sendo designado como legado patriarcal do Cairo (Egito). Trabalhou incansavelmente, sem parar e com muita abnegação e, por isso, a Igreja de Alexandria lhe conferiu o grau máximo do sacerdócio. Em 15 de janeiro de 1889 é ordenado Metropolita de Pentápolis, na Igreja de São Nicolau, do Cairo (restaurada mais tarde pelo santo), pelo Patriarca Sofrônio, pelo ex-metropolita Antônio de Corfú e pelo metropolita Porfírio de Sineo. Como metropolita, seguiu cumprindo as mesmas funções, agora, porém, sem nenhuma remuneração por conta da péssima situação econômica do Patriarcado.

Participou ativamente nas celebrações das bodas de ouro no episcopado do Patriarca, seu benfeitor e protetor, que mais adiante se tornaria seu perseguidor.

Recebeu com muita humildade o episcopado e é notável e digno de menção o que dizia ao Senhor em suas orações: «Senhor, porque me elevaste a um tão alto grau e dignidade? Eu só te pedi para poder estudar teologia na escola metropolitana. Desde a minha juventude te pedia para ser um simples trabalhador de tua divina Palavra, e Tu, Senhor, agora me provas com tantas coisas! Porém, eu me submeto, Senhor, à tua vontade, e te suplico que cultives em mim a humildade e as demais santas virtudes, da maneira como me conheces, e faz-me digno de viver todos os dias de minha vida de acordo com as palavras do bem-aventurado Paulo que dizia: ‘Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim’». E o Senhor ouviu as preces do humilde bispo. As virtudes deste santo foram divulgadas por todas as partes, e todo comentavam com admiração sobre aquele tesouro com o qual Deus os havia presenteado.

As maquinações do mal, porém, o diabo, não tardou em aparecer. Um grupo de clérigos ambiciosos que se envolveram no entorno do nonagenário patriarca, caluniaram o santo com acusações de que agitava os fiéis com o intento de usurpar o trono de Alexandria. Além disso, sugeriram que o justo Nectário teria incorrido em desregramento moral. Com tudo isso, conseguiram a remoção do santo bispo como legado patriarcal e só lhe era permitido receber alimentos da mesa comum, junto aos demais clérigos. Pouco tempo depois foi expulso do Egito com a alegação de que não havia se adaptado ao clima do Egito. Solicitou, em vão, uma audiência com o Patriarca. Isso deixou os fiéis muito aflitos, pois estavam sendo privado da presença do mais «simpático dos bispos e do melhor e mais ativo dos clérigos».


São Nectário aceitou com humildade esta injusta e amarga prova, agradecido ao Senhor, e partiu do Egito para Atenas em 1889, sem nenhum dinheiro e aflito, a procura de emprego para poder pagar o aluguel da casa que ocupava em Neápolis (Exarquia). Depois de muitos esforços conseguiu que o designassem como pregador na Ilha de Ebea. Em julho de 1893 foi transferido para o departamento de Ftiótida-Fokida, onde trabalhou incansavelmente durante seis meses, causando a todos ótimas impressões. Em março de 1894 foi designado como reitor da Escola Eclesiástica Rizarios, em Atenas. Ali ele se dedicou zelosamente ao trabalho para enraizar no zelo sacerdotal os seminaristas, visando assegurar o futuro ministerial de todos eles, para a reorganização do programa de estudos e para melhorar a dieta e os exercícios físicos dos estudantes. Conseguiu que lhe concedessem quatro bolsas de estudos por ano que destinou aos alunos provenientes da Ásia Menor. Ele, em pessoa, foi um exemplo vivo para os seminaristas. Deus especial ênfase à vida litúrgica, convertendo em centro litúrgico a Igreja de São Jorge de Rizarios, e toda a escola num instituto espiritual, convidando destacadas personagens da ciência para lá dar conferências. Sua oração era o fertilizante mais importante para o florescimento da escola. Paralelamente, exercia seu ministério litúrgico, a pregação, a confissão e a filantropia. Estabeleceu relações com o cura Planás e participava em vigílias na capela de Santo Eliseu onde cantavam dois famosos escritores da literatura moderna, Papadiamentis e Moraitidis.

Em julho de 1898 visitou pela primeira vez o Monte Athos lá permanecendo durante um mês inteiro visitando os monastérios mais importantes. Conheceu, em particular, o Ancião Daniel com quem manteve uma longa amizade. Fez também amizades com Abba Jerônimo Simonopetritis que mais tarde sucedeu a São Savas de Kalimnos na direção espiritual do monastério de Éguina. No verão seguinte, agosto de 1898, viajou para Constantinopla e à sua terra natal, Silibría. Teve a oportunidade de venerar a imagem da Virgem de Silibría e a sepultura de seus pais. Em 1904 tornou realidade seu desejo de criar uma comunidade monástica feminina que, inicialmente, era constituída por quatro irmãs. O santo não deixou nunca de guiá-las espiritualmente e de sustentá-las, moral e economicamente. Em 17 de fevereiro de 1908 apresentou sua renúncia da direção da escola de Rizarios por razões de enfermidades. Dali em diante se consagrou à direção das monjas e à construção do monastério em Éguina, ao estudo da Sagrada Escritura e à ajuda espiritual e econômica aos pobres habitantes da ilha. As provações, porém, não haviam terminado. Por diversas razões o reconhecimento canônico do monastério só aconteceu depois de sua morte. Além disso, foi injustamente acusado de imoralidades pela mãe de uma jovem que chegou ao monastério para tornar-se monja. Todas estas provações ele as relevava com absoluta confiança em Deus e, não por acaso, uma de suas tarefas favoritas era confeccionar pequenas cruzes nas quais escrevia: «Cruz, parte de minha vida».

A saúde do santo foi sempre frágil e, no início do ano de 1919, uma infecção na próstata tornou seu estado ainda pior. A pedido das monjas foi internado no dia 20 de setembro no Hospital Areteio de Atenas onde permaneceu internado durante cinquenta dias. No domingo, 08 de novembro de 1905, próximo da meia noite, entregou, pleno da paz celestial, sua ditosa alma nas mãos do Deus vivo a quem amava desde a sua juventude e a quem glorificou ao longo de toda a sua vida, até a ida de 74 anos. Dos restos mortais do pobre santo exalavam um aroma de celestial fragrância. Nesse mesmo dia seu corpo foi levado a Éguina, para seu pequeno monastério onde se deu o ofício fúnebre e foi sepultado em meio a uma grande afluência de clero e de povo. Sua sepultura foi repetidamente aberta nos anos seguintes e, depois de mais de 20 anos, seu corpo encontrava-se ainda intacto e incorrupto, exalando um perfume indescritível de santidade como um receptáculo do Espírito Santo. Depois, porém, se consumiu inexplicavelmente, por razões que só Deus as conhece, assim como aconteceu também inexplicavelmente muitas outras relíquias de santos até então intactas.

No dia 2 de setembro de 1953 aconteceu a exumação das relíquias do santo pelo metropolita Procópio de Hidra, estando presentes muitos clérigos, monges e monjas, além de uma grande multidão de fiéis. Um perfume indescritível inundava todo o local. Em 1961 foi realizado o solene reconhecimento de sua santidade pelo Patriarca Ecumênico de Constantinopla.

«Grande é o Senhor nosso, e sua grandeza não tem limite, que glorifica aos que lhe glorificaram», como o anunciou sem desmentir. Com efeito, São Nectário é o santo do século XX. Doce, manso, isento de maldade, humilde, e por tudo isso, recebeu e recebe a graça do Senhor da glória. Que este simpático santo conceda a cada um de nós, em todo tempo e lugar, sua proteção e socorro paternal e salvífico. Amém.
Tradução e publicação neste site
com permissão de: Ortodoxia.org
Trad.: Pe. André

São Nectários de Aegina

Tradução: Pedro Ravazzano

O divino Nectário de Aegina é um do mais conhecidos Santos Ortodoxos Gregos. Ele nasceu em primeiro de Outubro de 1846 em Silyvria, na Ásia Menor (agora ocupada pela Turquia). No Santo Batismo deram-lhe o nome de Anastácio. Os seus pais eram simples Cristãos piedosos. Eles criaram-no em uma maneira que agrada a Deus e fizeram com meios muito limitados para continuar sua educação formal. Tendo concluído escola elementar na sua cidade natal, ele partiu para a grande cidade de Constantinopla com 14 anos de idade. Lá, ele encontrou o emprego como um ajudante de loja e foi capaz de viver uma vida parca. Ele ia regularmente assistir à Divina Liturgia, e lia as Sagradas Escrituras e os Escritos dos Anciãos da Igreja diariamente. Em 1866, com 20 anos de idade, Anastásio foi à ilha de Chios, onde tornara-se um professor. Depois de 7 anos, ele estabeleceu o mosteiro local, aos cuidados do venerável Pacómio. Depois de 3 anos como noviço, Atanásio foi tonsurado Monge recebendo o nome Lázaro.
Um ano depois, ele foi ordenado Diácono e recebeu o nome Nectário. O Ancião Pacómio, e um rico benfeitor local convenceram o jovem monge a concluir os seus estudos superiores em Atenas. Daí o Diácono Nectários foi à Alexandria, onde conquistou a simpatia do Patriarca da Alexandria, Sofrônio. O Patriarca insistiu que Nectário concluísse seus estudos Teológicos, e então em 1885 ele licenciou-se na Escola de Teologia de Atenas. O Patriarca da Alexandria ordenou o Diácono Nectário ao Sacerdócio em 1886. O seu grande serviço à Igreja, escritos e ensinos prolíficas e, energia e zelo levaram o franco Nectário a ser ordenado como Metropolita de Pentápolis no Egito.

Como Metropolita ele foi muito admirado e amado pelo seu rebanho por causa da sua virtude e pureza de vida. Mas esta grande admiração pela gente levantou a inveja de certos altos funcionários, que conspiraram e tiveram sucesso em ter o Abençoado Metropolita retirado do seu ofício em 1890 - sem uma prova ou qualquer explicação. Ele voltou à Grécia para se tornar monge e Pregador, aperfeiçoando a moral do povo. Lá o Abençoado Metropolita continuou a escrever os seus agora famosos livros.

Em 1904, o nosso Santo fundou um mosteiro de mulheres em Aegina, o Convento da Santíssima Trindade. Sob sua orientação o Convento floresceu. Em 1908, Abençoado Nectário, com 62 anos de idade, saindo da Escola Eclesiástica Rizarios e retirou-se no Convento em Aegina. Lá, viveu o resto da sua vida como um verdadeiro monge e asceta. Serviu como confessor e guia espiritual às freiras e até sacerdotes da longe Atenas e Pirineus. A sua santa e piedosa vida seguiu adiante com uma direção iluminadora a todos perto dele. Muitos lhe buscariam atrás de curas. São Nectário foi um grande andarilho durante a vida.

No dia 20 de Setembro de 1920 uma das freiras levou-o ao hospital local, apesar do seu protesto. Ele convulsionava na dor de uma doença existente há muito tempo. Foi admitido, e colocado em uma ala reservada para pobres e renegados. Lá ele ficou durante dois meses entre a vida e a morte. Às 10:30 da manhã do dia 8 de Novembro, embora no meio de dores terríveis, na paz e na oração ele abandonou o seu espírito para Deus com 74 anos de idade.

Logo após seu repouso, uma enfermeira veio prepará-lo para a transferência para o enterro em Aegina. Esta retirou o suéter do Santo, inadvertidamente colocou-o na cama ao lado, na qual um paralítico estava. E Oh! Grande maravilha, o paralítico imediatamente começou a recuperar a sua força e saiu curado de sua cama, glorificando a Deus.

Algum tempo depois do seu repouso, estranhamente uma bela fragrância foi emitida pelo seu corpo Sagrado, enchendo a sala. Muitos vieram para venerar as suas santas relíquias antes do seu enterro. Com estupefação, os fiéis observaram um fluído fragrante que ensopara o seu cabelo e barba. Mesmo depois de 5 meses, quando as freiras do convento abriram a sepultura do Santo para construir um túmulo de mármore, eles encontraram o corpo intacto em todos os aspectos e emitindo um maravilhosa e celeste aroma. De mesmo modo três anos depois, as Relíquias Sagradas estavam ainda inteiras e exalando o mesmo abençoado cheiro.

A Igreja Ortodoxa o proclamou Santo no dia 20 de Abril de 1961. A sua Abençoada Memória é celebrada pela Igreja no dia 9 de Novembro.








Hino «Agni Parthene»
O hino Agni Parthene foi composto por São Nektários de Egina, bispo ortodoxo, e se conta que, após sua morte, ninguém sabia mais a melodia. Então, anjos teriam descido do céu cantando o "Agni Parthene".
Tradução para o português por Fábio Lins


Ó Virgem Pura e Rainha,
Imaculada, Theotokos!
Ave, Esposa Inesposada!
Mãe Virgem e Rainha,
Manto Orvalhado cobre-nos!
Ave, Esposa Inesposada!
Ó Altíssima, mais que os céus,
ó Luminosa, mais que o sol!
Ave, Esposa Inesposada!
Ó deleite dos santos virginais,
maior que os celestiais!
Ave, Esposa Inesposada!
Ó luz dos céus mais brilhante,
mais pura e radiante!
Ave, Esposa Inesposada!
Ó mais Santa e angelical,
ó Santíssimo altar celestial!
Ave, Esposa Inesposada!

Maria Sempre Virgem,
Senhora da Criação!
Ave, Esposa Inesposada!
Ó Imaculada Esposa Virgem,
ó Puríssima Nossa Senhora!
Ave, Esposa Inesposada!
Maria, Esposa e Rainha,
fonte da nossa alegria!
Ave, Esposa Inesposada!
Venerável Virgem Donzela,
Santíssima Mãe e Rainha!
Ave, Esposa Inesposada!
Mais venerável que os Querubins,
mais gloriosa que os Serafins!
Ave, Esposa Inesposada!
És mais alta em plena glória,
que toda a hoste incorpórea!
Ave, Esposa Inesposada!

Ave hino dos arcanjos,
Ave música dos anjos!
Ave, Esposa Inesposada!
Ave, canto dos Querubins,
Ave canto dos Serafins!
Ave, Esposa Inesposada!
Ave, paz e alegria, alegrai-vos,
Ave, porto da salvação!
Ave, Esposa Inesposada!
Do Verbo santo, quarto nupcial;
Flor, fragrância da Incorrupção!
Ave, Esposa Inesposada!
Ave, deleite do Paraíso,
Ave, Vida Imortal!
Ave, Esposa Inesposada!
Ave, Árvore da Vida,
e Fonte da Imortalidade!
Ave, Esposa Inesposada!

Imploro-te, ó Rainha,
eu te suplico!
Ave, Esposa Inesposada!
Peço-te ó Rainha da Criação,
imploro tua benção!
Ave, Esposa Inesposada!
Ó Virgem Pura Venerável,
ó Santíssima Senhora
Ave, Esposa Inesposada!
Com fervor eu te suplico,
ó Templo Sagrado!
Ave, Esposa Inesposada!
Percebe-me, ajudai-me,
livra-me do inimigo!
Ave, Esposa Inesposada!
Intercede por mim
para que eu tenha a Vida Eterna!
Ave, Esposa Inesposada!


13 de Novembro: São João Crisóstomo, arcebispo de Constantinopla († 407)




São João Crisóstomo nasceu na cidade de Antioquia, cresceu no meio da multidão sem se deixar contaminar por ela. Conheceu os pobres e desafortunados e soube amá-los como eram. Sua família era culta e possuía muitos bens. O pai de João, oficial de alto nível, morrera jovem. Desde criança foi educado pela mãe, mulher admirável que, aos vinte anos, sacrificou sua juventude, renunciou a novas núpcias, para dedicar-se inteiramente a seu filho. João recebeu o Batismo mais ou menos aos dezoito anos de idade. Concluídos de forma brilhante os seus estudos de cultura geral, retórica e filosofia, renunciou a uma carreira que se apresentava promissora para receber as ordens menores. Quis partir para o deserto, mas sua mãe, que por ele sacrificara tudo, não lho permitiu. Fugiu, então, da agitação de Antioquia e estabeleceu-se fora das portas da cidade, a fim de encontrar a paz, consagrando-se à ascese e ao estudo bíblico. Antioquia era um centro teológico de grande reputação. João aprende lá de forma brilhante a exegese bíblica. Depois passou a viver nas montanhas entre monges uma vida austera a ponto de prejudicar sua saúde. Após algum tempo nas montanhas, achou-se preparado para enfrentar a ação missionária. O amor aos outros, mais do que sua saúde abalada, fê-lo voltar a Antioquia, onde o bispo Melécio o ordenou diácono, em 381.

Escreveu aos 34 anos o tratado sobre o Sacerdócio, que é conhecido e estudado até os nossos dias. Com 39 anos foi ordenado padre. Consagrou-se à pregação, substituindo o bispo, nas homilias pois esse era pouco dotado para falar.

Durante doze anos, pregou ao povo contra o paganismo e tinha esperança de transformá-lo em gente de fé cristã. É dele a frase: “Basta um só homem, para reformar todo um povo.”

Sua tarefa era séria. Precisava denunciar os abusos existentes no interior da Igreja e na sociedade; defender os pobres, clamar contra as injustiças sociais. Manteve ainda uma intensa atividade literária, respondendo a todos os que lhe pediam conselho.

A maioria de suas homilias era comentários a respeito do Antigo e o Novo Testamento: explicou o Gênesis, comentou Isaías e os Salmos. O que fazia com mais agrado era pregar sobre o Evangelho. Comentou longamente o de Mateus e o de João. São Paulo era seu autor preferido: sentia afinidade com o Apóstolo dos gentios. Cognominaram no de o “novo Paulo”.

Resta-nos, de João Crisóstomo, uma série de catequeses batismais, que preparavam os catecúmenos para o batismo. As últimas foram reencontradas em 1955, no monte Atos. João Crisóstomo era um orador nato e igualmente um moralista que analisava os segredos do coração em profundidade e com rara psicologia. O povo de Antioquia sabia que João só repreendia para corrigir e para converter.

Inúmeras vezes João tomou a defesa dos pobres e dos infelizes, dos que morriam de fome e sede. Com veemência, João-Boca-de-Ouro ergueu sua voz contra os flagelos sociais, o luxo e a cobiça. Lembrou a dignidade do homem, mesmo pobre, e os limites da propriedade. Dizia: “Libertai o Cristo da fome, da necessidade, das prisões, da nudez.”

A fama de João ultrapassava as fronteiras de Antioquia e chegava à nova capital do império. Em 397, o bispo da capital, Nectário, que sucedera a Gregório Nazianzeno, acabava de morrer. Intimado a comparecer à Capital do Império, foi eleito o Bispo de Constantinopla, a Sé do Oriente. João começou uma grande reforma, desembaraçando a casa episcopal do luxo, fazia suas refeições sozinho e acabou com as recepções suntuosas. Reformou as ordens de vida dos clérigos e dos monges, organizou a Reforma Litúrgica com a preocupação de levar Deus aos homens pela Divina Liturgia.

O texto da Divina Liturgia (Santa Missa) que toda a Igreja Ortodoxa celebra em todo o mundo, é conhecida como sendo de São João Crisóstomo.

Empreendeu a evangelização das zonas agrícolas e esforçou-se para trazer à ortodoxia aos pagãos, que eram numerosos na região. Combateu as seitas heréticas com intransigência e rudeza.

Em 402, São João Crisóstomo foi deposto e exilado acusado de não coadunar os interesses da Igreja com as do Império. O bispo foi detido em sua catedral, durante a celebração pascal. Depois de uma palavra de despedida, João deixou a sua igreja que jamais haveria de rever. O exílio foi penoso. João foi enviado para uma aldeia, Cucusa, na fronteira com a Armênia.

A saúde do bispo achava-se enfraquecida. O clima era duro e desfavorável para o seu estado. A maior parte de suas cartas data dessa época. Este homem atingido em cheio pela provação procurou mais consolar do que ser consolado.

No sofrimento, pensava nos outros. Finalmente morreu, no dia 14 de setembro de 407, festa da Exaltação da Santa Cruz. Suas últimas palavras foram: “Glória a Deus por tudo.”

Os contemporâneos descrevem-nos João Crisóstomo como um homem de estatura baixa, de rosto magro, de testa enrugada, de cabeça calva. Tinha voz fraca. As austeridades comprometeram definitivamente sua saúde. Não falava para ser escutado, falava para instruir, exortar, reformar, preocupado com o combate aos costumes pagãos e com a instauração da moral do Evangelho. Era um reformador, um missionário. Se não era um teólogo original, era um pastor incomparável. Sua pregação desempenhou na liturgia bizantina o mesmo papel que a de Agostinho no Ocidente. Ele foi lido, copiado, traduzido, imitado. De todos os Padres da Igreja, São João Crisóstomo é aquele cuja pregação menos envelheceu. Sua pregação moral e social parece escrita hoje.

A honra da Igreja consiste em contar com homens, como João Crisóstomo, que não pactuaram com o poder, com o dinheiro, e que souberam tomar o partido dos pobres. Toda a fé deste homem exprime-se em sua palavra. E esta palavra vive sempre.

São João Crisóstomo é considerado o príncipe dos oradores da Igreja, recebeu o cognome – Crisóstomo, ―Boca de Ouro‖, do grego antigo chrysos=ouro e Stoma=boca, é também reconhecido como um exegeta, um moralista e reformador genial, um grande pedagogo, um defensor da justiça diante das arbitrariedades do despotismo, um bispo exemplar, um pai dos pobres que pregou pela palavra e pelo exemplo, e um mártir da verdade.

João nasceu em 344 na cidade de Antioquia, seu pai chamava-se Secundo, ostentava o título de Magister Militum Orientis (general dos exércitos do Oriente), morreu pouco depois do nascimento de João. Coube a sua mãe de nome Antusa, viúva aos 20 anos de idade, a missão de criá-lo junto com a irmã mais velha. João aprendeu com a mãe a doutrina cristã, e a Sagrada Escritura serviu-lhe de silabário para as primeiras letras. Quando contava com dezesseis anos começou a frequentar os Centros de Ensino, assistiu aulas de filosofia com Andragácio. Na disciplina de retórica, que na época dava uma formação jurídica, foi aluno de Libânio. João exerceu a profissão de advogado dos 20 aos 25 anos.

No ano de 370, João abandonou a profissão forense e recebeu o batismo das mãos do bispo de Antioquia, Melécio que o confiou à orientação de Diodoro, um erudito, mais tarde, bispo de Tarso, que dirigia uma ―escola de ascetas‖, dedicado ao estudo da Sagrada Escritura. Diodoro conferiu-lhe a ordem de leitor, o que equivalia a torná-lo clérigo, e confiando-lhe a guarda dos rolos da Bíblia.

Após a morte da mãe, por volta de 374, João pôs em prática enfim o seu projeto longamente acalentado de retirar-se para um Mosteiro localizado na montanha nas proximidades de Antioquia, antes, porém, liquidou todo o seu patrimônio, vendendo e distribuindo entre os pobres. Por quatro anos ficou no Mosteiro, sob a direção de Syro, um monge ancião. Sentindo crescer em si a sede de solidão, o jovem monge retirou-se ainda mais para dentro das montanhas, até uma gruta isolada, vivendo por dois anos em absoluta solidão. Neste retiro João escreveu alguns dos seus mais belos livros. Certo dia, ao acordar, percebeu que tinha ambas as pernas paralisadas e teve de arrastar-se até o eremitério vizinho, onde foi socorrido, viu-se, pois, obrigado a contragosto a suspender aquele gênero de vida e a regressar a Antioquia. Capital da Síria, segunda maior cidade do Império Oriental. Estima-se que no século IV sua população beirava os trezentos mil habitantes. Foram cinco anos de repouso e convalescença para que se repusesse do seu esgotamento físico devido a experiência monástica. Período que serviu a Igreja como diácono e enriqueceu as letras cristãs com mais alguns livros, sua obra intitulada Tratado sobre o Sacerdócio, dividida em seis volumes, já no ano de 386, corria de mão em mão e o nome do seu autor de boca em boca. O bispo de Antioquia, Flaviano, ordena-o presbítero e o nomeia mestre de pregadores, pois passava a fazer as vezes do bispo nessa função.

Doze anos durou seu magistério, João impôs a sua personalidade àquele mundo empanturrado de novidades, ressoava agora pela cidade uma palavra que reunia em sumo grau os dons do pedagogo, a palavra fluida, veemente, colorida, dotada do ardor da mais viva paixão e as iluminações do doutor. Em 387 a fama do presbítero João haveria de aumentar ainda mais, aureolando-se com a fama de salvador. O episódio foi consequência de um grande motim ocorrido em Antioquia devido a ordem do imperador Teodósio para que a população pagasse tributos extraordinários. O governador Tisameno ordenou uma sangrenta repressão, os cidadãos voltaram-se para o presbítero João, já não apenas porque o admiravam, mas porque viam nele a tábua de salvação. João rogou ao bispo Flaviano que se dirigisse a Constantinopla para interceder diretamente diante do imperador, e preparou o discurso que o prelado deveria ler, deu-lhe instruções precisas sobre o modo de agir, o eixo principal era uma alusão à glória imperecedoura e à grandeza do perdão: ―É fácil ao amo castigar uns súditos rebeldes; mas é raro e difícil perdoá-los. Se o fizerdes, dareis um grande exemplo aos séculos sem fim‖. O imperador decretou uma anistia geral a todos os implicados, e mal chegou aos ouvidos dos antioquenhos o perdão imperial, a alegria transbordou por toda a cidade, quando as prisões se abriram, os cativos caíram numa multidão de braços que os esperavam e foram passeados em triunfo com clamores de júbilo, uns e outros se abraçavam pelas ruas sem se conhecerem; banquetes e várias manifestações sucediam. João deu um glorioso arremate ao incidente com um sermão em que entoou um hino de ação de graças a Deus e tirou de todo o acontecido uma preciosa lição moral: ―Não esqueçais, se sois cristãos, que vossa pátria não se encontra na terra.
Toda essa fama não podia deixar de chegar à capital do Império Bizantino. Quando vagou a sede de Constantinopla, devido ao falecimento do patriarca Néctário em 397, apareceram logo o biógrafo de João Crisóstomo. Apesar de vários pretendentes, da difícil missão de convencê-lo aceitar o episcopado e por última barreira, conseguir que o povo de Antioquia concordasse em perder o seu ídolo. Na primavera, 26 de fevereiro de 398, João foi apresentado aos sufrágios do clero local e dos fiéis e sagrado bispo de Constantinopla. Ao tomar posse da residência episcopal, desterrou dali, todo o luxo, mandou vender os tesouros e aplicou o produto com os pobres: o dinheiro reunido com a venda da tapeçaria foi destinado à construção de um hospital; o dos móveis, candelabros, banheiras de mármore, espelhos e quadros, à de um albergue para peregrinos; e a cozinha com todas as instalações, foi para um asilo, por fim, a cama de seda, veludo e madeiras exóticas seguiu o destino do resto do mobiliário, sendo substituída por um leito de taboas com um único cobertor. Quando o pessoal do serviço ousou recordar-lhe que o patriarca de Constantinopla era o segundo bispo mais importante do mundo, e devia por isso respeitar o protocolo, recebendo altas personalidades e o próprio casal imperial, João respondeu-lhes que sua função não era a de estalajadeiro, mas médico e pai espiritual. E dispensou a todos. Também chamou a si o controle do erário eclesiástico. As receitas vultuosas, eram por vezes mal destinadas, quer por incúria, quer por má vontade administrativa. Essa atitude granjeou-lhe alguns inimigos, mas permitiu-lhe dispor de somas respeitáveis para organizar as suas obras de caridade. A residência episcopal ficou reduzida a uma pobreza cenobítica, a única obra de arte, que mereceu graças aos seus olhos foi um retrato de São Paulo. Relativamente às refeições, atinha-se aos mesmos dos tempos de eremita: legumes, que preparava sozinho ou com ajuda de algum monge. Empregava o seu tempo em cumprir os seus deveres. Umas vezes, no altar, no enevoado cume dos mistérios divinos, proferindo com lágrimas as palavras da consagração; outras, na tribuna, desempenhando as funções de doutor e de profeta, numa gama que ia da conversação familiar à inspiração arrebatada; outras ainda, nas prisões, que visitava com frequência, levando pão e consolo aos presos, ou nos tugúrios dos miseráveis; algumas vezes na casa dos magnatas e dos poderosos para interceder por um escravo, ou por algum devedor garroteado pela usura. É verdade que investir contra os ricos era um dos temas prediletos do pregador, mas João não condenava nem a riqueza nem o capital; unicamente assinalava os abusos. ‖Não pretendo afirmar que a riqueza seja um pecado – afirma numa das homilias -; pecado é não ajudar os pobres e fazer mal-uso delas – […] As riquezas não são um mal; mal é a estreiteza do espírito que transforma o rico em avarento.

Porém os seus inimigos iam se infiltrando por toda parte, dois eram os principais Teófilo, patriarca de Alexandria, conhecido como ―o faraó eclesiástico‖ movido pela paixão da inveja, o luminar da igreja de Santa Sofia feria-lhe os olhos e também não achava razoável que a Igreja de Alexandria, que remontava ao Evangelista Marcos, tivesse de tratar de igual para igual a de Constantinopla, nascida na véspera. E o mais terrível dos inimigos, a imperatriz Eudoxia que recebia censuras públicas pelo seu comportamento. A imperatriz e o patriarca conspiraram para eliminá-lo. Num povoado dos arredores de Calcedônia conhecido como ―o Carvalho‖ reuniram-se uma trintena de bispos egípcios como se estivesse montado um concílio e tendo o apoio do imperador julgaram o bispo João, impondo-lhe as mais sórdidas calúnias. Encerrando o conciliábulo do Carvalho dirigiram a carta ao imperador: ―….as acusações o tornam culpado do crime de lesa-majestade, de modo que Vossa Majestade deve desterrar o culpado… ) Na Semana Santa de 404 João Crisóstomo foi preso dentro da Igreja de Santa Sofia pelo exército imperial, quando celebrava a cerimônia de batizado de algumas centenas de catecúmenos vestidos de branco. Houve resistência dos fiéis. O historiador Sozomeno escreveu: ―as águas da regeneração dos homens tingiram-se de vermelho com o sangue humano‖. João foi levado para o exílio, o ponto de destino era Cucuso, um misérrimo vilarejo perdido num dos inúmeros recôncavos da cordilheira do Tauro na Armênia. Foram três anos e três meses de sofrimento e privações convivendo em terras cercadas por povos bárbaros e assassinos, o clima frio e a altitude de mais de 1400 metros, foram debilitando a já frágil saúde de João, e no dia 13 de setembro de 407 seu coração parou de bater. A notícia da morte propagou-se por todo o Império com uma velocidade insólita para a época. Juntamente com a notícia do falecimento, começaram a conhecer-se os antecedentes e a circunstâncias que o tinham acompanhado, o que suscitava o mais amargo juízo sobre o Império e os seus dirigentes. O bispo de Roma Papa Inocêncio escreveu ao imperador Arcádio uma epístola serena e firme: ―…atreveste-te a levantar uma violenta perseguição contra Deus e a sua Igreja. Antes que a sua causa fosse julgada, expulsaste do seu trono episcopal um grande doutor do universo, e na sua pessoa perseguiste o próprio Jesus Cristo …..Por esta causa, eu, a quem foi confiada a Cátedra do grande Apóstolo apesar da minha vileza e dos meus pecados, te separo e te rechaço da participação nos imaculados Sacramentos de Cristo nosso Deus, e não somente a ti, mas a todos os bispos e clérigos de qualquer grau que dispuserem a administrá-los a ti à reveria das nossas proibições.‖ Passado mais de 1600 anos de sua morte, as suas palavras e obras se mantêm vivas, não apenas nos países do Oriente, mas no continente Europeu e em terras jamais imagináveis pelo filho de Antioquia; o continente da América do Sul onde há Igrejas que celebram a Santa Liturgia de Rito Bizantino no modelo de São João Crisóstomo. ―Todo o mundo se empenha em que os filhos sejam instruídos nas artes, nas letras e na eloquência, mas a ninguém ocorre pensar em como exercitar-lhes a alma (….) antes de mais nada, eduques bem vossos filhos.

14 de Novembro: São Felipe, apóstolo (séc. I)



Filipe era um dos doze Apóstolos. Todos os evangelistas fazem referência a ele, porém, São João o citou mais que os outros, provavelmente, porque fosse amigo muito próximo de Filipe. Os textos evangélicos mostram que Filipe teve contato São João Batista; talvez até tenha sido um de seus discípulos e tenha ouvido da boca de João: «Eis aqui o Cordeiro de Deus!» [Jo. Santo do dia, Synaxarion, Hagiografia, Santos, São Filipe apóstolo, Santo André, 36].
Outros dos discípulos de Jesus era André, o Primeiro Chamado, conforme reconhece a Tradição. Ambos, Filipe e André, juntos, como nos revelam os capítulos 6 e 12 do evangelho de São João; mais provavelmente é que ambos fizessem parte de um grupo que estudava as Leis e os Profetas, e discutiam sobre o perfil do Messias esperado. Natanael também pertencia a este grupo, pois Filipe, ao encontrar o Senhor, foi ao seu encontro para dizer-lhe: «Aquele sobre o qual escreveu Moisés na Lei e também os Profetas, nós o encontramos: Jesus, o filho de José…»

O caráter de Filipe, como é manifestado no Evangelho segundo São João, em certo sentido, parece ao de Tomé: um homem tranquilo, espontâneo, prático, que buscava fazer sua própria experiência e ser convencido mais pelo toque que pelas palavras. Tanto é que, quando Jesus falava aos discípulos acerca do Pai que «…desde agora o conheceis, e o tendes visto»… Filipe disse: «Senhor, mostra-nos o Pai, o que nos basta»… Mas, Jesus o repreendeu, orientando a sua fé: «Estou há tanto tempo convosco, e não me tendes conhecido, Filipe? Quem me vê a mim vê o Pai; e como dizes tu: Mostra-nos o Pai?»

A respeito de sua pregação depois da Ascensão de Senhor e de Pentecostes, a Tradição nos informa que esteve pregando na Ásia Menor, junto com Bartolomeu, tendo alcançado lá tanto êxito a ponto de converter a própria esposa do governador da Ásia. Furiosos, os pagãos o tomaram, arrastando-o pelas ruas da cidade e, finalmente, o crucificaram com a cabeça voltada para o chão. Seu martírio aconteceu nos anos 80 da era cristã. Mais tarde, suas relíquias foram trasladadas à Roma.

Pelas intercessões do Apóstolo São Filipe, Senhor Jesus Cristo nosso Deus, tem piedade de nós e salva-nos!
Tradução e publicação neste site
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Trad.: Pe. André

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