Catecismo
Breve
«Ortopráxis - maneiras de viver a
Ortodoxia»
2. Ao ingressar em um templo Ortodoxo
O que se deve
fazer primeiro quando se entra num templo ortodoxo? Deve-se aproximar do lugar das
velas. Nossa piedade cristã, na prática, começa pelo ritual de ascender uma vela
de cera. Seria impossível imaginar um templo ortodoxo onde não se ascendem velas
de cera.
Um estudioso
da Liturgia, São Simeão de Solun (Séc. XV) diz que a cera pura significa a pureza
e a fé das pessoas que a trazem. Oferece-se a vela de cera em sinal de nosso arrependimento.
A suavidade e a flexibilidade da cera falam de nossa disposição em ser obedientes
a Deus. A chama da vela significa o calor de nosso amor a Deus.
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«Igreja do Santo Sepulcro em Jerusalém»
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Não se deve
colocar a vela de uma maneira formal, com o coração frio. O ato físico deve ser
acompanhado por uma simples oração, com palavras próprias. As velas sempre estão
associadas aos ofícios da Igreja. Os que foram recém-batizados mantém as velas em
suas mãos, como também os que se unem no sacramento do matrimônio; durante o ofício
pelos falecidos e durante o hino do Akathistos; há ainda os que costumam segurar
uma vela acesa, até mesmo durante a Divina Liturgia. Nas procissões os fiéis caminham
portando velas, resguardando do vento com a mão a chama acesa. Não existem regras
definidas a respeito do lugar ou da quantidade de velas que devem ser colocadas.
Sua aquisição é um pequeno sacrifício a Deus e oferenda voluntária para ajudar na
manutenção da Igreja ou o Monastério. Uma vela grande e cara de nenhum modo tem
mais graça do que uma pequena.
Os que regularmente
visitam o templo, colocam comumente várias velas: ao lado do ícone do santo do dia,
posto sobre um porta-ícones no centro do templo, em frente aos ícones do Salvador
e da Santa Virgem, pela saúde de seus entes queridos; diante do crucifixo sobre
uma pequena mesa, pelo descanso dos seus falecidos e, se deseja seu coração, aos
santos de sua devoção particular.
A Deus a vela
de cera é agradável, porém, a chama que nasce do coração do fiel lhe é mais agradável.
Nossa vida espiritual e a participação nos serviços religiosos não se limita à vela
pois, por si só, a vela não nos salvará dos pecados, tão pouco nos unirá mais a
Deus e nem nos dará forças para a luta invisível. A vela esta cheia de significado
simbólico, porém, o que nos salva não é o símbolo, mas a autentica essência da Graça
divina.
Em muitos
templos ortodoxos se usam as famosas cúpulas chamadas "cebola" que na
realidade tomam sua forma da chama das velas, como oração que, da terra, se eleva
a Deus. Quando um cristão ocidental entra num templo ortodoxo para a Divina Liturgia,
encontra-se como que em outro mundo. A principio, entra na Igreja, cuja forma, decoração
e ornamentos não só estão submetidos a uma tradição como também tem um significado
próprio. Depois de passar pelo nartex (uma sala retangular – uma espécie de entrada),
chega à nave que não tem forma retangular a que se está habituado, mas quadrada.
Ergue a cabeça, e ali está o Cristo Pantokrator, que o vê com majestade do alto
da cúpula central. Ao redor das colunas que sustentam a cúpula estão os profetas,
os apóstolos, os confessores semelhantes aos anjos, e nas abóbadas em torno da cúpula
se encontram os querubins e serafins, os quatro evangelistas e algumas cenas da
vida de Cristo: geralmente, as doze festas que são recordadas no calendário litúrgico.
Mais abaixo, sobre as paredes, vemos as figuras de monges, ascetas, mártires, confessores
e mestres. A fileira dos santos é como um marco que envolve toda a assembléia orante.
De trás, na parede ocidental da nave, se apresenta a Assunção da Theotokos, a Mãe
de Deus (a Dormição); no lado oriental, vemos uma parede ornada de ícones, o iconostasio,
que separa a nave do santuário. Esta parede pode ser baixa ou pode também chegar
até o arco.
No centro
se encontra uma porta com duas folhas (A) e nas laterais outras duas portas com
uma só folha (C).
Sobre o iconostásio
há reproduções que ornamentam a nave, pintados ou em mosaicos. À direita da porta
central de duas folhas, também chamada de "portas santas", se encontra
a imagem do Cristo Pantokrator (D) e, à esquerda a da Theotokos com o Cristo menino
(E). Sobre as portas santas se reproduz a Anunciação (A) e sobre as portas laterais
de uma só folha, também chamadas setentrional e meridional, os arcanjos Miguel e
Gabriel (F). Diretamente acima das portas santas se reproduz a "Última Ceia"
(8). Nas portas santas, algumas vezes se colocam os quatro evangelistas. Outra fila
de ícones (ou ordem das festividades), está formada pelos ícones que representam
ações salvíficas de Cristo em sua vida terrena, nos que se recordam as mais importantes
do calendário litúrgico.
Em algumas
igrejas sobre eles, na quarta fila, estão os apóstolos em atitudes de oração voltados
para o centro, onde aparece Cristo sentado no trono e ao seu lado os dois principais
intercessores da humanidade: a Theotokos e João Batista (6).
As vezes,
sobretudo nas grandes catedrais, existe ainda uma outra fileira de profetas que
estão ao lado da Virgem com o Menino. Todo o iconostasio abraça a cruz com a imagem
pintada do Senhor Crucificado (7).
Quando as
portas santas estão abertas no centro do santuário que habitualmente tem forma semicircular,
os que estão ali rezando podem ver o Altar ricamente adornado, de forma cúbica.
Sobre ele se encontra a cruz, os castiçais e o Tabernáculo ou o Sacrário, muitas
vezes em forma de templo onde se conserva o Sagrado Pão Eucarístico, consagrado
durante a Divina Liturgia.
O Altar é
coberto primeiramente por um linho branco que representa o linho que envolvia Cristo;
sobre ele, outro de material brilhante que representa a Glória do Trono de Deus.
Ambos cobrem todo o altar. Sobre o Altar está o Antimênsion, (uma espécie de tela
que tem gravado o ícone de Cristo no sepulcro e os quatro evangelistas e, para que
seja válido deve estar assinado pelo bispo sob o qual está o sacerdote celebrante);
sobre o qual se celebra os Santos Mistérios da Divina Liturgia. No verso do antimênsion
há um pequeno casulo onde ficam depositadas relíquias de santos, o que equivale
à pedra d'ara, nos altares ocidentais. Pode também haver relíquias de santos no
altar, porém só quando este é consagrado.
As relíquias
são usadas porque o sangue dos mártires, confessores e santos, depois de Cristo,
constituem o fundamento da Igreja; e também, porque nos princípios do cristianismo,
celebrava-se nas catacumbas sobre os túmulos dos mártires. Embaixo do Antimênsion,
sob as toalhas do Altar, há outra seda de um material mais fino que representa as
roupas com as quais o Menino Jesus foi envolvido depois de seu nascimento, simbolizando
também o lençol do sepulcro. O altar, por sua vez, representa a pedra com a qual
foi selado o sepulcro. Atrás do altar se pode colocar um candelabro com sete luzes
simbolizando os sete sacramentos e uma cruz, ou apenas uma cruz, dependendo da tradição
local de cada igreja.
«Altar principal
de Igreja na Romênia»
O Livro do
Evangelho, que é a Palavra de Deus, está sobre o altar para denotar que Deus mesmo
está misticamente presente nele; e uma cruz de bênção pequena do lado direito do
Evangelho, representando o Gólgota (lugar onde foi celebrado o Sacrifício incruento
oferecido a Deus). Para os serviços episcopais há dois candelabros: Dikíion (de
duas velas) e o Trikírion (de três velas) que representam, respectivamente, a dupla
natureza de Cristo (humana e divina) e a Santíssima Trindade. Com eles o Bispo abençoa
o povo.
É estritamente
proibido colocar qualquer objeto, a não ser os acima mencionados, sobre o altar,
devido ao significado dos mesmos e porque ali se celebram os Santos Mistérios. Utiliza-se
uma esponja para coletar as partículas que caem sobre o Antimênsion e também aquelas
que ficam no Disco (Patena).
Pode-se observar
também as pinturas do Santuário. Na parte mais baixa, duas filas de bispos revestidos
para a liturgia envolvendo o altar. Sobre eles, Cristo dando a comunhão aos apóstolos:
com uma mão distribui o pão sagrado e com a outra dá o cálice, ou em outras ocasiões
Cristo sentado em um trono. Da cúpula semi-esférica do abside , por cima do santuário,
a Virgem olha para a nave (sua imagem pode ser vista da nave por cima do iconostásio).
Os que estão rezando, porém, provavelmente não verão o outro altar sobre o qual
se preparam o pão e o vinho eucarístico, chamado também de "prótesis",
cujo acesso se dá pela porta setentrional do iconostasio. Tão pouco verão as pinturas
que há em cima, que representam o nascimento, a morte e a sepultura de Cristo. Nem
poderão ver a parte meridional do abside, que serve de sacristia ou "Diakonikon".
Um típico templo ortodoxo com todas as lamparinas e velas e o cheiro do incenso
que penetra todo o templo, distingue-se muito da atmosfera da celebração a qual
está habituado um homem ocidental.
«Igreja
Grega Ortodoxa da Apresentação da Santa Mãe de Deus (Theotokos) nos EUA»
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O templo é
algo mais que um simples lugar onde se reúnem uma assembléia em oração; é a imagem
do céu sobre a terra. Se as partes baixas da nave representam o mundo visível, a
cúpula e principalmente o santuário simbolizam o céu, onde os anjos, os arcanjos
e todas as Potências celestes rendem culto a Deus Uno e Trino. O cristianismo ocidental
observa que o templo ortodoxo suscita nele o santo temor...
Quando os
ortodoxos entram no templo dão uma volta ao seu redor, beijam os ícones, ascendem
as velas diante dos ícones e rezam. Podem levar até a porta setentrional do iconostasio
um pequeno pão de forma redonda, chamado prósfora, isto é, oferenda. Este pão é
dado ao diácono ou ao ministro junto com uma lista de intenções onde se rezam para
os vivos e falecidos.
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