PATRIARCADO
ECUMÊNICO DE CONSTANTINOPLA
Arquidiocese Ortodoxa Grega
de Buenos Aires e América do Sul
Igreja
Anunciação da Mãe de Deus
SGAN - Quadra 910
- Módulo ‘’B’’ - CEP: 70.790-100 - Brasília-DF
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Brasília, 29 de março de
2015.
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5° Domingo da Quaresma
«Santa
Maria do Egito»
Domingo 2° antes da Páscoa
Memória de São Marcos,
hieromártir, bispo de Aretusa;
São Cirilo, mártir, Diácono de
Heliópolis e
Companheiros que sofreram sob
Juliano, Apostata († 362-364)
Matinas
Tropário:
Embora a pedra
fora selada pelos Judeus, e os soldados guardassem Teu puríssimo corpo, ressurgiste
no terceiro dia, ó Salvador, dando a vida ao mundo. Por isso, as potestades celestes
a Ti, fator da vida, clamaram glória à Tua ressurreição, ó Cristo, glória ao Teu
reino, glória à Tua providência, Tu que És o único filantropo.
Glória ao Pai , ao Filho e ao Espírito Santo,
Embora a pedra
fora selada pelos Judeus, e os soldados guardassem Teu puríssimo corpo, ressurgiste
no terceiro dia, ó Salvador, dando a vida ao mundo. Por isso, as potestades celestes
a Ti, fator da vida, clamaram glória à Tua ressurreição, ó Cristo, glória ao Teu
reino, glória à Tua providência, Tu que És o único filantropo.
Agora, sempre
e pelos séculos dos séculos. Amém.
Theotokion:
Gabriel te
trouxe a salvação, ó Virgem, o Senhor de todas as coisas se fez carne em Ti, Tu
és a arca santa de Seu poder, como disse o justo Davi.
Ti tornaste
mais vasta que os céus, porque carregaste o Criador.
Glória
àquele que fez sua morada em Ti!
Glória
àquele que veio de Ti !
Glória
àquele que nos libertou pelo teu parto!
Katisma:
Ó Salvador, os soldados que guardavam Teu sepulcro, com os olhos ofuscados pelo brilho da aparição do anjo tombaram como mortos, enquanto as Santas mulheres proclamavam a Tua ressurreição.
Ó destruidor da morte, prostrados a Teus pés, nós Te glorificamos a Ti que ressuscitaste do sepulcro, porque és o nosso único Deus.
Glória ao Pai , ao Filho e ao Espírito Santo.
Ó Deus de misericórdia,
livremente quiseste ser crucificado!
Ó doador da vida,
como um morto foste colocado no sepulcro!
Ó poderoso, por
Tua morte quebraste o império da morte. Ó amigo do homem, os guardas diante de Ti,
logo que despertaste aqueles que estavam mortos há séculos!
Agora, sempre
e pelos séculos dos séculos. Amém.
Theotokíon:
Nós te conhecemos como a Mãe de Deus e após o teu parto, nós vimos brilhar tua virgindade . com amor, nós nos refugiamos em ti, ó toda bondade . Nós, pobres pecadores, em ti encontramos, nosso único refúgio, em ti depositamos nossa salvação em meio às provas, porque és a única sem mancha.
Ypakoí:
O arrependimento do ladrão o fez ganhar o paraíso. O lamento das portadoras de aromas proclamou a boa nova de que tinhas ressuscitado dando ao mundo sua grande misericórdia, ó Cristo.
Antifona:
Clamo à Ti, ó Senhor, no meu sofrer . Presta ouvidos à minha dor.
Verdadeiramente a vida dos habitantes do deserto é feliz, porque eles são conduzidos pela Tua divina paixão.
Glória ao Pai , ao Filho e ao Espírito Santo. Agora, sempre e pelos séculos dos séculos . Amém.
Pelo Espírito Santo toda criação, visível e invisível, é preservada, porque Ele é todo Poderoso e é verdadeiramente, uma das Três Pessoas Divinas.
Prokimenon:
Agora eu me levantarei,
diz o Senhor; faço a salvação e a declaro. (
2 x )
Stichos:
As palavras do Senhor, são palavras puras. ( repete a 1ª. )
Evangelho: Jo 20, 19-31
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, segundo o Evangelista São João.
Naquele tempo, chegada a tarde daquele dia, o primeiro da semana, e cerradas
as portas onde os discípulos, com medo dos judeus, se tinham ajuntado, chegou
Jesus, e pôs-se no meio, e disse-lhes: Paz seja convosco. E, dizendo isto,
mostrou-lhes as suas mãos e o lado. De sorte que os discípulos se alegraram,
vendo o Senhor. Disse-lhes, pois, Jesus outra vez: Paz seja convosco; assim
como o Pai me enviou, também eu vos envio a vós. E, havendo dito isto, assoprou
sobre eles e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo. «queles a quem perdoardes os
pecados lhes são perdoados; e àqueles a quem os retiverdes lhes são retidos.
Ora, Tomé, um dos doze, chamado Dídimo, não estava com eles quando veio Jesus.
Disseram-lhe, pois, os outros discípulos: Vimos o Senhor. Mas ele disse-lhes:
Se eu não vir o sinal dos cravos em suas mãos, e não puser o meu dedo no lugar
dos cravos, e não puser a minha mão no seu lado, de maneira nenhuma o crerei. E
oito dias depois estavam outra vez os seus discípulos dentro, e com eles Tomé.
Chegou Jesus, estando as portas fechadas, e apresentou-se no meio, e disse: Paz
seja convosco. Depois disse a Tomé: Põe aqui o teu dedo, e vê as minhas mãos; e
chega a tua mão, e põe-na no meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente. E
Tomé respondeu, e disse-lhe: Senhor meu, e Deus meu! Disse-lhe Jesus: Porque me
viste, Tomé, creste; bem-aventurados os que não viram e creram. Jesus, pois,
operou também em presença de seus discípulos muitos outros sinais, que não
estão escritos neste livro. Estes, porém, foram escritos para que creiais que
Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu
nome.
Kondakion:
Na Tua glória,
ressuscitaste do túmulo, porque és Deus; o mundo ressuscita contigo e os homens
Te celebram como Deus; a morte desaparece, Senhor; Adão, livre dos entraves, se
rejubila; Eva, na sua alegria clama: "Ó Cristo, dá a Tua ressurreição aos homens".
Ikós:
Cantemos o
ressuscitado do terceiro dia o Deus Todo-Poderoso, aquele que destrói as portas
do inferno e eleva o túmulo os santos, seus fiéis! Benevolentemente,
Ele apareceu
as santas mulheres, dizendo: "Alegrai-vos", e revelou a alegria aos
apóstolos, Ele é o único doador da vida.
As mulheres
clamavam, anunciando aos discípulos a boa nova, os sinais da vitória. O inferno
geme, a morte se lamenta e o universo se rejubila. Ó Cristo, toda criação se
alegra, pois Tu deste a todos a ressurreição.
Exapostilarion:
Vamos com os
discípulos para o Monte da Galiléia para ouvir o Cristo dizer: "Toda autoridade
me foi dada no céu e na terra"; e aprender a batizar em nome do Pai, do Filho
e do Espírito Santo; e ouvir a promessa de que Ele estará com seus eleitos até a
consumação do mundo.
Theotokion
Ó Virgem Mãe
de Deus, tu que te alegraste quando viste com os discípulos, o Cristo se levantar
do túmulo, após três dias, como Ele havia predito; e aparecer-lhes para ensinar
os bons atos; e ordenar o batismo em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
Fazendo-te acreditar na Sua ressurreição e glorificando-te.
Laudes:
1º - Cada criatura deve louvar o nome do Senhor. Louvai, pois, o Senhor, do al-
to dos céus.
Louvai o Senhor das alturas; porque Ele merece ser louvado eternamente.
2º - Louvai o Senhor, todos os seus anjos e sua força, pois Ele merece, para sempre ser louvado. Esta glória será para todos os seus justos.
Ó Cristo,
nós cantamos Tua paixão salutar e glorificamos Tua ressurreição.
3º - Cantem-lhe salmos com tambores e cítaras.
Tu que padeceste na cruz, venceste a morte e ressuscitaste dos mortos, preserva nossas vidas, ó Senhor que És o único Todo-Poderoso.
Louvai-O com a lira e a harpa; louva-O com adufes e danças.
4º - Ó Cristo que despojaste o inferno e elevaste o homem, por Tua ressurreição, concede-nos um coração puro para cantar para Ti e glorificar-te.
Louvai-O com címbalos sonoros.
5º - Ó Cristo, nós cantamos a Ti e glorificamos Tua divina humilhação.
Tu que nasceste da Virgem sem Te separar do Pai, sofreste como um mortal, por Tua própria vontade, padeceste na Cruz, ressurgiste do túmulo como de um leito nupcial para salvar o mundo.
Glória a Ti Senhor !
6º - Louvai-o com címbalos retumbantes.
Na hora em que foste pregado no madeiro da Cruz as forças inimigas foram condenadas à morte; a criação tremeu de temor e Teu poder despojou o inferno; ressuscitaste os fiéis de seus túmulos e abristes as portas do paraíso.
Ó Cristo,
nosso Deus, glória a Ti.
7º - Todo ser que respira, louve o Senhor.
As Santas mulheres, portando mirra, dirigiram-se, às pressas, ao Teu sepulcro, chorando.
Elas encontraram a porta aberta e aprenderam do anjo, a história do novo e maravilhoso milagre;
Elas anunciaram a boa nova aos discípulos: O Senhor ressuscitou e concedeu ao mundo a grande misericórdia.
8º - Louvai-O com instrumentos de corda e de sopro. Louvai-O com címbalos sonoros.
Ó Cristo,
nosso Deus, nos adoramos as chagas de Tua divina paixão.
E este grande sacrifício que celebraste em Sião, onde Deus se manifesta até o fim dos tempos.
Porque Tu, ó Sol da Justiça, brilhaste sobre aqueles que dormiam nas trevas pa-
para levá-los
à luz que não se acaba.
Ó Senhor,
glória a Ti.
9º - Confesso a Ti, ó Senhor, de todo coração e observo todos os Teus milagres.
Escutai, ó judeus e dizei-nos: Onde estão os selos do túmulo? Onde estão as muralhas?
Como vendeste
aquele que não tem preço? Como roubaste o tesouro?
Judeus sem fé, porque caluniar a ressurreição do crucificado?
Ele ressuscitou, livre entre os mortos, concedendo ao mundo sua grande misericórdia.
Eothino:
Glória ao Pai,
ao Filho e ao Espírito Santo.
Para os discípulos
que foram ao Monte que Ele designara, o Senhor se fez presente, antes de se desprender
das coisas terrenas; ao verem O adoraram, entenderam toda autoridade de que o Senhor
estava investido, receberam a missão de anunciar a Sua ressurreição dentre os mortos
e Sua ascensão ao céu.
Receberam a promessa
da presença divina entre eles, como Salvador de nossas almas, até a consumação dos
séculos.
Agora, sempre
e pelos séculos dos séculos. Amém.
Theotokion:
Bendita e venerável
és Tu, ó Mãe de Deus, em cujo seio se encarnou Aquele que visitou o inferno, libertando
Adão e Eva da maldição, destruindo a morte e dando a vida a todos nós.
Por isso bendirei
o Cristo em qualquer tempo, e sempre o Seu louvor estará em minha boca (2 vezes).
Hoje é a salvação
do mundo. Louvemos Aquele que ressuscitou do túmulo, dando-nos origem a uma nova
vida, porque anulou a morte com a Sua morte e nos concedeu a misericórdia de obter
essa grande vitória.
Divina Liturgia
Anunciação
- Modo 4:
É hoje o começo da nossa salvação e a manifestação
do mistério eterno.
O Filho de Deus torna-Se Filho da Virgem e
Gabriel anuncia a graça.
Por isso, cantamos com ele à Mãe de Deus:
“Salve, ó cheia de graça, o Senhor está contigo!”
Tropário da Ressurreição
- 1º tom:
Embora a pedra fora selada pelos Judeus,
e os soldados guardassem Teu puríssimo corpo, ressurgiste no terceiro dia, ó
Salvador, dando a vida ao mundo. Por isso, as potestades celestes a Ti, fator
da vida, clamaram glória à Tua ressurreição, ó Cristo, glória ao Teu reino,
glória à Tua providência, Tu que És o único filantropo.
Tropário Próprio:
Em
ti foi
conservada com
fidelidade a
imagem de
Deus, ó
Maria; pois
tomaste a
Cruz e
seguiste Cristo, ensinando, com
o teu
exemplo, a
desprezar o
corpo, porque mortal e
a cuidar da alma
imortal.
Por isso, ó Santa, tua alma se rejubila com os Anjos.
Por isso, ó Santa, tua alma se rejubila com os Anjos.
Kondakion – 1º tom:
Glória ao Pai , ao Filho e ao Espírito Santo.
Tu, sendo Deus, te levantaste do túmulo,
e devolveste a vida ao mundo; a natureza humana, por isso te louva: a morte foi
vencida, Adão se regozija, ó Mestre, e Eva, liberta agora das cadeias da morte,
com alegria exclama: Tu, Cristo, és o que a todos dá a Ressurreição!
Theotokion:
Agora, sempre e pelos séculos dos séculos.
Amém
Quando Gabriel te saudou, ó Virgem, dizendo:
"alegra-te!" e com sua voz, o Salvador encarnou-se em ti, tabernáculo
santo; e, como falava o Justo Davi: "veio do céu trazendo o Criador de tudo",
glória Àquele que habita em ti, glória Àquele nascido de ti e que nos libertou!
Kondakion Próprio:
Fugiste das trevas do pecado e te
iluminaste com
a luz
da penitência. Dirigiste o
teu coração a Cristo, ó gloriosa e apresentaste-lhe, como advogada compassiva, sua
Mãe Santíssima e isenta de toda
imperfeição alcançando, por isso, o perdão das culpas e a
felicidade com
os Anjos.
Prokimenon:
Desça sobre nós, Senhor, a tua misericórdia
conforme nossa esperança em Ti.
Exultai, ó justos, no Senhor, pois aos
retos convém o louvor.
Epístola Hb 6, 11-14
Leitura
da Epistola do Apóstolo São Paulo aos Hebreus.
Irmãos, Cristo, porém, veio como sumo sacerdote dos bens futuros. Ele entrou no Santuário através de uma tenda maior e mais perfeita, não feita por mãos humanas, nem pertencendo a esta criação. Ele entrou no Santuário, não com o sangue de bodes e bezerros, mas com seu próprio sangue, e isto, uma vez por todas, obtendo uma redenção eterna. De fato, se o sangue de bodes e touros e a cinza de novilhas espalhada sobre os seres impuros os santificam, realizando a pureza ritual dos corpos, quanto mais o sangue de Cristo purificará a nossa consciência das obras mortas, para servirmos ao Deus vivo! Pois em virtude do Espírito eterno, Cristo se ofereceu a si mesmo a Deus como vítima sem mancha.
Aleluia!
Aleluia, aleluia, aleluia!
Deus assegura a minha vitória e me submete
os meus adversários.
Aleluia, aleluia, aleluia!
Salva maravilhosamente seu servo e usa
de misericórdia com seu ungido.
Aleluia, aleluia, aleluia!
Evangelho Mc 10,32-45
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, segundo o Evangelista São Marcos.
Naquele tempo, Jesus e os discípulos estavam a caminho, subindo para Jerusalém. Jesus ia à frente, e eles, assombrados, seguiam com medo. Jesus, outra vez, chamou os doze de lado e começou a dizer-lhes o que estava para acontecer com ele: “Estamos subindo para Jerusalém, e o Filho do Homem será entregue aos sumos sacerdotes e aos escribas. Eles o condenarão à morte e o entregarão aos pagãos. Vão zombar dele, cuspir nele, açoitá-lo e matá-lo, mas três dias depois, ele ressuscitará”. Tiago e João, filhos de Zebedeu, aproximaram-se de Jesus e lhe disseram: “Mestre, queremos que faças por nós o que te vamos pedir”. Ele perguntou: “Que quereis que eu vos faça?” Responderam: “Permite que nos sentemos, na tua glória, um à tua direita e o outro à tua esquerda!” Jesus lhes disse: “Não sabeis o que estais pedindo. Podeis beber o cálice que eu vou beber? Ou ser batizados com o batismo com que eu vou ser batizado?” Responderam: “Podemos”. Jesus então lhes disse: “Sim, do cálice que eu vou beber, bebereis, com o batismo com que eu vou ser batizado, sereis batizados. Mas o sentar-se à minha direita ou à minha esquerda não depende de mim; é para aqueles para quem foi preparado”. Quando os outros dez ouviram isso, começaram a ficar zangados com Tiago e João. Jesus então os chamou e disse: “Sabeis que os que são considerados chefes das nações as dominam, e os seus grandes fazem sentir seu poder. Entre vós não deve ser assim. Quem quiser ser o maior entre vós seja aquele que vos serve, e quem quiser ser o primeiro entre vós seja o escravo de todos. Pois o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate por muitos”.
Kinonikon:
Tomarei o Cálice da Salvação e invocarei o nome
do Senhor!
Aleluia, aleluia, aleluia!
Sinaxe
O relato de Marcos é iniciado pelo terceiro
anúncio da Paixão e morte que o Senhor sofreria na Cidade de Jerusalém, feito
por Ele mesmo, enquanto caminhava com seus discípulos. Estes, estavam temerosos
e admirados por ver o Senhor seguir determinado rumo à cidade que lhe traria
tantos sofrimentos. Ante tal anúncio, porém, silenciaram; o diálogo foi
retomado pelos filhos de Zebedeu (Tiago e João) que apresentaram um pedido
ambicioso a Jesus: ocupar no Reino dos Céus os lugares de Honra.
Esta
solicitação, após o anúncio do sofrimento e morte do Senhor, parecia revelar a
falta de solidariedade e compaixão somadas a um extremo egoísmo por parte dos
dois. Seria como alguém muito querido e próximo de nosso convívio, anunciar sua
morte e questionarmos, em seguida, o quanto e o que ganharíamos por herança.
A este respeito
assim comenta São João Damasceno:
«Um coração repleto de preocupações mundanas deixa revelar
pela boca que não conhece verdadeiramente a Deus. Os filhos de Zebedeu ao
solicitar os primeiros lugares após a morte do Senhor, demonstraram sua
cegueira e rusticidade ante o Divino que ali estava».
Tiago e João
tinham uma concepção política muito forte a respeito do messianismo de Jesus.
Imaginavam que Ele iria reinar e sendo os dois mais próximos queriam garantir
os lugares mais nobres no Banquete celestial, antes que outros solicitassem tal
honra. Jesus transforma os pensamentos de soberba, grandeza e honras e os faz
recordar do serviço e da entrega: do banquete passa a refletir sobre a taça que
deveria beber. Mesmo assim, os discípulos diziam estar dispostos a beber do
cálice que estava reservado ao Senhor. Logo, o Senhor os admoesta dizendo que
compartilhariam da mesma sorte que Ele, mas em tempos diferentes. Quanto aos
lugares no Reino dos Céus, solicitados por eles, não caberia ao Senhor
garantir: somente Deus reserva os lugares e os reserva como quer. Aqueles que
ambicionam os primeiros lugares não são dignos do Reino, devem servir e não
serem servidos. Os discípulos de Jesus devem ser regidos por princípios opostos
aos do mundo. Na comunidade apostólica toda a ambição deve ser substituída pelo
espírito de serviço e humildade, pois nele se manifesta o amor, a entrega e a
oblação pelo irmão.
«O Filho do
Homem veio para servir e dar a sua vida em resgate de muitos».
Nesta frase
Jesus revela o porquê de sua morte: quer redimir os filhos de Deus e quer
resgatá-los para Deus, através do serviço e da entrega.
O poder no
Reino de Deus consiste no servir. O poder no reino do mundo consiste em ser
servido. No Reino do amor é diferente. O amor só tem poder enquanto ele é doado
e se coloca a serviço. Servir é ser pequeno, frágil. Frente ao pequeno nós, ou
nos revelamos solidários, ou sedentos e despóticos . Diante do irmão que parece
ser simples, sem importância descobriremos a nossa capacidade de amar.
A Festa de
Santa Maria do Egito nos faz corajosos em seguir o Senhor, no serviço aos
irmãos. De grande pecadora transformou-se em grande Santa da Igreja. Aquela que
estava perdida foi encontrada pelo Senhor. Não desanimemos, pois, em nossas
quedas e pecados. Que eles sejam transformados em trampolins que nos jogarão
para os braços misericordiosos do Pai.
«HOMILIA»
Esta é a última
semana da Grande Quaresma, e daqui a sete dias já se inicia a Semana Santa. Nós
cristãos devemos aproveitar estes últimos dias da Grande Quaresma para nos
tornarmos pessoas melhores do que quando começamos este santo período de
reflexão e arrependimento.
Como é da
tradição da Igreja Ortodoxa, todos os anos, no 5º domingo da Grande Quaresma,
celebramos a memória de Santa Maria do Egito, exemplo de fé e arrependimento. É
o verdadeiro arrependimento que traz o perdão de Cristo. E o arrependimento
também inclui o perdão aos nossos ofensores: é assim a oração que Cristo nos
ensinou. Perdão e arrependimento sempre caminham juntos com o amor e a
caridade, sentimentos estes fundamentais para a vida cristã (1Cor. 16:14).
Assim, nós cristãos, ao pesar nossas ações, devemos medi-las com a lei cristã
do amor.
Lembremos que a
alegria do amor de Cristo só é alcançada quando Seus ensinamentos e mandamentos
são seguidos.
Na 1ª Epístola,
São João afirma: “e tudo o que Lhe pedirmos, d’Ele receberemos, porque
guardamos os Seus mandamentos e fazemos o que é agradável a Seus olhos” (1Jo.
3:22).
A obediência
aos ensinamentos e mandamentos de Cristo é de extrema importância. São
Diadochos de Photiki disse: “É bem sabido que, dentre as virtudes da iniciação,
a obediência é a principal. Primeiramente ela substitui a mera presunção, e
assim gera a humildade dentro de nós” (Philokalia, V1, p. 266).
É pelo Santo
Evangelho que devemos nos orientar em nossa vida cristã. Como cristãos
ortodoxos, devemos buscar nosso alimento espiritual na vida e ensinamentos
de Cristo, dos Santos Apóstolos, e dos santos e
mártires da Santa Igreja de Cristo.
A Grande
Quaresma é tempo para nos concentrarmos nos cuidados da alma. Buscar a
purificação da alma deve ser a principal preocupação durante a jornada
quaresmal.
Assim, faz-se
necessário o verdadeiro arrependimento do pecado, a firme rejeição das práticas
pecaminosas e, principalmente, o amor de Deus.
A Paixão, Morte
e Ressurreição de Cristo se aproximam no horizonte da Grande Semana Santa.
Refletir profundamente sobre o amor e a humildade de Cristo é muito importante
para os cristãos que buscam a renovação em Cristo Deus.
Pelo Evangelho
de São Marcos (10: 32-45), tivemos hoje, nas palavras de Nosso Senhor Jesus
Cristo, uma eloquente lição de humildade e servidão. Como cristãos, devemos
abraçar e tomar para nós o exemplo de Cristo: sejamos, portanto, mais humildes.
Aqueles que reconhecem e se arrependem de seus pecados não podem ser
arrogantes.
Na vida cristã,
não há lugar para aqueles que se elevam com orgulho e arrogância sobre os
outros. Fazer bom uso de cada dia restante da Grande Quaresma é de suma
importância.
Nas palavras do
Santo Apóstolo Paulo: “agora é o tempo favorável, agora é o dia da salvação” (2
Cor. 6:2).
Extraído do Boletim Dominical n° 12 Igreja Ortodoxa Grega da Anunciação da Mãe de Deus - Brasília – DF
A
vida de nossa santa mãe, Maria do Egito
Traduzido do inglês por:Jandira Soares Pimentel
de texto encontrado na Internet.
«É bom esconder o segredo de um rei, mas é
glorioso revelar e praticar as obras de Deus.» (Tb 12,7)
Assim disse o
Arcanjo Rafael a Tobias quando o curou de sua cegueira. Na verdade, não guardar
o segredo de um rei é um grande e perigoso risco mas, silenciar sobre as obras
de Deus é uma grande perda para a alma. E eu (diz São Safrônio), ao escrever a
vida de Santa Maria do Egito, fico temeroso de esconder os feitos de Deus pelo
silêncio. Lembrando da desventura do servo infiel que escondeu os talentos
dados por Deus na terra (Mt 25: 18-25), estou seguro para contar a sagrada
estória a que tive acesso. E não pensem (continua S. Safrônio), que ousei
escrever alguma inverdade ou fato duvidoso sobre essa grande maravilha - que eu
nunca minta sobre coisas santas! Se acontecer que pessoas leiam esse relato e
não acreditem, que o Senhor tenha piedade delas, porque, refletindo sobre a
fraqueza da natureza humana, eles consideram impossível estas coisas
maravilhosas acontecerem com pessoas santas. Mas agora, devemos iniciar o
relato dessa incrível estória que aconteceu em nossa geração:
«Havia um certo
ancião em um dos mosteiros da Palestina, um padre de vida e palavra santas, que
desde a infância foi criado no caminho e nos costumes monásticos. Este ancião
chamava-se Zózimo. Em toda sua vida ascética e em tudo o mais, ele aderiu à
Regra dada a ele pelos seus mestres, no que dizia respeito aos trabalhos
espirituais e a isso ele acrescentou por si mesmo mais trabalhos, a fim de
sujeitar a carne à vontade do espírito. E ele não falhou no seu objetivo. Ele
era tão renomado por sua vida espiritual que muitos vinham a ele dos mosteiros
vizinhos e outros de bem longe. Durante sua vida nunca deixou de estudar as
Divinas Escrituras. Seja descansando ou de pé, trabalhando ou comendo (se as
migalhas que ele comia podiam ser chamadas alimento), ele incessantemente e
constantemente tinha um único objetivo: sempre cantar a Deus e praticar os
ensinamentos das Divinas Escrituras. Zózimo costumava contar que desde que foi
retirado do seio de sua mãe e foi entregue ao mosteiro, ele se submeteu ao
treinamento ascético até a idade de 53 anos. Depois disso, ele começou a ser
atormentado com o pensamento de que ele era perfeito em tudo e não necessitava
de instrução alguma de ninguém, dizendo a si mesmo mentalmente, "existirá
algum monge na terra que pode ser útil a mim e mostrar-me um tipo de
ascetismo" que eu já não tenha realizado? Haverá algum homem no deserto
que tenha me superado?»
Assim pensava o
ancião, quando de repente um anjo lhe apareceu e disse:
«Zózimo, você
lutou valentemente, tanto quanto esteja na capacidade humana, valentemente você
trilhou o caminho ascético. Mas, não há homem algum que tenha atingido a
perfeição. Antes que você minta, batalhas não conhecidas, maiores do que as
suas foram realizadas. Para que você conheça quantos outros caminhos levam à
salvação, deixe sua terra natal, como o patriarca Abraão e vá para o mosteiro à
margem do Rio Jordão».
Zózimo fez como
lhe fora dito. Deixou o mosteiro no qual vivera desde a infância e foi para o
Rio Jordão. Finalmente chegou à comunidade para onde Deus o enviara. Batendo à
porta do mosteiro, disse ao monge porteiro quem ele era e este reportou ao
abade. Sendo admitido à presença do abade, Zózimo fez a prostração usual e suas
orações.
Vendo que ele
era um monge o abade perguntou:
«De onde vens
irmão, e porque vieste a nós pobres anciãos?»
Zózimo
replicou:
«Não há
necessidade de dizer de onde eu vim, mas vim, Pai, buscando ajuda espiritual,
pois ouvi grandes maravilhas sobre sua habilidade em conduzir almas para Deus».
«Irmão», disse
o abade , «apenas Deus pode curar a enfermidade da alma. Que Ele ensine a ti e
a nós seus divinos caminhos e nos conduza a todos. Mas já que é o amor de
Cristo que te trouxe para visitar-nos, pobres anciãos, então fique conosco, se
é por isso que tu vieste. Que o Bom Pastor Que deu sua vida pela nossa salvação
encha-nos a todos com a graça do Santo Espírito».
Depois disso,
Zózimo se inclinou diante do abade, pediu suas orações e benção e ficou no
mosteiro. Lá ele conheceu anciãos zelosos, tanto na ação quanto na contemplação
do Senhor. Eles cantavam incessantemente, permaneciam em oração toda a noite, o
trabalho sempre em suas mãos e salmos em seus lábios.
Nunca uma
palavra vã era ouvida entre eles, nada sabiam sobre adquirir bens temporais ou
dos cuidados da vida. Tinham apenas um desejo - ter seus corpos como cadáveres.
Seu alimento constante era a Palavra de Deus, e mantinham seus corpos a pão e
água apenas; tanto quanto seu amor a Deus lhe permitiam. Vendo isto, Zózimo
ficou grandemente edificado e preparou-se para o combate que o esperava.
Muitos dias se
passaram e chegou o tempo, quando todos os cristãos jejuam e se preparam para
adorar a Divina Paixão e Ressurreição de Cristo.
Os portões do
mosteiro eram sempre fechados e se abriam apenas quando alguém da comunidade
era enviado para alguma incumbência. Era um local deserto, onde nunca apareciam
visitantes do mundo e sequer era conhecido deles.
Havia uma regra
no mosteiro que foi a razão pela qual Deus enviara Zózimo para lá. No início do
Grande Jejum (no Domingo do Perdão) o padre celebrava a sagrada Liturgia e
todos participavam do sagrado corpo e sangue do Senhor. Depois da Liturgia eles
iam ao refeitório e podiam comer um pouco de comida quaresmal.
Em seguida,
todos se reuniam na igreja e depois de rezarem fervorosamente com prostrações,
os anciãos se beijavam e pediam-se mutuamente perdão. E cada um fazia uma
prostração diante do abade, pedia sua benção e orações para o combate que iam
enfrentar. Depois disso, os portões do mosteiro se abriam e cantando, «O Senhor
é minha luz e meu Salvação; a quem temerei? O Senhor é o defensor de minha
vida; de quem terei medo?» (Salmo 26:1) e o resto daquele salmo, todos saiam
para o deserto e atravessavam o Rio Jordão. Apenas um ou dois irmãos
permaneciam no mosteiro, não para guardar a propriedade (pois nada havia para
ser roubado), mas para não deixar a igreja sem o Divino Ofício. Cada um levava
consigo o quanto podia ou desejava em alimento, de acordo com as necessidades
de seu corpo: um tomaria um pequeno pão, outro alguns figos, um outro algumas
tâmaras ou trigo misturado em água. Alguns nada levavam, mas apenas seus corpos
cobertos com trapos e quando a natureza os forçava, se alimentavam de plantas
que nasciam no deserto.
Depois de atravessar
o Jordão, eles se espalhavam em diferentes direções, longe uns dos outros. E
esta era a regra de vida que eles tinham e que todos observavam - nenhum
deveria falar com o outro, nem saber como o outro vivia ou jejuava. Se
acontecesse de um avistar o outro, deveria este se afastar para outra parte da
região, vivendo só e sempre cantando a Deus e na hora definida comer uma
pequena porção de comida. Desse modo passavam toda a Quaresma e geralmente
retornavam ao mosteiro uma semana antes da Ressurreição de Cristo, no Domingo
de Ramos. Cada um retornava tendo apenas sua própria consciência como
testemunha de seu labor e nenhum perguntava a outro como ele passara seu tempo
no deserto. Tais eram as regras no mosteiro. Cada um deles, enquanto no
deserto, pelejava consigo mesmo, diante do Juiz da batalha - Deus - não
buscando agradar a homens, nem jejuar diante dos olhos de todos. Pois o que é
feito para agradar aos homens, ganhar elogios e honrarias, não só é inútil para
quem o faz mas muitas vezes é causa de grande castigo.
Zózimo fez como
os demais. E foi para longe, bem longe no deserto com um desejo secreto de
encontrar algum Pai que estivesse vivendo ali e que pudesse satisfazer sua sede
e desejo de Deus. E vagou sem descanso como se corresse para algum lugar
definido. Já tinha andado por vinte dias e quando veio a sexta hora ele parou e
voltando-se para o oriente, começou a cantar a Sexta Hora e recitar as orações
costumeiras. Ele costumava interromper sua jornada em determinados horários
para descansar um pouco, para cantar salmos de pé e rezar de joelhos.
Assim cantava,
sem tirar os olhos dos céus quando subitamente, viu à direita da colina em que
se encontrava, algo semelhante a um corpo humano. No início ele ficou confuso,
pensando tratar-se de uma visão do demônio e chegou a ter medo. Mas, tendo
feito o sinal da Cruz e banido todo o medo, volveu o olhar naquela direção e na
verdade viu algo deslizando na direção sul. A forma estava nua, a pele escura,
como se queimada completamente pelo calor do sol; o cabelo em sua cabeça era
branco como lã e não comprido, indo somente até abaixo do pescoço. Zózimo ficou
tão cheio de alegria ao perceber uma forma humana que correu atrás em
perseguição, mas a forma fugiu dele.
Ele a seguiu,
contudo. Finalmente, quando estava próximo a ponto de ser ouvido, ele gritou:
«Por que tu
foges de um homem velho e pecador? Escravo do Deus Verdadeiro, espere por mim,
quem quer que sejas, em nome de Deus eu te digo, pelo amor de Deus, pelo amor
de Quem você vive nesse deserto!»
«Perdoa-me,
pelo amor de Deus, mas não posso me voltar em tua direção e mostrar-te minha
face, Pai Zózimo. Pois sou uma mulher e estou nua como vês, com as partes
vergonhosas descobertas. Mas se podes satisfazer um desejo de uma pecadora,
atira-me tua capa de modo que eu possa cobrir meu corpo e voltar-me para que
possas abençoar-me».
Aqui o pavor se
apoderou de Zózimo, pois ele ouviu ela chamá-lo pelo nome. Mas compreendeu que
ela não poderia ter feito isso sem conhecê-lo, se não possuísse uma clarividência
espiritual.
Então ele
atendeu ao que ela pedia. Retirou sua velha e gasta capa e atirou-lhe,
afastando-se enquanto fazia isso.Ela pegou-o e cobriu pelo menos uma parte de
seu corpo.
Quando se
voltou para Zózimo disse:
«Por que
desejaste, Pai Zózimo, ver uma mulher pecadora? O que desejas ouvir ou aprender
de mim, tu que não te encolheste diante de grandes obstáculos?»
Zózimo
atirou-se ao chão e pediu-lhe a benção. Ela igualmente se curvou diante dele. E
assim, ficaram no chão, prostrados, pedindo a bênção um do outro. E apenas uma
palavra podia ser ouvida de ambos: "Abençoe-me!" Depois de um tempo a
mulher disse a Zózimo:
«Pai Zózimo, és
tu quem deves abençoar e rezar. Tu és dignificado com a ordem do sacerdócio e
por muitos anos tens estado diante do altar sagrado, oferecendo o sacrifício
dos Divinos Mistérios».
Isto deixou
Zózimo apavorado. Finalmente, com lágrimas ele disse a ela:
«Oh Mãe, cheia
do espírito, por teu modo de vida é evidente que vives com Deus e morreste para
o mundo. A Graça a ti concedida é aparente - pois me chamaste pelo meu nome e
soubeste que sou um sacerdote, embora nunca me tenhas visto antes. A Graça é
reconhecida não por uma ordem mas pelos dons do Espírito, então, conceda-me tua
benção pelo amor de Deus, pois necessito de tuas preces».
Então, cedendo
ao desejo do ancião ela disse:
«Abençoado é
Deus que zela pela salvação dos homens e de suas almas».
Ao que Zózimo
respondeu:«Amem».
Então ambos se
levantaram. E ela lhe disse:
«Por que
vieste, homem de Deus, a mim que sou tão pecadora? Por que desejas ver uma
mulher nua e despida de toda virtude? Embora eu saiba uma coisa - a Graça do
Espírito Santo trouxe-te a mim para prestares-me um serviço no tempo devido.
Diga-me pai, como estão vivendo os cristãos? E os reis? Como está sendo
conduzida a Igreja?»
Zózimo disse:
«Por suas
preces, mãe, Cristo tem concedido paz duradoura a todos. Mas, realize um pedido
indigno de um velho homem para o mundo inteiro e ore por mim que sou pecador,
de modo que meu vaguear no deserto não seja infrutífero».
Ela
respondeu-lhe:
«Tu, que és um
sacerdote, Pai Zózimo, é quem deves rezar por mim e para todos - pois este é o
teu chamado. Mas como devemos todos ser obedientes, farei alegremente o que me
pedes».
E com estas
palavras ela se voltou para o oriente e levantando seus olhos para o céu e
estendendo suas mãos, começou a rezar num murmúrio. Não se podia ouvir palavras
distintas, de modo que Zózimo não conseguiu entender coisa alguma do que ela
dizia em suas preces. Enquanto isso, ele permanecia de pé, de acordo com sua
própria palavra, palpitando, olhando para o chão, sem dizer nada. E ele jurou,
chamando a Deus por testemunha, que quando finalmente, pensando que a prece se
alongava muito, elevou seus olhos do chão viu que ela permanecia elevada no solo
cerca de um braço de distância e orava suspensa no ar. Quando ele viu isso mais
pavor se apoderou dele e ele caiu ao chão soluçando e repetindo várias vezes,
"Senhor, tenha compaixão."
E assim
prostrado no chão foi tentado por um pensamento: isto é um espírito e talvez
sua oração seja hipocrisia. Mas no mesmo instante a mulher se voltou, elevou-o
do solo e disse:
«Por que o
pensamento te confunde, Pai, e te tenta a meu respeito, como se eu fosse um
espírito e uma fingidora na oração? Saiba, santo pai, que eu sou apenas uma
mulher pecadora, embora guardada pelo santo Batismo. E não sou um espírito, mas
terra, cinza e carne apenas».
Com estas
palavras ela se protegeu com o sinal da Cruz em sua testa, olhos, boca e peito,
dizendo:
«Defenda-nos
Deus contra o maligno e de seus desígnios, pois feroz é sua batalha contra
nós».
Ouvindo e vendo
isto, o ancião caiu ao chão e abraçando seus pés, disse entre lágrimas:
«Eu te suplico,
pelo Nome de Cristo, nosso Deus, que nasceu de uma Virgem, por cujo amor te
despojaste, por cujo amor exauriste tua carne, não te escondas de teu servo;
quem és tu, de onde vens e como vieste a este deserto. Diga-me tudo de modo que
as maravilhas realizadas por Deus sejam conhecidas. Uma sabedoria escondida e
um tesouro secreto - qual proveito há neles? Diga-me tudo, eu te imploro. Não
por vaidade ou por exibicionismo falarás, mas para revelar a verdade a mim, um
pecador indigno. Creio em Deus, para quem vives e a quem serves. Acredito que
Ele me conduziu a este deserto para mostrar-me Seu caminho no que diz respeito
a ti. Não está em nosso poder resistir aos planos de Deus. Se não fosse por
vontade dele que tu e tua vida fossem conhecidas, Ele não teria me permitido
ver-te e não teria me concedido forças para empreender essa jornada, a um como
eu que nunca antes ousou deixar sua cela».
Muito mais
disse Pai Zózimo. Mas a mulher o ergueu e disse:
«Estou
envergonhada, Pai, de falar-te de minha desgraçada vida, perdoe-me, por amor de
Deus! Mas já que viste meu corpo nu, devo do mesmo modo, desnudar minhas ações,
de modo que saibas com quanta vergonha e obscenidade minha alma está cheia. Eu
não corria por vaidade, como pensaste, pois de que devo orgulhar-me - eu que
fui um vaso escolhido pelo demônio? Mas quando eu começar minha estória, correrás
de mim como se de uma serpente, pois seus ouvidos não suportarão a vileza de
meus atos. Mas devo contar tudo sem esconder nada, apenas implorando antes a
ti, que rezes por mim, incessantemente, de modo que eu obtenha a misericórdia
no dia do Julgamento».
O ancião chorou
e a mulher iniciou sua estória.
«Minha terra
natal, santo Pai, é o Egito. Ainda quando meus pais eram vivos e eu tinha doze
anos, renunciei ao amor deles e fui para Alexandria. Estou envergonhada de
relembrar como então, eu primeiro perdi minha virgindade e em seguida,
incontida e insaciavelmente, entreguei-me à sensualidade. Falarei disso
brevemente, de modo que apenas saibas da minha paixão e lascívia. Por cerca de
dezessete anos, perdoe-me, vivi desse modo. Eu era como um fogo de depravação
pública. E não era por amor ao ganho - aqui eu falo a pura verdade.
Freqüentemente, quando eles desejavam pagar-me, eu recusava o dinheiro. Agia
dessa maneira para fazer com que, tantos homens quantos fosse possível
desejassem possuir-me, fazendo de graça o que me dava prazer. Não pense que eu
fosse rica e essa fosse a razão pela qual eu não pegasse o dinheiro. Eu vivia
de pedir e de tecer, mas tinha um desejo insaciável e uma paixão irreprimível
por deitar-me na lama. Isto era vida para mim. Todo tipo de abuso da natureza
eu considerava ser vida.
Assim eu vivia.
Então, num verão eu vi uma grande multidão de líbios e egípcios correrem em
direção ao mar. Perguntei a um deles, 'para onde estão indo todos esses
homens?' Ele respondeu, 'eles estão indo a Jerusalém, para a Exaltação da Cruz
Preciosa e Vivificante, que ocorrerá dentro de alguns dias.' Eu disse a ele,
'tu me levas junto se eu desejar ir?' 'Ninguém te impedirá de ir se tens
dinheiro para pagar a viagem e a comida.' E eu lhe disse: 'para dizer a
verdade, não tenho dinheiro, nem alimento. Mas irei com eles e estarei à bordo.
E eles me alimentarão, queiram ou não. Eu tenho um corpo - eles o tomarão ao
invés de pagar pela viagem.' De repente enchi-me de desejo de ir, Pai, para ter
mais amantes que pudessem satisfazer minha paixão. Eu disse a ti, Pai Zózimo,
que não me forçasses a contar-te sobre minha desgraça. Deus é minha testemunha,
estou receosa de corromper-te e até ao ar, com minhas palavras».
Zózimo,
soluçando, replicou:
«Fala, pelo
amor de Deus, Mãe, fala e não quebra o fio de tão edificante estória».
E, continuando
sua estória, ela prosseguiu:
«Aquele jovem,
ouvindo minhas palavras desavergonhadas, riu e foi-se embora. Enquanto que eu,
jogando fora o tear, corri em direção ao mar na direção que todos pareciam
seguir e vendo alguns rapazes de pé na praia, cerca de dez ou mais, cheios de
vigor e prontidão em seus movimentos, decidi que eles serviam aos meus
propósitos; (parecia que alguns esperavam por mais passageiros enquanto outros
tinham ido à terra). Desavergonhadamente, como sempre, misturei-me à multidão,
dizendo, 'levem-me consigo para onde estão indo; vocês não vão me achar
supérflua.' Também acrescentei mais algumas palavras provocando o riso geral.
Vendo minha prontidão para a falta de vergonha, eles prontamente colocaram-me a
bordo na embarcação. Aqueles que eram esperados também vieram e finalmente
partimos.
Como posso
relatar o que aconteceu depois disso? Que língua pode contar, que ouvidos podem
receber tudo o que aconteceu naquela embarcação durante aquela viagem! Dizer
que eu freqüentemente forçava aqueles pobres moços, até contra sua própria
vontade!? Não há depravação alguma, mencionável ou não, que eu não lhes tenha
ensinado. Estou surpresa, Pai, como o mar suportou nossa licenciosidade, como a
terra não abriu suas mandíbulas, e como o inferno não me engoliu viva, enquanto
eu prendia em minha teia tantas pessoas. Mas, acredito que Deus estava buscando
meu arrependimento. Pois ele não deseja a morte do pecador, mas magnanimamente
espera seu retorno a Ele. Finalmente chegamos a Jerusalém. Passei os dias antes
do festival na cidade, vivendo o mesmo tipo de vida, talvez até pior. Eu não
estava contente com os jovens que tinha seduzido em alto mar e que me ajudaram
a chegar a Jerusalém; também seduzi a muitos outros, tanto da cidade quanto
estrangeiros que lá estavam.
O dia sagrado
da Exaltação da Cruz despontou, enquanto eu ainda estava à caça de jovens. Ao
amanhecer, vi que todos corriam para a igreja então, corri com o resto deles.
Quando a hora da sagrada elevação se aproximou eu estava tentando abrir caminho
entre a multidão, que lutava para chegar às escadarias. Finalmente, com grande
dificuldade, consegui ir me espremendo quase até às portas da igreja, de onde a
Vivificante Árvore da Cruz estava sendo mostrada ao povo. Mas quando eu pisei
no limiar da porta, por onde todos entraram, fui impedida por uma força que não
me deixou entrar. Entretanto, completamente ignorada pela multidão me encontrei
sozinha no pórtico da igreja. Pensando que isto tivesse acontecido devido à
minha fraqueza de mulher, comecei novamente a abrir caminho com os cotovelos no
meio da multidão. Mas era em vão meu esforço. Novamente meus pés pisaram no
limiar onde outros iam entrando na igreja, sem encontrar nenhum obstáculo. Eu
somente parecia não ser aceita na igreja. Era como se um destacamento de
soldados estivesse lá de pé, se opondo à minha entrada. Mais uma vez fui
excluída pela mesma força poderosa e novamente fiquei no limiar.
Havendo tentado
por três ou quatro vezes, finalmente me senti esgotada e não tendo mais forças
para empurrar e ser empurrada, fui para o lado e permaneci num canto do
pórtico. E então, com grande dificuldade, começou a despontar algo em mim e
comecei a perceber a razão pela qual eu estava sendo impedida de ver a Cruz
Vivificante. A palavra da salvação gentilmente tocou os olhos do meu coração e
revelou-me que era minha vida impura que fechava a entrada para mim. Comecei a
chorar e lamentar e bater no meu peito e a suspirar das profundezas do meu
coração. E assim permaneci chorando, quando vi acima, um ícone da Santíssima
Mãe de Deus. E voltando para ela meus olhos do corpo e da alma eu disse:
'Ó Senhora, Mãe
de Deus, que deste à luz na carne a Deus, a Palavra; eu sei, ó quão bem eu sei,
que não há nenhuma honra ou louvor para vós quando alguém tão impura e
depravada como eu, olha para teu ícone, ó sempre Virgem, que mantiveste vosso
corpo e alma na pureza. Certamente inspiro desprezo e desgosto ante vossa
pureza virginal. Mas já ouvi que Deus, que nasceu de vós, se tornou homem para
chamar pecadores à conversão. Então, ajude-me, pois não tenho outro auxílio.
Ordene que os portais da igreja se abram para mim. Permita-me ver a venerável
Árvore na qual Ele que nasceu de vós, sofreu na carne e na qual Ele derramou
seu preciosíssimo Sangue pela redenção dos pecadores e para mim, indigna como
sou. Seja minha testemunha fiel diante de Teu Filho que eu nunca mais
corromperei meu corpo na impureza da fornicação, mas tão logo eu veja a Árvore
da Cruz, renunciarei ao mundo e às suas tentações e irei onde quer que me
conduzas.
Assim falei e
como se recobrasse nova esperança, com fé firme e sentindo alguma confiança na
misericórdia da Mãe de Deus, deixei o lugar onde tinha ficado rezando. E fui
novamente, misturada à multidão que fazia seu caminho dentro do templo. E
ninguém parecia impedir-me, ninguém estorvou minha entrada na igreja. Fiquei
possuída de tremor e estava quase à beira do delírio. Tendo chegado tão próximo
das portas, o que eu não conseguira antes, como se a mesma força que me
impedira agora abrisse caminho para mim, eu agora entrava sem dificuldade e me
encontrei no lugar santo. E então vi a Cruz Vivificante. Vi também os Mistérios
de Deus e como o Senhor aceita o arrependimento. Jogando-me ao chão, adorei
aquela terra santa e tremendo, beijei-a. Então saí da igreja e fui àquela que
prometeu ser minha segurança, ao lugar onde eu selei meu voto. E dobrando meus
joelhos diante da Virgem Mãe de Deus dirigi a ela estas palavras:
'Ó Amável
Senhora, vós mostrastes-me vosso grande amor por todos os homens. Glória a
Deus, que aceita o arrependimento de pecadores através de vós. O que mais posso
lembrar ou dizer, eu que sou tão pecadora? É hora para mim, ó Senhora, de
cumprir meu voto, de acordo com o vosso testemunho. Agora, conduza-me pela mão
pelo caminho do arrependimento!' E ao dizer estas palavras ouvi uma voz do
alto:
'Se tu
atravessares o Jordão irás encontrar glorioso repouso'.
Ouvindo esta
voz e crendo que eram para mim, gritei para a Mãe de Deus:
Ó Senhora,
Senhora, não me abandones!'
Com estas
palavras deixei o pórtico da igreja e parti para minha jornada. Quando eu ia
deixando a igreja um estranho olhou-me e deu-me três moedas, dizendo:
'Irmã, tome
isto.'
Pegando o
dinheiro, comprei três pães e levei-os comigo como um presente abençoado.
Perguntei à pessoa que vendeu os pães: 'Qual é o caminho para o Jordão?' Fui
direcionada para o portão da cidade que conduzia àquele caminho. Correndo
atravessei os portões e ainda chorando iniciei minha jornada. Perguntei o
caminho àqueles que encontrei e depois de caminhar pelo resto daquele dia,
(penso que eram nove horas quando eu vi a Cruz), finalmente, ao por do sol,
alcancei a igreja de São João Batista, que ficava na margem do Jordão. Depois
de rezar no templo, desci o Jordão e lavei o rosto e as mãos nas águas santas.
Participei dos santos e vivificantes Mistérios na Igreja do Precursor e comi a
metade de um dos pães. Em seguida, após beber um pouco de água do Jordão,
deitei-me e passei a noite no chão. Pela manhã encontrei um pequeno bote e
cruzei para o lado oposto. Novamente, rezei à Nossa Senhora para conduzir-me
onde desejasse. Então, encontrei-me nesse deserto e desde então até o dia de
hoje sou estranha a todos, mantendo-me longe das pessoas e delas fugindo. E
vivo aqui, agarrando-me ao meu Deus Que salva a todos que se voltam para Ele,
os de coração fraco e nas tempestades».
Zózimo
perguntou-lhe:
«Quantos anos
se passaram desde que começaste a viver neste deserto?»
Ela replicou:
«Quarenta e
sete anos se passaram, creio, desde que deixei a cidade santa».
Zózimo
inquiriu:
«Mas qual
alimento encontraste?»
A mulher disse:
«Eu tinha dois
pães mais a metade quando cruzei o Jordão. Logo eles ficaram duros como pedra.
Comendo aos pouquinhos eles acabaram em alguns poucos anos».
Zózimo
continuou:
«Como se
explica que tenhas vivido por tão longos anos, assim, sem ficares doente, sem
sofrer de algum modo uma mudança tão completa?»
Ela respondeu:
«Tu me lembras,
Zózimo, do que eu não ouso falar. Pois quando me lembro dos perigos que
superei, todos os pensamentos violentos que me confundiram, novamente tenho
receio de que eles venham a me dominar».
Zózimo falou:
«Não escondas
nada de mim; fala-me sem ocultar coisa alguma».
E ela respondeu-lhe:
«Creia-me, Pai,
por dezessete anos vivi nesse deserto lutando contra feras selvagens - desejos
loucos e paixões. Quando ia me alimentar eu costumava lamentar a carne e o
peixe que eu tinha em abundância no Egito. Lamentava também não ter vinho que
eu apreciava tanto, pois eu bebia muito vinho quando vivia no mundo, enquanto
aqui eu nada tinha, nem mesmo água. Queimava-me até sucumbir de sede. Um desejo
atroz de canções libertinas também me perturbavam e me confundiam grandemente,
levando-me quase a cantar canções satânicas, que eu tinha aprendido antes. Mas
quando esses desejos me vinham, eu batia no peito e me recordava do voto que
tinha feito antes de vir para o deserto. Em meus pensamentos voltava-me para o
ícone da Mãe de Deus que me tinha recebido e a quem clamava na oração.
Implorava-lhe para dar caça a esses pensamentos, diante dos quais minha alma
estava sucumbindo. E depois de chorar por longo tempo e batendo no peito, eu
costumava ver uma luz que parecia brilhar sobre mim de algum lugar. E depois da
violenta tempestade finalmente vinha a paz.
E como posso
dizer-lhe sobre os pensamentos que me instavam à fornicação, como posso
expressá-los a ti, Pai? Um fogo inflamava meu miserável coração que parecia
queimar-me completamente e me despertava uma sede de abraços. Tão logo esse
desejo me surgia, eu jogava-me ao solo e molhava-o de lágrimas, como se visse
diante de mim minha testemunha, que tinha me aparecido em minha desobediência e
que parecia ameaçar punição para o castigo. E eu não me erguia do chão (algumas
vezes ficava lá prostrada por um dia e uma noite), até que a calma e a doce luz
descesse e me iluminasse e pusesse em fuga os pensamentos que me possuíram. Mas
sempre eu voltava os olhos de minha mente para minha protetora, pedindo-lhe para
estender seu auxílio a uma que estava afundando rápido nas dunas do deserto. E
sempre a tive como meu socorro e aquela que aceitava meu arrependimento. E
assim vivi por dezessete anos, entre constantes perigos. E desde então a Mãe de
Deus me auxilia em tudo e me conduz como se pela mão fosse».
Zózimo
perguntou:
«Como pode ser
que não tenhas necessitado de alimento e roupas?»
Ela respondeu:
«Quando
terminaram os pães que trouxe, de que já falei, por dezessete anos me alimentei
de ervas e tudo que pudesse ser encontrado no deserto. As roupas que eu trazia
quando atravessei o Jordão se tornaram rotas e gastas. Sofri grandemente o frio
e também o calor extremo. Às vezes o sol me queimava completamente e em outras
eu estremecia enregelada e freqüentemente caia ao chão onde permanecia inerte,
sem respirar. Eu lutava contra muitas aflições e com terríveis tentações. Mas
desde então e até agora, o poder de Deus numerosas vezes guardou minha alma
pecadora e meu pobre corpo. Mas quando penso nos perigos dos quais Nosso Senhor
me livrou, tenho alimento imperecível de esperança e salvação. Sou alimentada e
vestida pela toda poderosa Palavra de Deus, o Senhor de todos. Pois não é
somente de pão que se vive. E aqueles que se despojaram dos trapos do pecado
não encontram refúgio, escondendo-se nos vãos das rochas (Job 24; Heb 11:38)».
Ouvindo-a citar
as Escrituras, de Moisés a Job, Zózimo perguntou-lhe:
«E então tens
lido os Salmos e outros livros?»
Ela sorriu a
isto e disse ao ancião:
«Creia-me,
desde que atravessei o Jordão não vi um rosto humano, exceto o teu hoje. Não vi
uma fera ou uma criatura viva desde que vim ao deserto. Nunca aprendi nos
livros. Também nunca ouvi alguém que cantasse ou lesse deles. Mas a palavra de
Deus que é viva e ativa, por si mesmo, ensina a um homem o saber. E assim chega
ao fim minha estória. Mas como te pedi no início, e também agora, imploro pelo
amor da Palavra encarnada de Deus, reze ao Senhor por mim que sou tão grande
pecadora».
Assim
terminando, ela se inclinou diante dele. Com lágrimas ele exclamou:
«Bendito é Deus
Que cria o grande e o maravilhoso, o magnífico e o glorioso sem fim. Bendito é
Deus que me mostrou como Ele recompensa aqueles que O temem. Verdadeiramente, Ó
Deus, Vós não abandonais aqueles que vos buscam!»
E a mulher, não
permitindo ao ancião curvar-se diante dela, disse:
«Eu te peço,
santo Pai, pelo amor de Jesus Cristo, nosso Deus e Salvador, não contes a
ninguém o que ouviste, até que Deus me tire desse mundo. E agora vá em paz e
novamente me verás no próximo ano e eu a ti , se Deus nos preservar em Sua
grande misericórdia. Mas, pelo amor de Deus, faças como te peço. No próximo
ano, durante a Quaresma, não atravesses o Jordão, como é costume no mosteiro».
Zózimo ficou
surpreso ao ver que ela conhecia as regras do Mosteiro e só pôde dizer:
«Glória a Deus
que concede grandes dons àqueles que O amam».
Ela continuou:
«Permaneça,
Pai, no mosteiro. E mesmo que desejes partir, não o conseguirás. E ao por do
sol do dia santo da Última Ceia, coloque um pouco do vivificante Corpo e Sangue
de Cristo dentro de um cálice sagrado, digno de conter tais Mistérios e
traga-os para mim. E espere por mim na margem do Jordão, nas vizinhanças das
partes habitadas da terra, de modo que eu possa vir e participar dos Dons
vivificantes. Pois, desde a vez que comunguei no templo do Precursor, antes de
atravessar o Jordão até este dia, não mais me aproximei dos Sagrados Mistérios.
E tenho sede deles com irreprimível amor e desejo. E assim, peço e imploro a ti
que me concedas essa graça, traga-me os Mistérios vivificantes nessa mesma
hora, quando Nosso Senhor fez com que seus discípulos participassem de sua
Divina Ceia. Diga ao Abade João do mosteiro onde vives: 'Cuida de si e de teus
irmãos, pois há muito o que se corrigir'. Apenas não digas isto agora, mas
quando Deus te conduzir. Ora por mim!»
Com estas
palavras ela desapareceu nas profundezas do deserto. E Zózimo, caindo de
joelhos e curvando-se em direção ao chão onde ela havia estado, deu glória e
graças a Deus. E depois de vagar através do deserto, ele voltou ao mosteiro no
dia em que todos os irmãos retornavam.
Durante todo o
ano ele manteve silêncio, não ousando contar a ninguém o que tinha visto. Mas
rezava a Deus para conceder-lhe outra chance de ver o querido e ascético rosto.
E quando finalmente chegou o primeiro domingo do Grande Jejum, todos partiram
para o deserto com as orações costumeiras e os cantos dos salmos. Apenas Zózimo
ficou retido, doente - estava em febre. E ele se lembrou do que a santa lhe
dissera: "e mesmo se desejares partir, não conseguirás."
Muitos dias se
passaram e finalmente, recuperando-se de sua doença ele permaneceu no mosteiro.
E quando aconteceu que os monges retornaram e o dia da Última Ceia despontou,
ele fez como fora ordenado. E colocando um pouco do puríssimo Corpo e Sangue
dentro de um pequeno cálice e colocando alguns figos, tâmaras e lentilhas
mergulhadas em água dentro de um cestinho, partiu para o deserto e alcançou as
margens do Jordão e se sentou esperando pela santa. Ele aguardou um bom tempo e
depois começou a duvidar. Então, levantando os olhos para o céu começou a
rezar:
«Concede-me ó
Senhor, ver aquela que me concedeste uma vez contemplar. Não me deixes partir
em vão por causa do peso de meus pecados».
E então, outro
pensamento lhe ocorreu:
«E se ela vier?
Não há nenhum barco; como ela irá atravessar o Jordão para vir a mim, que sou
tão indigno?»
Ainda assim
pensava, quando viu a santa mulher aparecer e parar do outro lado do rio.
Zózimo se levantou, alegrando-se, dando glória e agradecendo a Deus. E
novamente veio a ele o pensamento de que ela não poderia atravessar o Jordão.
Então ele viu-a fazer o sinal da Cruz sobre as águas do rio Jordão (e a noite
era de lua, como ele relatou mais tarde) e então ela pisou nas águas e começou
a caminhar sobre a superfície, em direção a ele. E quando ele desejou se
prostrar ela gritou para ele, ainda caminhando sobre a água:
«O que estás
fazendo, Pai, tu és um sacerdote e estás levando os divinos Dons»!
Ele
obedeceu-lhe e ao chegar à praia ela disse ao ancião:
«Pai,
abençoa-me, abençoa-me!»
Ele respondeu
tremendo, pois um estado de confusão tomara conta dele ao presenciar o milagre:
«Verdadeiramente
Deus não mentiu ao prometer que quando estivéssemos puros seríamos como Ele.
Glória a Vós, Cristo nosso Deus, Que me mostraste através dessa vossa serva,
quão distante eu estou da perfeição».
Aqui a mulher
pediu-lhe para rezar o Credo e o Pai Nosso. Ele iniciou, ela terminou oração e
de acordo com o costume daquela época, deu-lhe o beijo da paz nos lábios. Tendo
participado dos Santos Mistérios, ela elevou suas mãos para o céu e suspirou
com lágrimas em seus olhos, exclamando:
«Agora, deixai
vossa serva ir em paz, Ó Senhor, de acordo com Vossa palavra, pois meus olhos
viram a Vossa salvação».
Depois ela disse
ao ancião:
«Perdoa-me,
Pai, por pedir-lhe, mas conceda-me outro favor. Vá agora para o mosteiro e que
a graça de Deus te guarde. E no próximo ano, venha novamente ao mesmo lugar
onde primeiro encontrei-te. Venha, por amor de Deus, pois tu me verás novamente,
pois tal é a vontade de Deus.»
Ele disse a
ela:
«A partir desse
dia eu gostaria de seguir-te e sempre ver teu rosto santo. Mas por ora realize
o único desejo desse velho homem e tome um pouco do alimento que eu te trouxe».
E ele
mostrou-lhe a cesta, sendo que ela apenas tocou com a ponta dos dedos as
lentilhas e pegando alguns grãos disse que o Espírito Santo guarda a substância
da alma impoluta. Então acrescentou:
«Reza, pelo
amor de Deus, por mim e lembre-se de uma miserável pecadora».
Tocando os pés
da santa e pedindo suas orações pela Igreja, pelo reino e por si próprio, ele
deixou-a partir com lágrimas, enquanto ele se ia suspirando e muito sentido,
pois ele não podia esperar vencer o invencível. Enquanto isso ela novamente fez
o sinal da Cruz sobre o Jordão, pisou nas águas e atravessou-o como antes. E o
ancião voltou, cheio de alegria e terror, acusando-se a si mesmo de não ter
perguntado à santa o seu nome. Mas decidiu fazê-lo no próximo ano.
E quando outro
ano se passou, ele foi novamente para o deserto. Alcançou o mesmo lugar mas não
pôde ver ninguém. Então, levantando os olhos ao céu como antes, rezou:
«Mostra-me, Ó
Senhor, vosso puro tesouro, que escondeste no deserto. Mostra-me, eu vos peço,
o anjo na carne, de quem o mundo não é digno."
Então, no lado
oposto do rio, sua face voltada para o sol nascente, ele viu a santa, morta no
chão. Suas mãos estavam cruzadas de acordo com o costume e sua face voltada
para o Leste. Correndo, ele chorava sobre os pés da santa e beijava-os, não
ousando tocar mais nada».
Por um longo
tempo ele chorou. Depois recitando os salmos apropriados, disse as orações
fúnebres e pensou consigo : "Devo enterrar o corpo de uma santa? Ou isto
seria contrário aos seus desejos?" E então ele viu palavras traçadas no
chão, perto da cabeça dela:
«Pai Zózimo,
enterra neste local o corpo da humilde Maria. Volte ao pó o que é pó e reza ao
Senhor por mim, que parti no mês de Fermoutin do Egito, chamado Abril pelos
Romanos, no primeiro dia, na mesma noite da Paixão de Nosso Senhor, depois de
participar dos Divinos Mistérios». (Sta. Maria morreu em 522 A.D.)
Lendo isto o
ancião ficou feliz de conhecer o nome da santa. Ele compreendeu também que, tão
logo ela participou dos Divinos Mistérios na margem do Jordão, ela foi
transportada ao lugar onde faleceu. A distância que Zózimo levou vinte dias
para cobrir, Maria evidentemente atravessou em uma hora e finalmente entregou
sua alma a Deus.
Então Zózimo
pensou:
"Está na
hora de fazer o que ela pediu. Mas como vou cavar uma sepultura sem nada nas
mãos?”
E então ele viu
nas proximidades um pequeno pedaço de madeira deixado por algum viajante do
deserto. Pegando-o começou a cavar o chão. Mas a terra era dura e seca e não
correspondia aos esforços do velho. Ele ficou cansado e molhado de suor.
Suspirava das profundezas de sua alma e levantando os olhos viu um grande leão,
próximo ao corpo da santa, a lamber-lhe os pés. À vista do leão ele tremeu de
medo, especialmente quando se lembrou das palavras de Maria de que ela nunca
havia visto feras selvagens no deserto. Mas, protegendo-se com o sinal da Cruz,
ele pensou que o poder daquela que ali jazia, o protegeria e o guardaria
incólume. Enquanto isso, o leão se aproximou dele, mostrando afeição em cada
movimento.
Zózimo disse ao
leão:
«O Grande Um
ordenou que o corpo dela seja enterrado. Mas eu sou velho e não tenho forças
para cavar a sepultura (pois não tenho pá e demoraria muito para ir conseguir
uma), então, poderias realizar o trabalho com suas garras? Então, poderemos
entregar à terra o templo mortal da santa».
Enquanto ainda
falava, o leão começou a cavar com suas patas dianteiras um buraco
suficientemente fundo para enterrar o corpo.
Novamente o
ancião lavou os pés da santa com suas lágrimas e pedindo-lhe que rezasse por
todos, cobriu o corpo com terra na presença do leão. Foi como tinha sido, nu e
descoberto de tudo, com apenas o manto esfarrapado que Zózimo lhe dera e com o
qual Maria se voltara para tentar cobrir parte do seu corpo. Então ambos
partiram. O leão desapareceu nas profundezas do deserto, como um carneirinho,
enquanto Zózimo retornou ao mosteiro glorificando e bendizendo a Cristo Nosso
Senhor. E ao alcançar o mosteiro contou a todos os irmãos sobre tudo, diante do
que todos se maravilharam ao ouvir os milagres de Deus. E com respeito e amor
eles guardaram a memória da santa.
O Abade João,
como santa Maria havia previamente dito ao Pai Zózimo, encontrou um número de
coisas erradas no mosteiro e se livrou delas com a ajuda de Deus. E São Zózimo
morreu no mesmo mosteiro, quase atingindo a idade de cem anos e passou para a
vida eterna. Os monges guardaram esta estória sem escrevê-la, passando-a de
viva voz de um para outro.
Mas eu,
(acrescenta Safrônio), tão logo a ouvi, escrevi-a. Talvez alguém mais, melhor
informado, já tenha escrito a vida da santa, mas tanto quanto possa, registrei
tudo, acreditando acima de tudo o mais. Que Deus que realiza milagres incríveis
e generosamente concede dons àqueles que se voltam para Ele com fé, recompense
aqueles que buscam luz para si mesmos nessa estória, que ouvem, lêem e são
zelosos em escrevê-la, e que Ele conceda a esses, o destino da bem-aventurada
Maria, junto com todos os que em diferentes épocas, agradaram a Deus com seus
trabalhos e pensamentos piedosos.
E demos também
glória a Deus, o Rei eterno, que Ele nos conceda também Sua misericórdia no dia
do Julgamento pelo amor de Jesus Cristo, Nosso Senhor, a Quem pertencem toda
glória, honra, domínio e adoração com o Pai Eterno e o Santíssimo e Vivificante
Espírito, agora e sempre, e através dos tempos. Amém!
Folheto
Dominical da Igreja Anunciação da Mãe de Deus
Responsável
Reverendo Ecônomo Padre Emanuel Sofoulis
Editoração e Diagramação
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Atualização da Página na
internet
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