PATRIARCADO
ECUMÊNICO DE CONSTANTINOPLA
Arquidiocese Ortodoxa Grega
de Buenos Aires e América do Sul
Igreja
Anunciação da Mãe de Deus
SGAN - Quadra 910
- Módulo ‘’B’’ - CEP: 70.790-100 - Brasília-DF
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Brasília, 16 de agosto de
2015.
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11º Domingo de Mateus
(11º depois de Pentecostes
- Modo 2)
Memória
da Trasladação
de
Edessa para Constantinopla
da
imagem «Aquiropita»
do
Nosso Senhor Jesus Cristo († 944).
Matinas
Tropário – 2º tom:
Quando desceste até à morte, tu que és a Vida Imortal,
então destruíste o inferno com o resplendor da tua divindade. E quando ressuscitaste
os mortos do fundo da terra, todas as potestades celestes exclamaram: Cristo Deus,
fator da vida, glória a ti!
Glória ao Pai , ao Filho e ao Espírito Santo,
Quando desceste até à morte, tu que és a Vida Imortal,
então destruíste o inferno com o resplendor da tua divindade. E quando ressuscitaste
os mortos do fundo da terra, todas as potestades celestes exclamaram: Cristo Deus,
fator da vida, glória a ti!
Agora, sempre e pelos séculos dos séculos. Amém.
Theotokion:
Ó Mãe de Deus, Teu mistério é glorioso, Teu mistério
está acima de todo entendimento, Tua pureza permanece selada e Tua virgindade intacta,
Tu que Te fizeste conhecer como verdadeira Mãe, tendo dado à luz ao verdadeiro Deus.
Intercedei por nós a Deus para salvar nossas almas.
Katisma – 2º tom:
Verdadeiramente, o nobre José desprega Teu puríssimo
corpo do madeiro, envolve-o em pano de linho puríssimo e com aromas, Te deposita
em um sepulcro novo. Mas, ao terceiro dia, Senhor, ressuscitaste para dar ao mundo
a grande misericórdia.
Glória ao Pai , ao Filho e ao Espírito Santo,
O anjo apareceu no túmulo e disse para as santas
mulheres: "os perfumes são bons para os mortos, mas Cristo mostrou ser estranho
a toda corrupção. Ide e clamai: "O Senhor ressuscitou para dar ao mundo a grande
misericórdia."
Agora, sempre e pelos séculos dos séculos. Amém.
Theotokion:
Ó Virgem Mãe de Deus tu estás acima de toda a glória,
e nós cantamos: pela cruz de teu Filho, o inferno foi abatido, a morte foi destruída
pela morte, e nós, os mortos, ressuscitados para a vida, restituindo-nos a bem-aventurança
primeira do paraíso.
Ypakoí – 2º tom:
Depois da Paixão, quando as portadoras de aromas
foram para o túmulo para ungir Teu Corpo, ó Cristo nosso Deus, elas viram anjos
no sepulcro e ficaram assustadas, pois elas ouviram eles dizer que o Senhor havia
ressuscitado concedendo ao mundo grande misericórdia.
Antífona:
Se o Senhor não estivesse estado conosco, quem poderia
subsistir? Quem estaria ao abrigo do inimigo, do homicida? Não abandona, ó Senhor,
o Teu servo aos seus dentes: como leões, eis que meus inimigos se lançaram contra
mim.
Glória ao Pai , ao Filho e ao Espírito Santo, agora, sempre
e pelos séculos dos séculos. Amém.
Ao Espírito Santo a honra, como ao princípio de toda
a vida. Como ao Deus que dá vigor a todas as criaturas e as conserva no Pai e no
Filho.
Prokimenon:
Levanta-Te, Senhor meu Deus, dá as Tuas ordens. A
assembleia dos povos Te circundará. (2 vezes).
Stichos:
Senhor, meu Deus, em Ti coloquei a minha esperança,
salva-me (repete a primeira).
Evangelho: Jo 21, 15-25
Evangelho
de Nosso Senhor Jesus Cristo,
segundo o Evangelista São João.
Naquele tempo, depois de terem
jantado, disse Jesus a Simão Pedro: Simão, filho de Jonas, amas-me mais do que estes?
E ele respondeu: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Disse-lhe: Apascenta os meus
cordeiros. Tornou a dizer-lhe segunda vez: Simão, filho de Jonas, amas-me? Disse-lhe:
Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Disse-lhe: Apascenta as minhas ovelhas. Disse-lhe
terceira vez: Simão, filho de Jonas, amas-me? Simão entristeceu-se por lhe ter dito
terceira vez: Amas-me? E disse-lhe: Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que eu te amo.
Jesus disse-lhe: Apascenta as minhas ovelhas. Na verdade, na verdade te digo que,
quando eras mais moço, te cingias a ti mesmo, e andavas por onde querias; mas, quando
já fores velho, estenderás as tuas mãos, e outro te cingirá, e te levará para onde
tu não queiras. E disse isto, significando com que morte havia ele de glorificar
a Deus. E, dito isto, disse-lhe: Segue-me. E Pedro, voltando-se, viu que o seguia
aquele discípulo a quem Jesus amava, e que na ceia se recostara também sobre o seu
peito, e que dissera: Senhor, quem é que te há de trair? Vendo Pedro a este, disse
a Jesus: Senhor, e deste que será? Disse-lhe Jesus: Se eu quero que ele fique até
que eu venha, que te importa a ti? Segue-me tu. Divulgou-se, pois, entre os irmãos
este dito, que aquele discípulo não havia de morrer. Jesus, porém, não lhe disse
que não morreria, mas: Se eu quero que ele fique até que eu venha, que te importa
a ti? Este é o discípulo que testifica destas coisas e as escreveu; e sabemos que
o seu testemunho é verdadeiro. Há, porém, ainda muitas outras coisas que Jesus fez;
e se cada uma das quais fosse escrita, cuido que nem ainda o mundo todo poderia
conter os livros que se escrevessem. Amém.
Kondakion – 2º tom:
Senhor, todo poderoso,
ressuscitaste do túmulo. O inferno diante deste milagre tremeu e os mortos se levantaram.
Contigo a criação se rejubila,
Adão também exulta e o mundo, Ó meu salvador, canta a Ti, sem fim.
Ikós
– 2º tom:
Tu és a luz dos que estão
cobertos de trevas, Tu és a ressurreição de todos e a vida dos mortais.
Ó Salvador, ressuscitaste
contigo os fiéis, saqueaste o império da morte.
Ó verbo, quebraste as
portas do inferno.
Os mortais diante desta
maravilha, ficaram maravilhados e toda a criação se rejubilou pela Tua ressurreição
ó amigos dos homens.
Todos nós glorificamos
e celebramos Tua humilhação, e,o mundo, ó meu Salvador, canta a Ti sem cessar.
Exapostilário: 11º
Quando o Senhor depois de sua ressurreição perguntou
a Pedro três vezes: “Tu me amas?”, e o investiste pastor de suas ovelhas; e este,
ao ver o outro discípulo que Jesus amava seguindo-lhe perguntou ao Senhor, dizendo:
“E quando este?” E lhe respondeu: “Se eu quero que este permaneça, que te importa,
Pedro querido?”.
Theotokion: 11º
Que surpreendente mistério! Que grande milagre! Pois
a morte foi aniquilada completamente pelo reino. Quem não louva, esse prosterna
diante da tua ressurreição, oh verbo, e ante a Mãe de Deus que te engendrou em copo
pureza? Por sua intercessão Senhor, salva-nos a todos do Hades.
Laudes – 2º tom:
1º
Que toda a criatura e todo o vivente Te louve, Senhor, porque destruíste a morte
pela Tua cruz, revelaste aos povos a Tua ressurreição de entre os mortos, pois és
o único amigo do homem.
2º
Ó juízes, dizei-nos: como os soldados deixaram fugir o Rei que eles guardavam? Como
a pedra não conservou o rochedo da vida? Mostrai-nos o sepultado, ou então, adorai
o ressuscitado.
Exclamando
conosco: “Glória à multidão de Tuas misericórdias, Senhor, glória a Ti!”.
3º
Alegrai-vos, povos e permanecei na alegria!
Um
anjo sentou-se sobra a pedra do sepulcro e ele nos anunciou a boa nova: Cristo ressuscitou
dos mortos, Ele o Salvador do mundo, e seu perfume encheu o Universo.
Alegrai-vos,
povos e permanecei na alegria!
4º
Senhor, antes de Tua concepção, um anjo trouxe esta mensagem: Alegra-Te, ó cheia
de graça. Na Tua ressurreição rolou a pedra do Teu glorioso sepulcro. O primeiro,
em lugar de tristeza, deu o final da alegria. O segundo, em lugar da morte, nos
anuncia o Senhor da vida.
Ó
Senhor, benfeitor de todos os seres, glória a Ti.
5º
As santas mulheres derramaram sobre a Tua tumba perfumes misturados com lágrimas;
mas seus lábios se encheram de alegria ao dizer: “O Senhor ressuscitou!”.
6º
Povos e nações, louvai o Cristo, nosso Deus, que quis padecer na cruz por nós, que
padeceu três dias no inferno; adorai a ressurreição dentre o mortos que iluminou
os confins do Universo.
7º
Ó Cristo, foste crucificado e foste sepultado, segundo a Tua vontade. Despojaste
a morte, ó nosso verdadeiro Deus e Senhor. Ressuscitaste, em glória, para dar ao
mundo a vida eterna e a grande misericórdia.
8º
Ó transgressores da lei, selando a pedra, restituíste para nós o mais refulgente
milagre. Os guardas conhecem a verdade e anunciam: “Hoje Ele ressuscitou do túmulo!”.
Mas
vós lhes destes a ordem de dizer: “Enquanto dormíamos, os discípulos vieram e O
levaram”.
Quem,
pois, iria querer um morto, ainda mais um morto nu? Foi Ele que ressuscitou por
Seu próprio poder divino, abandonando seus lençóis no túmulo. Ó Jesus, vinde e vede:
Ele não violou os selos. Ele pisou com os pés a morte, dando ao mundo a vida sem
fim e a grande misericórdia.
Eothinon – 2º tom:
Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo.
As mulheres que estavam com Maria e levaram aromas
ficaram satisfeitas por terem conseguido o seu desejo de ir ao Sepulcro; ficaram
espantadas quando viram a pedra do túmulo rolar; um divino jovem acalmou a perturbação
de suas almas, dizendo: “O Cristo Deus já ressuscitou e anunciai aos discípulos
para irem a Galiléia, para vê-Lo ressuscitado, porque Ele, o Senhor, é o doador
da vida”.
Agora, sempre e pelos séculos dos séculos. Amém.
Theotokion – 2º tom:
Bendita e venerável és Tu, ó Mãe de Deus, em cujo
seio se encarnou Aquele que visitou o inferno, libertando Adão e Eva da maldição,
destruindo a morte e dando a vida a todos nós.
Por isso bendirei o Cristo em qualquer tempo, e sempre
o Seu louvor estará em minha boca (2 vezes).
Euzina: 11º
Oh Salvador, quando te manifestaste aos Teus discípulos
depois da Ressurreição, deste a Simão o pastoreiro das ovelhas para renovar o amor
pedindo-lhe que guardasse se rebanho. Lhe disseste: Se me amas, Pedro, apascenta
minhas ovelhas, apascenta meus cordeiros; ele te perguntou de imediato pelo outro
discípulo mostrando-lhe seu esplêndido amor. Por Suas interseções, oh Cristo, cuida
de Teu rebando e preserve-o dos lobos para que não lhe façam nenhum dano.
Ó Senhor, ressuscitado do sepulcro, rompeste os grilhões
do inferno, eliminaste o poder da morte, salvando todos dos laços do inimigo; e
quando apareceste a teus discípulos, os enviaste a evangelizar e, através deles,
deste tua paz ao mundo, tu que és o Único Misericordioso.
Divina Liturgia
Anunciação
- Modo 4:
É hoje o começo da nossa
salvação e a manifestação do mistério eterno.
O Filho de Deus torna-Se
Filho da Virgem e Gabriel anuncia a graça.
Por isso, cantamos com
ele à Mãe de Deus:
“Salve, ó cheia de graça,
o Senhor está contigo!”
Tropário da Ressurreição
– 2º tom:
Quando desceste até a morte, Tu que És a vida imortal,
então destruíste o inferno com o resplendor da Tua divindade. E quando ressuscitaste
os mortos do fundo da terra, todas as potestades celeste exclamaram: Cristo Deus,
fator da vida, glória a Ti.
Kondakion – 2º tom:
Glória ao Pai , ao Filho e ao Espírito Santo.
Tu te levantaste da tumba, ó Salvador onipotente,
e o inferno, vendo esta maravilha, estremeceu de medo, e os mortos ressuscitaram
de seus túmulos. Adão e toda a Criação se alegram contigo, e o mundo, ó Salvador
meu, te louva para sempre.
Theotokion – 2º tom:
Agora, sempre e pelos séculos dos séculos. Amém
Teus méritos são glorificados acima de toda a razão,
ó Mãe de Deus, na pureza selada, preservaste a tua virgindade, verdadeiramente mãe,
és reconhecida que deste à luz o verdadeiro Deus roga a Ele que salve as nossas
almas!
Hino à Mãe de Deus:
Ó Admirável e Protetora dos cristãos e nossa Medianeira
do Criador não desprezes as súplicas de nenhum de nós pecadores, mas apressa-te
em auxiliar-nos como Mãe bondosa que és, pois te invocamos com fé: roga por nós
junto de Deus, tu que defendes sempre aqueles que te veneram.
Prokimenon:
O Senhor é minha força e meu vigor Ele foi a minha
salvação (Sl 118,14).
O Senhor severamente me castigou , mas não me entregou
à morte (Sl 118, 18)
Epístola: 1Cor 9, 2-12
Leitura
da Primeira Epístola do Apostolo São Paulo aos Coríntios:
Irmãos,
se eu não sou apóstolo para os outros, ao menos o sou para vós; porque vós sois
o selo do meu apostolado no Senhor. Esta é minha defesa para com os que me condenam.
Não temos nós direito de comer e beber? Não temos nós direito de levar conosco uma
esposa crente, como também os demais apóstolos, e os irmãos do Senhor, e Cefas?
Ou só eu e Barnabé não temos direito de deixar de trabalhar? Quem jamais milita
à sua própria custa? Quem planta a vinha e não come do seu fruto? Ou quem apascenta
o gado e não se alimenta do leite do gado? Digo eu isto segundo os homens? Ou não
diz a lei também o mesmo? Porque na lei de Moisés está escrito: Não atarás a boca
ao boi que trilha o grão. Porventura tem Deus cuidado dos bois? Ou não o diz certamente
por nós? Certamente que por nós está escrito; porque o que lavra deve lavrar com
esperança e o que debulha deve debulhar com esperança de ser participante. Se nós
vos semeamos as coisas espirituais, será muito que de vós recolhamos as carnais?
Se outros participam deste poder sobre vós, por que não, e mais justamente, nós?
Mas nós não usamos deste direito; antes suportamos tudo, para não pormos impedimento
algum ao evangelho de Cristo.
Aleluia!
Aleluia, aleluia, aleluia!
O Senhor te responda no dia do Perigo (Sl 21).
Aleluia, aleluia, aleluia!
Salva Senhor o teu povo e abençoa a tua herança (Sl
28, 9).
Aleluia, aleluia, aleluia!
Evangelho: Mt 18, 23-35
Evangelho
de Nosso Senhor Jesus Cristo,
segundo o Evangelista São Mateus:
Naquele
tempo, o Senhor disse esta parábola: «O Reino dos Céus é, portanto, como um rei
que resolveu ajustar contas com seus servos. Quando começou o ajuste, trouxeram-lhe
um que lhe devia uma fortuna inimaginável. Como o servo não tivesse com que pagar,
o senhor mandou que fosse vendido como escravo, junto com a mulher, os filhos e
tudo o que possuía, para pagar a dívida. O servo, porém, prostrou-se diante dele
pedindo: 'Tem paciência comigo, e eu te pagarei tudo'. Diante disso, o senhor teve
compaixão, soltou o servo e perdoou-lhe a dívida. Ao sair dali, aquele servo encontrou
um dos seus companheiros que lhe devia uma quantia irrisória. Ele o agarrou e começou
a sufocá-lo, dizendo: 'Paga o que me deves'. O companheiro, caindo-lhe aos pés,
suplicava: 'Tem paciência comigo, e eu te pagarei'. Mas o servo não quis saber.
Saiu e mandou jogá-lo na prisão, até que pagasse o que estava devendo. Quando viram
o que havia acontecido, os outros servos ficaram muito sentidos, procuraram o senhor
e lhe contaram tudo. Então o senhor mandou chamar aquele servo e lhe disse: 'Servo
malvado, eu te perdoei toda a tua dívida, porque me suplicaste. Não devias tu também
ter compaixão do teu companheiro, como eu tive compaixão de ti?' O senhor se irritou
e mandou entregar aquele servo para ser castigado, até que pagasse toda a sua dívida.
É assim que o meu Pai que está nos céus fará convosco, se cada um não perdoar de
coração ao seu irmão.
Sinaxe
«Perdoai as nossas dívidas,
assim como nós perdoamos aos nossos devedores»
A
atitude daquele que obteve misericórdia de Deus por causa das grandes dívidas, mas
que não soube retribuí-la àquele que lhe devia pouco, a princípio, pode causar em
nosso interior indignação e tristeza ante tamanha injustiça ou incoerência. No entanto,
não estamos tão imunes ou tão distantes de repetirmos semelhantes disparates. De
fato, o primeiro sentimento nosso é o de estranheza. Mas, tal estranheza vai dando
lugar à semelhança e, não poucas vezes, à identificação . Não somos tão coerentes
assim, não somos tão cristãos assim, como as vezes pensamos ser. E, é nestes momentos
de identificação, que precisamos nos soerguer e caminhar.
O
Evangelho narrado por Mateus, no capitulo 18, nos traz a tão conhecida pergunta
feita a Jesus por Pedro: “Senhor, quantas vezes devemos perdoar?”. A resposta que
Jesus lhe dá, da mesma forma, nos é familiar, pois repetidas vezes, ouvimo-la. A
resposta de Jesus, é, então acompanhada pela narrativa que é conteúdo e objeto de
reflexão deste XI Domingo de Mateus.
Jesus,
como pedagogo e Mestre, responde a Pedro que devemos perdoar não somente sete vezes,
mas setenta vezes sete. Ele complementa e elucida a resposta com esta parábola,
inteligentemente construída do ponto de vista ilustrativo, densamente catequético,
do ponto de vista da coerência humana e profundamente teológico, pois ensina que
os seguidores de Cristo devem imitá-lo, exercitando o perdão e a misericórdia.
A
coerência exige coesão entre o falar e o fazer; exige lógica entre o agir e a fé
que dizemos abraçar e professar. E, nem sempre a observamos: todas as vezes que
rezamos a Oração do Pai-nosso, pedimos para que Deus perdoe nossos erros, na mesma
medida que perdoamos aqueles que nos ofendem com suas fraquezas, insultos, mentiras,
injustiças etc. Nossa sorte reside no fato de Deus, ao escutar nossa oração, ser
movido mais pela misericórdia do que pelo rigor em cumprir aquilo que ouve de nossa
boca.
Nesta
parábola, identificamos dois sujeitos distintos: aquele que perdoa e o que é perdoado.
Facilmente ligamos a pessoa do “rei” que perdoa a Deus e a pessoa do servo que é
perdoado, a todos nós. Conceder o perdão é um ato e um atributo divino. Ser perdoado
é uma realidade inerente à natureza humana. Quem perdoa se mostra semelhante e se
identifica com Deus.
"Não
podemos conhecer a Deus segundo sua grandeza, mas podemos conhecê-Lo segundo seu
amor e sua misericórdia. O amor é identificado pela gratuita filiação e a misericórdia
revela-se pelo ininterrupto perdão que nos é oferecido a cada queda".
Santo Ireneu.
Quem é perdoado resgata a pureza e a essência de
criatura que é. Aquele que primeiramente foi perdoado, não soube dar o perdão ao
outro que também necessitava. Ele soube ser totalmente humano ao reivindicar o perdão
de suas dívidas, mas não soube ser nada divino ao negar o mesmo perdão que lhe foi
pedido por seu semelhante.
"Os homens exercem a misericórdia na medida
que podem. Em troca recebem-na de Deus de maneira copiosa. Pois não há comparação
entre a misericórdia humana e divina. Entre elas há uma grande distância".
São João Crisóstomo.
São
Mateus usa esta analogia para nos ensinar que Deus sempre está pronto a nos conceder
o perdão. Enfatiza, por outro lado, que o que é perdoado deve também estender o
perdão ao irmão ofensor, pois o impiedoso será julgado com a mesma severidade. É
necessário que o coração do homem se encha de generosidade e misericórdia ante o
irmão que erra, se quer que Deus assim proceda quando estiver diante do justo Juiz.
“É desta forma que eu quero ver se amas o Senhor
e a mim, seu servo e teu, se procederes assim: Que não haja no mundo nenhum irmão
que, por muito que tenha pecado e venha ao encontro do teu olhar a pedir misericórdia,
se vá de ti sem o teu perdão. E se não vier pedir misericórdia, pergunta-lhe tu
se a quer. E se, depois, mil outras vezes vier ainda à tua presença para o mesmo,
ama-o mais que a mim, a fim de o trazeres ao Senhor. E que sempre te enchas de compaixão
por esses desgraçados. E quando puderes, informa os guardiões que estás decidido
a proceder deste modo”.
(São Francisco de Assis).
O
perdão parte sempre de Deus e é distribuído aos homens. Estes, por sua vez, o redistribuem,
formando a corrente da misericórdia e do amor. Se um elo desta corrente se quebra,
rompe-se a possibilidade de todos experimentarem o que Deus nos oferece e o que
os irmãos deveriam repassar. A troca do perdão e da misericórdia em uma comunidade
cristã entre seus membros é o fiel da balança que nos mostra o quanto esta mesma
comunidade de fato vive o que Jesus ensinou. A Igreja, que é comunidade de irmãos
que se amam e se perdoam, experimenta a misericórdia do Pai na fonte, e deve repartir
tal graça a seus membros. A mútua troca de perdão e de amor faz mais unida a comunidade
cristã e a faz digna da expressão: “Vede como eles se amam”.
“Não é possível manter a unidade nem a paz, se
os irmãos não se aplicam a guardar a tolerância mútua e o elo da concórdia graças
à paciência. Que dizer ainda, a não ser que não juremos, nem maldigamos, nem reclamemos
o que nos tiraram, que apresentemos a outra face a quem nos bate, que perdoemos
ao irmão que pecou contra nós, e não só setenta e sete vezes, que desculpemos as
suas faltas, que amemos os nossos inimigos, que oremos pelos nossos adversários
e por aqueles que nos perseguem?".
(São Cipriano, bispo de Cartago
e mártir da Igreja).
Muitos
podem não perdoar, mas o cristão que quer viver sua fé de maneira autêntica, seguindo
os passos e os ensinamentos do Senhor deve, não só fazê-lo, como incentivar a que
ele seja praticado sempre, pois faz parte da essência do cristianismo condenar o
erro mas amar o pecador.
Atualmente
parece que o mundo se identifica mais com o gesto incoerente do servo impiedoso
do que com o gesto do rei misericordioso. A linguagem do perdão não é facilmente
decifrada pelo mundo; a linguagem da misericórdia é abafada pelos apelos da vingança
e da intolerância; a linguagem do amor se faz muda e surda aos que têm um coração
incapaz de compreender gestos altruístas.
É
fundamental lembrar que estamos no mundo e não podemos nos deixar contaminar por
ele, pois não somos do mundo, como disse o próprio Jesus. Mesmo que estejamos nadando
contra a corrente dos ensinamentos do mundo, sabemos que temos um porto seguro,
um caminho a ser seguido, uma meta a ser alcançada. A santidade é o que buscamos.
«Não devias também tu ter
piedade do teu companheiro, tal como eu tive piedade de ti?»
A
compaixão, por um lado, e o juízo de simples equidade, por outro, se coexistem na
mesma alma, são como um homem que adora Deus e os ídolos na mesma casa. A compaixão
é o contrário do julgamento por simples justiça. O julgamento estritamente equitativo
implica a igual repartição por todos de uma medida semelhante. Dá a cada um o que
ele merece, não mais; não se inclina nem para um lado nem para o outro, não discerne
na retribuição. Mas a compaixão é suscitada pela graça, inclina-se sobre todos com
a mesma afeição, evita a simples retribuição àqueles que são dignos de castigo e
cumula para lá de qualquer medida os que são dignos do bem.
A
compaixão está assim do lada da justiça, o julgamento apenas equitativo está do
lado do mal… Tal como um grão de areia não pesa tanto como muito ouro, a justiça
equitativa de Deus não pesa tanto como a sua compaixão. Assim como um punhado de
areia caindo no grande oceano, assim são as faltas de todas as criaturas em comparação
com a providência e a piedade de Deus. Tal como uma nascente que corre com abundância
não poderia ser bloqueada por um punhado de pó, também a compaixão do Criador não
poderia ser vencida pela malícia das criaturas. Aquele que guarda ressentimento
quando reza é como um homem que semeia no mar e espera ceifar.
Santo Isaac o Sírio (séc.
VII)
Discursos espirituais
Mensagem do Padre Emanuel
Sofoulis, pela passagem do dia dos Pais no Domingo passado
Estimados filhos em Cristo,
Hoje celebramos o Dia dos Pais. Junto com o Dia das
Mães, o Dia dos Pais é uma das datas civis que mais nos tocam o coração.
Deus que é Pai e é amor, é exemplo a todos os homens
que são chamados a assim serem em suas famílias. Mas ser amor não é tudo permitir,
tudo tolerar, tudo aceitar. O amar paterno é ordenado pelo bem ensinar, pelo bem
governar e a cima de tudo pelo bem querer e à incondicional entrega por seus filhos.
Ser pai é ser exemplo e por isso somos chamados a
sermos santos como Nosso Pai que esta no Céu O é.
Que neste dia dos pais honremos nossos pais que estão
aqui conosco presentes e com carinho e alegria nos lembremos dos que estão no Céu
intercedendo por nós.
Um homem que iria fazer uma delicada cirurgia foi
perguntado se estava preparado, se estava com medo da morte, ao que respondeu: Da
morte não tenho medo, do que tenho medo, para o que não estou preparado é para me
separar de meus filhos… Este é o amor paterno.
Que Deus permita a todos nós pais, sermos dignos
desta muito honrosa e carinhosa forma de tratamento e que Cristo, Nosso Deus e Salvador,
nos dê forças para sermos sempre exemplo de amor e retidão para nossos filhos.
Um santo e abençoado dia dos pais a todos, que com
nossos filhos celebremos este dia.
Em Cristo Jesus, Padre Emanuel Sofoulis.
Sábado, 15 de Agosto de 2015:
«Dormição da nossa santíssima Senhora, a Mãe de Deus (Theotokos) e sempre
Virgem Maria»
«Hoje,
a arca santa e viva do Deus vivo,
aquela cujo seio tinha trazido o seu próprio Criador,
repousa no templo do Senhor,
templo não construído pela mão do homem.
David, seu antepassado e parente de Deus,
dança de alegria (2 Sm 7,14);
os anjos dançam em coro, os arcanjos aplaudem
e as potestades dos céus cantam a sua glória…»
aquela cujo seio tinha trazido o seu próprio Criador,
repousa no templo do Senhor,
templo não construído pela mão do homem.
David, seu antepassado e parente de Deus,
dança de alegria (2 Sm 7,14);
os anjos dançam em coro, os arcanjos aplaudem
e as potestades dos céus cantam a sua glória…»
S. João Damasceno (cerca de 675-749)
«Segunda homilia sobre a Dormição»
«Segunda homilia sobre a Dormição»
A última grande festa do ano
litúrgico bizantino (que termina no dia 31 de agosto) é Mariana: Dormição da
SS. Mãe de Deus, Kóimesis no grego e Uspénie no eslavo eclesiástico, palavras
que aludem justamente ao ato de dormir. E a tradicional representação
iconográfica de 15 de agosto mostra a Virgem estendida no leito de morte,
rodeada para o último sono pelos apóstolos, vindos prodigiosamente dos lugares
onde pregavam o evangelho, tendo ao centro Jesus Cristo que acolhe a sua alma,
representada como uma menina envolta em faixas e por ele sustentada.
A partir do dia 1º de agosto, o
Oriente bizantino prepara-se para a festa com um jejum (do qual também fala São
Teodoro Estudita, morto no ano 826) e dado que, além da pré-festa do dia 14 de
agosto, os textos litúrgicos falam do trânsito de Maria Santíssima ao céu até o
dia 23 de agosto, pode-se afirmar que este é o mês mariano dos fiéis ortodoxos.
A celebração dessa solenidade no
dia 15 de agosto foi fixada com um edito do imperador do Oriente, Maurício
(582-602), confirmando uma tradição, sem dúvida, mais antiga. No Ocidente, a
festa foi introduzida, juntamente com outras três festas marianas, pelo papa
Sérgio I, coincidindo as datas de sua celebração. Quanto ao conteúdo o tropário
principal assim sintetiza o mistério:
Em tua
maternidade conservaste a virgindade
e em tua dormição não abandonaste o mundo, ó Mãe de Deus.
Foste levada para a vida sendo a Mãe da Vida,
e por tuas orações resgatas nossas almas da morte.
e em tua dormição não abandonaste o mundo, ó Mãe de Deus.
Foste levada para a vida sendo a Mãe da Vida,
e por tuas orações resgatas nossas almas da morte.
Tropário (Modo 1)
Logo é posto em evidência o
ministério de intercessão que a Mãe de Deus e nossa desempenha após sua entrada
(também corpórea) no céu. O kondakion do dia, a segunda oração mais repetida, o
confirma:
Nem o
túmulo nem a morte prevaleceram sobre a Mãe de Deus,
que, sem cessar, reza por nós e permanece firme esperança de intercessão.
Com efeito, aquele que habitou um seio sempre virgem
assumiu para a vida aquela que é a Mãe da Vida.
que, sem cessar, reza por nós e permanece firme esperança de intercessão.
Com efeito, aquele que habitou um seio sempre virgem
assumiu para a vida aquela que é a Mãe da Vida.
Kondakion (Modo 2)
Embora os evangelhos não falem
sobre o fim da vida de Maria, existe uma antiga tradição patrística, com
informações provindas outrossim dos apócrifos, e que está na base do Ofício
litúrgico bizantino do dia 15 de agosto.
[...] breve hino extraído da Ode sexta do
Cânon da festa, ainda hoje recitado pelos cristãos de tradição
constantinopolitana, cujo autor é São Cosme de Maiúma:
A ti, o
Deus rei do universo,
concedeu coisas que estão acima da natureza,
porque, como no parto te conservou virgem,
assim no sepulcro conservou incorrupto o teu corpo
e com a divina trasladação o glorificou.
concedeu coisas que estão acima da natureza,
porque, como no parto te conservou virgem,
assim no sepulcro conservou incorrupto o teu corpo
e com a divina trasladação o glorificou.
[...]
Vinde de
todos os confins do universo,
cantemos a bem-aventurada trasladação da Mãe de Deus!
Nas mãos do Filho ela depositou a sua alma sem pecado;
com a sua santa Dormição o mundo é vivificado;
e é com salmos, hinos e cânticos espirituais,
em companhia dos anjos e dos apóstolos,
que ele a celebra na alegria.
cantemos a bem-aventurada trasladação da Mãe de Deus!
Nas mãos do Filho ela depositou a sua alma sem pecado;
com a sua santa Dormição o mundo é vivificado;
e é com salmos, hinos e cânticos espirituais,
em companhia dos anjos e dos apóstolos,
que ele a celebra na alegria.
Hino das Vésperas
(São Germano de Constantinopla)
(São Germano de Constantinopla)
Como nos demais textos litúrgicos
bizantinos, da maioria dos hinos, que se repetem há mais de mil anos, se
desconhece o nome do autor: Eis um exemplo tirado ainda do Ofício de Vésperas:
Oh, os
teus mistérios, ó Pura!
Apareceste, ó Soberana, trono do Altíssimo
e nesse dia te transferiste da terra para o céu.
A tua glória brilha com o resplendor da graça.
Virgens, subi para o alto com a Mãe do Rei!
Ó cheia de graça, salve, o Senhor é contigo!
Ele que doa ao mundo, por teu intermédio,
a grande misericórdia.
Apareceste, ó Soberana, trono do Altíssimo
e nesse dia te transferiste da terra para o céu.
A tua glória brilha com o resplendor da graça.
Virgens, subi para o alto com a Mãe do Rei!
Ó cheia de graça, salve, o Senhor é contigo!
Ele que doa ao mundo, por teu intermédio,
a grande misericórdia.
Entre os lugares santos venerados
em Jerusalém que se relacionam ao mistério final da vida da Mãe de Deus, não
existe somente a Basílica da Dormição cuidada pelos Beneditinos católicos, mas
há também o Túmulo da Virgem, que está aos cuidados dos ortodoxos, próximo ao
jardim do Getsêmani e onde recentes escavações confirmam que a sepultura
remonta, de fato, à época em que viveu Maria Santíssima, e pode ter sido o
lugar de seu breve sepultamento. A tradição bizantina, claramente expressa na
oração, acredita na morte e no sepulcro da Virgem, mas também na sua antecipada
glorificação ao céu com o corpo e a alma, à semelhança e em virtude de quanto
aconteceu ao seu divino Filho. Assim começa o texto próprio das Grandes
vésperas do dia 15 de agosto:
Ó
maravilha inaudita!
A fonte da vida é posta no túmulo
e o sepulcro transforma-se em escada que leva ao céu.
Alegra-te, ó Getsêmani,
santuário sagrado da Mãe de Deus!...
A fonte da vida é posta no túmulo
e o sepulcro transforma-se em escada que leva ao céu.
Alegra-te, ó Getsêmani,
santuário sagrado da Mãe de Deus!...
A tradição narra que o apóstolo
Tomé, tendo chegado atrasado para o sepultamento da Virgem e querendo rever seu
amado semblante, fez reabrir o túmulo, mas este foi achado vazio e a mesma Mãe
de Deus anunciou, numa visão, que havia ressuscitado e subido ao céu junto do
seu Filho divino.
Se nos textos litúrgicos da festa
encontramos várias alusões à tristeza dos Apóstolos que não verão mais junto
deles a Mãe de Jesus, predomina, porém, a alegria pelo triunfo da Theotókos.
Diz um hino das Laudes:
A tua
gloriosa Dormição alegra os céus,
faz exultar a multidão dos anjos:
a terra toda exulta de alegria
elevando a ti um canto de adeus,
ó Mãe do Senhor de todas as coisas,
Virgem santíssima desconhecedora de núpcias,
que libertaste o gênero humano da antiga condenação.
faz exultar a multidão dos anjos:
a terra toda exulta de alegria
elevando a ti um canto de adeus,
ó Mãe do Senhor de todas as coisas,
Virgem santíssima desconhecedora de núpcias,
que libertaste o gênero humano da antiga condenação.
A festa da Dormição da Santíssima
Mãe de Deus - este nome, como também a representação iconográfica (visíveis
inclusive nos mosaicos de Santa Maria Maior e Santa Maria em Trastevere, em
Roma) permaneceu comum no Oriente e no Ocidente por mais de um milênio.
O termo Assunção, que provém da
França, é bem mais tardio «comemora um fato e também atualiza a doutrina e
projeta sobre a nossa vida transitória uma luz de eternidade. Esse fato, embora
não relatado pela Escritura, tornou-se realidade na consciência da Igreja
através da tradição. Maria que é mulher e que morre na terra como todo ser
humano, alcança o seu Filho que é Deus e que está no céu. Ademais, esta mulher
que podemos legitimamente chamar de representante da humanidade enquanto Nova
Eva, mulher perfeita enquanto Pura Mãe de Deus, não perdeu nenhum de seus
atributos naturais, não se abstraiu em alguma alegoria impalpável: ela
permanece Maria. Mas o que ela é, no resplendor do seu ser real, as festas no-lo
desvelam».
Com esta citação de um teólogo
russo ortodoxo concluímos, retomando do Ofício das Vésperas bizantinas uma
última invocação:
...Ó
imaculada Mãe de Deus,
sempre vivente com o Rei da vida e Filho teu,
reza sem cessar para que seja conservada
e salva de toda insídia do adversário a multidão de teus filhos,
pois nós estamos debaixo da tua proteção
e te glorificamos por todos os séculos".
sempre vivente com o Rei da vida e Filho teu,
reza sem cessar para que seja conservada
e salva de toda insídia do adversário a multidão de teus filhos,
pois nós estamos debaixo da tua proteção
e te glorificamos por todos os séculos".
FONTE:DONADEO, Madre Maria. O Ano Litúrgico Bizantino. São Paulo:
Ed Ave Maria, 1998
Homilia
sobre a
Dormição
da Santíssima Mãe de Deus»
São João Damasceno
Quem ama ardentemente alguma coisa
costuma trazer seu nome nos lábios e nela pensar noite e dia. Não se me
censure, pois, se pronuncio este terceiro panegírico da Mãe de meu Deus, como
oferenda em honra de sua partida. Isso não será favor para ela mas servirá a
mim mesmo e a vós, aqui presentes - divina e santa assembléia - como um manjar
salutar que, nesta noite sagrada, satisfaça nosso gosto espiritual.
Estamos sofrendo, como sabeis, de
penúria de alimentos. Assim, improviso a refeição; se não é suntuosa nem digna
daquilo que no-la inspira, possa ao menos acalmar-nos a fome. Sim, não é Maria
que precisa de elogios, nós é que precisamos de sua glória. Um ser glorificado,
que glória pode receber ainda? A fonte da luz, como será iluminada ainda? É
pois para nós mesmos que fazemos a coroa. "Vivo eu, diz o Senhor, e
glorificarei os que me glorificam" . (2Sm 2, 30)
O vinho agrada sem dúvida, é
deliciosa bebida, e o pão alimento nutritivo: um alegra, o outro fortifica o
coração do homem (Sl 104, 15). Mas que existe de mais suave do que a Mãe de meu
Deus? Ela cativou meu espírito, ela reina sobre minha palavra, dia e noite sua
imagem me é presente. Mãe do Verbo, dá-me de que falar! Filha de mãe estéril,
torna fecundas as almas estéreis! Eis aquela cuja festa celebramos hoje em sua
santa e divina Assunção.
Acorrei, pois, e subamos a
montanha mística. Ultrapassando as imagens da vida presente e da matéria,
penetrando na treva divina e incompreensível, ingressando na luz de Deus,
celebremos o seu infinito poder. Aquele que, de sua transcendência
superessencial e imaterial, desceu ao seio virgíneo para ser concebido e se
encarnar, sem deixar o seio do Pai; aquele que através da Paixão marchou
voluntariamente para a morte, conquistando pela morte a imortalidade e voltando
ao Pai; como não pôde ele atrair ao Pai sua Mãe segundo a carne? como não
elevaria da terra ao céu aquela que fora um verdadeiro céu sobre a terra?
Hoje a escada espiritual e viva,
pela qual o Altíssimo desceu, se fez visível e conversou entre os homens (Baruc
3, 38), ei-la que sobe, pelos degraus da morte, da terra ao céu.
Hoje a mesa terrestre que, sem
núpcias, trouxera o pão celeste da vida e a brasa da divindade, foi levada da
terra aos céus, e para a Porta oriental, para a Porta de Deus, se ergueram as
portas do céu.
Hoje, da Jerusalém terrestre, a
Cidade viva de Deus foi conduzida à Jerusalém do alto; aquela que concebera
como seu primogênito e unigênito o Primogênito de te da criatura e o Unigênito
do Pai, vem habitar na Igreja das primícias (Hb 12, 23); a arca do Senhor, viva
e racional, é transportada ao repouso de seu Filho (Sl 132, 8).
As portas do paraíso se abrem
para acolher a terra portadora de Deus, onde germinou a árvore da vida eterna,
redentora da desobediência de Eva e da morte infligida a Adão. É o Cristo,
causa da vida universal, quem recebe a gruta escondida, a montanha não
trabalhada, donde se destacou, sem intervenção humana, a pedra que enche a
terra.
Aquela que foi o leito nupcial
onde se deu a divina encarnação do Verbo, veio repousar em túmulo glorioso,
como em tálamo nupcial, para de lá se elevar até a câmara das núpcias celestes,
onde reina em plena luz com seu Filho e seu Deus, deixando-nos também como
lugar de núpcias seu túmulo sobre a terra. Lugar de núpcias, esse túmulo? Sim,
e o mais esplendoroso de todos, a refulgir não por revérberos de ouro, de prata
ou de gemas, porém pela divina luz, irradiação de Espírito Santo. Proporciona,
não uma união conjugal aos esposes da terra, mas a vida santa às almas que se
prendem pelos laços do Espírito, proporciona uma condição junto de Deus, melhor
e mais suave que outra qualquer.
Seu túmulo é mais gracioso do que
o Éden: neste, sem querermos repetir tudo o que lá se passou, houve a sedução
do inimigo, sua mentira apresentada como conselho amigo, a fraqueza de Eva, sua
credulidade, o engodo - doce e amargo - ao qual seu espírito se deixou prender
e pelo qual em seguida aliciou o marido; a desobediência, a expulsão, a morte,
mas - para não trazermos com tais lembranças assunto de tristeza à nossa festa
- houve o túmulo que elevou ao céu o corpo de um mortal, ao contrário daquele
primeiro jardim, que derrubou do céu nosso primeiro pai. Pois não foi ali que o
homem, feito à imagem divina, ouviu a sentença: "tu és terra e em terra te
hás de tornar"? (Gn 3, 19).
O túmulo de Maria, mais precioso
que o antigo tabernáculo, encerrou o candelabro espiritual e vivo, brilhante de
divina luz, a mesa portadora de vida, que recebeu, não os pães da proposição,
mas o pão celeste, não o fogo material mas o fogo imaterial da divindade.
Esse túmulo é mais feliz que a
arca mosaica, pois teve por partilha a verdade, já não as sombras e as figuras;
acolheu a urna áurea do maná celeste, a mesa viva do Verbo encarnado por obra
do Espírito Santo, dedo onipotente de Deus, Verbo subsistente; acolheu o altar
dos perfumes, a brasa divina que aromatizou toda a Criação.
Fujam portanto os demônios, gemam
os míseros nestorianos - como outrora os egípcios - com seu chefe, o novo
faraó, o cruel flagelo, o tirano, pois foram engolidos pelo abismo da
blasfêmia. Nós, porém, salvos, que atravessamos a pé enxuto o mar da impiedade,
cantemos à Mãe de Deus o canto do Êxodo. Miriam, que é a Igreja, tome nas mãos
o tamborim e entoe o hino de festa; saiam as jovens do Israel espiritual com
tamborins e coros (Ex 15, 20), exultando de alegria! Que os reis da terra, os
juízes e os príncipes, os jovens e as virgens, os velhos e as crianças,
celebrem a Mãe de Deus! Que reuniões e discursos de toda espécie, raças e povos
na diversidade de suas línguas, componham um cântico novo! Que o ar ressoe de
flautas e trombetas espirituais, inaugurando com brilho de fogos o dia da
salvação! Alegrai-vos, ó céus, e vós, nuvens, fazei chover a alegria! Saltai,
novilhos do rebanho eleito, apóstolos divinos que, como montanhas altas e
sublimes, aspirais às mais altas contemplações; e vós, também, ó cordeiros de
Deus, povo santo, filhos da Igreja, que pelo desejo vos alçais como colinas até
as altas montanhas!
Mas então? Morreu a fonte da
vida, a Mãe de meu Senhor? Sim, era preciso que o ser formado da terra à terra
voltasse, para dali subir ao céu, recebendo o dom da vida perfeita e pura a
partir da terra, após ter-lhe entregue seu corpo. Era preciso que, como o ouro
no crisol, a carne rejeitasse o peso da mortalidade e se tornasse, pela morte,
incorruptível, pura, e assim ressuscitasse do túmulo.
Começa hoje para Maria uma
segunda existência, recebida daquele que a fez nascer para a primeira, como
também ela mesma dera uma segunda existência - a vida corpórea - àquele, cuja
primeira existência, a eterna, não teve começo no tempo, embora principiada no
Pai como em sua divina causa.
Alegra-te, Sião, montanha divina
e santa, onde habitou a outra montanha divina, a montanha vivente, a nova
Betel, ungida na pedra, a natureza humana ungida pela divindade. De ti, como de
um jardim de oliveiras, e Filho se elevou às celestes alturas. Que uma nuvem se
componha, universal e cósmica, e que as asas dos ventos tragam os apóstolos dos
confins da terra até Sião!1 Quem são aqueles que, como nuvens e águias, voam
para o corpo - fonte de toda ressurreição, a fim de cultuar a Mãe de Deus? Quem
é a que sobe, na flor de sua alvura, toda bela, brilhante como o sol? Que cantem
as cítaras do Espírito, isto é, as línguas dos apóstolos! Que ressoem os
címbalos, isto é, os arautos eminentes da palavra de Deus! Que esse vaso de
eleição, Hieroteu 2, santificado pelo Espírito Santo e pela união divina
capacitado a sofrer as realidades divinas, seja arrebatado do corpo, e em
transportes de fervor entoe seus hinos! Que todas as nações aplaudam e celebrem
a Mãe de Deus! Que os anjos prestem culto ao corpo mortal!
Filhas de Jerusalém, feitas
cortejo da Rainha, e virgens suas companheiras, ide com ela até o Esposo,
levai-a à direita do Senhor! Desce, ó Soberano, vem pagar à tua Mãe a dívida
que ela merece por te haver nutrido! Abre tuas mãos divinas e acolhe a alma de
tua mãe, tu que sobre a cruz entregaste o espírito às mãos do Pai! Dirige-lhe
um suave apelo: vem, ó formosa, ó bem-amada, mais resplandecente pela
virgindade do que o sol, tu me partilhaste teus bens, vem agora gozar junto de
mim o que te pertence!
Aproxima-te, ó Mãe, de teu Filhe,
aproxima-te e participa do poder régio daquele que, nascido de ti, contigo
viveu na pobreza! Ascende, ó Soberana, ascende! Já não vale a ordem dada a
Moisés: "Sobe e morre..." (Dn 31, 48) Morre, sim, mas eleva-te pela
própria morte!
Entrega tua alma às mãos de teu
Filho e devolve à terra o que é da terra, pois mesmo isso será carregado por
ti.
Erguei vossos olhos, Povo de
Deus, alçai vosso olhar! Eis em Sião a arca do Senhor Deus dos exércitos, à
qual vieram pessoalmente prestar assistência os apóstolos, tributando seu
derradeiro culto ao corpo que foi princípio de vida e receptáculo de Deus.
Imaterialmente e invisivelmente os anjos o cercam com respeito, como servidores
da Mãe de seu Senhor. O próprio Senhor lá está, onipresente, ele que tudo enche
e abraça, que na verdade não está em lugar algum porque nele tudo está como na
causa que tudo criou e tudo encerra.
Eis a Virgem, filha de Adão e Mãe
de Deus: por causa de Adão entrega seu corpo à terra, mas por causa de seu
Filho eleva a alma aos tabernáculos celestes! Santificada seja a Cidade santa,
que acolhe mais essa bênção eterna! Que os anjos precedam a passagem da divina
morada e preparem seu túmulo, que o fulgor do Espírito a decore! Preparai
aromas para embalsamar o corpo imaculado e repleto de delicioso perfume! Desça
uma onda pura a fim de haurir a bênção da fonte imaculada da bênção! Alegre-se
a terra de receber o corpo e exulte o espaço pela ascensão do espírito! Soprem
as brisas, suaves como o orvalho e cheias de graça! Que toda a criação celebre
a subida da Mãe de Deus: os grupos de jovens em sua alegria, a boca dos
oradores em seus panegíricos, o coração dos sábios em suas dissertações sobre
essa maravilha, os velhos de veneráveis cãs em suas contemplações. Que todas as
criaturas se associem nessa homenagem, que ainda assim não seria suficiente.
Todos, pois, deixemos em espírito este mundo com aquela que dele parte. Sim,
todos, pelo fervor do coração, desçamos com a que desce à sepultura e ali nos
coloquemos. Cantemos hinos sacros e nossas melodias se inspirem nas palavras:
"Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo!" Permanece na alegria, tu
que foste predestinada a ser Mãe de Deus. Permanece na alegria, tu que foste
eleita antes dos séculos por um desígnio de Deus, germe divino da terra,
habitação do fogo celeste, obra-prima do Espírito Santo, fonte de água viva,
paraíso da árvore da vida, ramo vivo que portas o divino fruto, donde fluem o
néctar e a ambrosia, rio de aromas do Espírito, terra produtora da divina
espiga, rosa resplandecente da virgindade, donde emana o perfume da graça, lírio
da veste real, ovelha que geras o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo,
instrumento de nossa salvação, superior às potências angélicas, serva e Mãe!
Vinde, enfileiremo-nos em torno
ao túmulo imaculado para dali sorvermos a divina graça! Vinde, abracemos em
espírito o corpo virginal. Entremos no sepulcro e morramos nele, rejeitando as
paixões da carne, vivendo uma vida sem concupiscência e sem mácula. Escutemos
os hinos divinos, cantados imaterialmente pelos anjos. Entremos para adorar,
aprendamos a conhecer o mistério inaudito: como esse corpo foi elevado às
alturas, arrebatado ao céu, como a Virgem foi posta junto de seu Filho acima
dos coros angélicos, de sorte que nada se interpusesse entre Mãe e Filho.
Tal é, depois de outros dois, o
terceiro discurso que compus acerca de tua partida, ó Mãe de Deus, em honra e
amor da Trindade, cuja cooperadora foste, por benevolência do Pai e por virtude
do Espírito, quando recebeste o Verbo sem princípio, a Sabedoria onipotente, a
Força de Deus. Aceita, pois, minha boa vontade, maior do que minha capacidade,
e dá-me a salvação, a libertação das paixões da alma, o alívio das doenças dos
corpos, a salvação das dificuldades, a vida de paz, a luz do Espírito. Inflama
nosso amor por teu Filho, regula nossa conduta sobre o que lhe apraz, a fim de
que, na posse da bem-aventurança do alto, e vendo-te refulgir com a glória de
teu Filho, façamos ressoar hinos sagrados, na eterna alegria, na assembléia dos
que celebram, em festa digna do Espírito, aquele que por ti opera nossa
salvação, o Cristo Filho de Deus e nosso Deus, a quem pertence a glória e o
poder, com o Pai sem princípio e o Espírito Santo e vivificador, agora e sempre
pelos séculos. Amém.
FONTE:
GOMES, Folch, Antologia dos Santos Padres. São
paulo: Paulinas, 1979.
NOTAS:
1 - O autor passa a aludir aqui a certa tradição,
segundo a qual Nossa Senhora, ao morrer em Jerusalém, teve à sua volta os
apóstolos.
2. O autor pensa em Hieroteu, apresentado como
mestre de Dionísio em seu livro "Os Nomes Divinos".
16 de Agosto: Trasladação de Edessa para Constantinopla da
imagem «Aquiropita» de Nosso Senhor Jesus Cristo (944)
Segundo
a tradição, o primeiro ícone de Jesus Cristo surgiu durante sua vida terrena.
Faz-se referência a esta imagem como a «Sagrada Face», ou melhor, «O ícone não
feito por mãos humanas». A tradição relata que, durante o tempo do Salvador,
Abgar, o governante de Edessa, sofria de lepra. Embora nunca tenha visto o
Salvador, Abgar acreditava em Jesus como o Filho de Deus por ter ouvido falar
sobre os grandes milagres realizados por ele, e lhe teria escrito uma carta
pedindo para que fosse curá-lo, a qual enviou à Palestina através do seu
próprio retratista e pintor Ananias, tendo lhe encomendado também um retrato
(pintura) do Divino Mestre. No entanto, quando Ananias chegou a Jerusalém e viu
o Senhor, lhe foi impossível aproximar-se dele devido à grande multidão que o
cercava. Ao vê-lo, Jesus lhe chamou pelo nome, entregando-lhe uma carta para
Abgar na qual fazia elogios à sua grande fé e prometia enviar um de seus
discípulos para curá-lo a lepra e guiá-lo à salvação. O Senhor, em seguida,
pediu um lenço e água. Lavou o seu rosto e o enxugou com o lenço, e seu divino
semblante ficou plasmado no lenço. Ananias levou a Edessa este lenço e a carta
do Salvador. Com muita reverência Abgar recebeu o que Jesus lhe havia enviado e
a sua cura foi imediata; apenas um pequeno vestígio da sua terrível aflição
permaneceu em seu rosto até a chegada do discípulo prometida pelo Senhor. Este
discípulo foi São Tadeu (21 de agosto) um dos dos Setenta Discípulos, que lhe
anunciou o Evangelho, batizou o devoto Abgar e todas as pessoas de Edessa. Esta
é, portanto, a tradição sobre a imagem que hoje se venera, como a «Imagem não
feita por mãos humanas», a «Sagrada Face»
Tradução
e publicação neste site
com
permissão de Ortodoxia.org
Trad.:
Pe. André
Folheto Dominical da Igreja Anunciação da Mãe de Deus
Responsável
Reverendo Ecônomo Padre Emanuel Sofoulis
Editoração e Diagramação
Antonio José
Atualização da Página na
internet
Jean Stylianoudakis
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