03 março 2014

Quaresma 2014 (03/03/2014)

INÍCIO DA SANTA E GRANDE QUARESMA 
Ἄρχεται ἡ Ἁγία καί Μεγάλη Τεσσαρακοστή
(MATINAS: Is. 1, 1-20 | VÉSPERAS: Gn. 1, 1-13; Prov. 1, 1-20 Lc. 21, 8-36)*
Homilia Catequética para a Grande Quaresma 2014
Prot.n. 138 (grego/ελληνικά)
 B A R T O L O M E U
 Pela misericórdia de Deus, Arcebispo de Constantinopla-Nova Roma e Patriarca Ecumênico. A toda a plenitude da Igreja: Graça e Paz de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, assim como nossas orações, bençãos e perdão estejam com todos vós.
* * *
« Este é o tempo favorável, este é o dia da salvação. » 
(2Cor. 6, 2-3)
Amados irmãos e filhos no Senhor,
Nossa Igreja Ortodoxa recomenda que, durante este período da Grande Quaresma, nos foquemos no verdadeiro arrependimento, “o caldeirão dos pecados”, segundo São João Crisóstomo. O arrependimento é o primeiro tema da pregação de nosso Senhor Jesus Cristo e é a própria essência da doutrina cristã. Este é convite cotidiano da Igreja para todos nós.
   Apesar disso, muitos de nós não experimentamos o arrependimento com sinceridade. Às vezes sentimos que isso não nos diz respeito, porque não olhamos para nós mesmos, a fim de compreender e perceber como podemos ter cometido algum pecado. No entanto, como nos ensinou o sábio professor da vida espiritual Abba Isaac o Sírio e como a maioria dos Padres da Igreja proclamaram através da experiência: “o arrependimento é necessário até mesmo para o perfeito.” Isso porque o arrependimento não significa meramente o remorso pelos nossos pecados e a consequente decisão de deixar de repeti-los, mas especialmente a mudança de nossas concepções sobre o que é melhor, de modo que conquistemos um constante progresso diante de Deus e do mundo, assim como um contínuo crescimento do amor e da humildade, da purificação e da paz.
   Neste sentido, o arrependimento é uma jornada sem fim em direção à divina perfeição, à qual devemos objetivar a todo o momento. Em verdade, como a perfeição de Deus não tem limites, o nosso caminho em direção a sua semelhança também deve ser sem limites e sem fim. Sempre há um nível de perfeição além daquele que conseguimos alcançar, e por isso constantemente devemos buscar o progresso espiritual e a transformação, como nos exorta o Apóstolo Paulo, que ascendeu ao terceiro céu e viu os mistérios inefáveis​​: “todos nós, de face descoberta, refletimos a glória do Senhor, como um espelho, e nos vemos transformados nesta mesma imagem, sempre mais gloriosa, pela ação do Senhor, que é Espírito.” (2Cor 3, 18 ).
   Quanto mais o nosso mundo interior [nosso íntimo] é purificado, mais o nosso olho espiritual é clareado, com mais nitidez enxergamos a nós mesmos e tudo aquilo que está envolta de nós. Além disso, essa mudança – que é o aperfeiçoamento da nossa visão da realidade deste mundo e da nossa própria condição espiritual – é precisamente o que constituiu o arrependimento. O arrependimento é um renovado e melhorado estado de espírito, da condição em que hoje nos encontramos. Nesse sentido, o arrependimento é a condição fundamental para progredir espiritualmente e para alcançar a semelhança de nossas vidas em Deus.
   Para que o arrependimento seja autêntico, decerto que ele também deve estar acompanhado dos frutos apropriados, especialmente o perdão e a caridade para com os outros. Nossas ações para com o próximo devido ao amor do nosso coração destinado a aceitá-lo e a atender a suas necessidades, tanto quanto possível, é um elemento fundamental do sincero arrependimento. Além disso, o caminho do arrependimento consiste em condenar os pecados e em confessá-los, em não guardar rancor, em rezar com fervor, dando provas da misericórdia, da humildade e do amor fraterno, fazendo prevalecer o bem sobre o mal, e evitando a vaidade e a futilidade que murcham imediatamente.
   Esta batalha dentro de nossa alma é revelada na “diferença entre o publicano e o fariseu...”, que é um convite para “desprezar a voz orgulha do segundo, e imitar a oração contrita do primeiro”, rogando ao Senhor em lágrimas: “Ó Deus concede a nós, pecadores, a Tua piedade e tem misericórdia de nós!” 
   O período da Grande Quaresma, que se inicia hoje, é uma oportunidade, em meio à crise financeira generalizada e global, para manifestar nossa assistência material e espiritual em relação aos nossos próximos. Quando agimos com caridade e manifestamos nosso arrependimento na prática – mudando nossas condutas do individualista e farisaico para uma maneira de vida coletivista e altruísta, como o publicano –, percebemos o grande benefício do arrependimento e da conversão, além de experimentarmos o arrependimento como uma transição vital do pecado, do egoísmo e da vaidade para a virtude do amor, “aspirando a humildade e a atitude do publicano, que mereceu a misericórdia de Deus.
   Do Trono Patriarcal de São João Crisóstomo, que tanto pregou e praticou tal arrependimento, à medida que entramos neste período salvífico de purificação do coração e da alma, a fim de acolher a Paixão, a Cruz, o Sepultamento e a Ressurreição de nosso Senhor, não apenas em rituais e palavras, mas também na prática e na experiência, nós também como seus indignos sucessores exortamos, suplicamos e imploramos: “Toma o arrependimento, tornando-te uma nova pessoa, renunciando a velha natureza do pecado e adquirindo a vida nova... Porque aí é onde se encontra a plenitude da divina graça.”
   Eis, portanto, amados irmãos e filhos, que diante de nós se abre um tempo favorável para “a lamentação”, uma arena de vigilância e disciplina, para que “diante do espetáculo desta vida, possamos cuidar de nossa salvação” com sincero e real arrependimento de todos “os nossos pecados, erros, e injustiças... enfim, de tudo aquilo que fizemos em desacordo com o que nos fora prescrito” pelo Senhor, para que Cristo Deus, “Que está presente em todos os lugares e em todas as coisas, possa zelar por nós”, em Sua grande e insondável misericórdia. Que Sua graça salvadora esteja com todos vós.
Santa e Grande Quaresma de 2014.
 BARTOLOMEU de Constantinopla
fervoroso intercessor diante de Deus por todos vós.
Tom da semana: 3º Tom
† MATINAS
LEITURA DO LIVRO DO PROFETA ISAÍAS
Castigo de Judá; contra a hipocrisia religiosa
(Is. 1, 1-20)
Visão de Isaías filho de Amós, que ele viu a respeito de Judá e de Jerusalém, nos dias de Ozias, Joatão, Acaz e Ezequias, rei de Judá. 
   Ouvi, céus! escuta, terra, porque o Senhor fala: Filhos eu criei e os fiz crescer, mas eles se rebelaram contra mim. O boi conhece o seu dono e o jumento a manjedoura de seu patrão; Israel não tem conhecimento, meu povo não compreende. 
   Ai da nação que peca, do povo carregado de faltas, da raça de malvados, dos filhos degenerados! Eles abandonaram o Senhor, desprezaram o Santo de Israel, voltaram atrás. 
   Onde quereis ainda ser feridos, vós que continuais na rebelião? Toda a cabeça está doente, e todo o coração enfermo; desde a planta dos pés até à cabeça, não há nele nada de são: chagas, lesões e feridas recentes não espremidas, nem atadas ou aliviadas com unguento. 
   Vossa terra está devastada, vossas cidades incendiadas pelo fogo, vosso solo, estrangeiros o devoram diante de vós, e a desolação é como uma catástrofe causada por estrangeiros. A filha de Sião foi deixada como uma cabana na vinha, como uma choça no pepinal, como uma cidade sitiada. 
   Se o Senhor Todo-poderoso não nos tivesse deixado alguns sobreviventes, seríamos como Sodoma, semelhantes a Gomorra. 
   Ouvi a palavra do Senhor , magistrados de Sodoma, prestai ouvidos ao ensinamento do nosso Deus, povo de Gomorra. Que me importa a abundância de vossos sacrifícios? – diz o Senhor. Estou farto de holocaustos de carneiros e de gordura de animais cevados; do sangue de touros, de cordeiros e de bodes, não me agrado. 
   Quando entrais para vos apresentar diante de mim, quem vos pediu para pisardes os meus átrios? Não continueis a trazer oferendas vazias! O incenso é para mim uma abominação! Não suporto neomênia, sábado, convocação de assembléia: iniquidade com reunião solene! Vossas neomênias e vossas solenidades, eu as detesto! Elas são para mim um peso, estou cansado de suportá-las. Quando estendeis as vossas mãos, escondo de vós os meus olhos. Ainda que multipliqueis a oração, eu não ouço: Vossas mãos estão cheias de sangue! Lavai-vos, purificai-vos. Tirai a maldade de vossas ações de minha frente. Deixai de fazer o mal! Aprendei a fazer o bem! Procurai o direito, corrigi o opressor. Julgai a causa do órfão, defendei a viúva. 
   Vinde, debatamos – diz o Senhor. Ainda que vossos pecados sejam como púrpura, tornar-se-ão brancos como a neve. Se forem vermelhos como o carmesim, tornar-se-ão como lã. Se consentirdes em obedecer, comereis as coisas boas da terra. Mas se recusardes e vos rebelardes, pela espada sereis devorados, porque a boca do Senhor falou!
† VÉSPERAS
LEITURA DO LIVRO DE GÊNESIS
História da criação
(Gn. 1, 1-13)
mosaico criação do mundo
No princípio Deus criou o céu e a terra. A terra estava deserta e vazia, as trevas cobriam o Oceano e um vento impetuoso soprava sobre as águas. 
   Deus disse: “Faça-se a luz”! E a luz se fez. Deus viu que a luz era boa. Deus separou a luz das trevas. E à luz Deus chamou “dia”, às trevas chamou “noite”. Fez-se tarde e veio a manhã: o primeiro dia. 
   Deus disse: “Faça-se um firmamento entre as águas, separando umas das outras”. E Deus fez o firmamento. Separou as águas que estavam debaixo do firmamento das águas que estavam por cima do firmamento. E assim se fez. Ao firmamento Deus chamou “céu”. Fez-se tarde e veio a manhã: o segundo dia. 
   Deus disse: “Juntem-se as águas que estão debaixo do céu num só lugar e apareça o solo firme”. E assim se fez. Ao solo Deus chamou “terra” e ao ajuntamento das águas “mar”. E Deus viu que era bom. 
   Deus disse: “A terra faça brotar vegetação: plantas, que deem semente, e árvores frutíferas, que deem fruto sobre a terra, tendo em si a semente de sua espécie”. E assim se fez. A terra produziu vegetação: plantas, que dão a semente de sua espécie, e árvores, que dão fruto com a semente de sua espécie. E Deus viu que era bom. Fez-se tarde e veio a manhã: o terceiro dia.
LEITURA DO LIVRO DOS PROVÉRBIOS
As más companhias
(Prov. 1, 1-20)
Provérbios de Salomão filho de Davi, rei de Israel. Para aprender a sabedoria e a disciplina, para entender sentenças instrutivas; para adquirir uma disciplina esclarecida, a justiça, o direito e a retidão; para ensinar sagacidade aos inexperientes, saber e reflexão ao jovem. Ao escutá-lo, o sábio aumentará sua formação, e o inteligente alcançará maior habilidade, para entender provérbios e alegorias, as sentenças dos sábios e seus enigmas. O temor do Senhor é o princípio da sabedoria, os tolos desprezam sabedoria e disciplina. 
   Meu filho, escuta a advertência de teu pai, e não rejeites o ensino de tua mãe, pois serão diadema para tua cabeça e um colar para teu pescoço. 
   Meu filho, se os pecadores quiserem seduzir-te, não vás! Se disserem: “Vem conosco, armemos uma emboscada sangrenta, surpreendendo os inocentes, sem motivo, devoremo-los vivos, como o abismo, inteiros, como aqueles que descem à cova; para obtermos toda sorte de preciosidades, enchermos nossas casas de despojos! Partilha tua sorte conosco! Teremos todos uma só bolsa” – meu filho, não os acompanhes em seu caminho, afasta os passos das suas veredas! Porque seus pés correm para o mal, apressam-se a derramar sangue. 
   Por certo, é em vão que se estende a rede à vista de quem tem asas. Mas eles conspiram contra seu próprio sangue, e atentam contra sua própria vida; é o que sucede a todo o que é ávido de lucro vil: a própria vida lhe será tirada.  
   A Sabedoria clama nas ruas, levanta a voz nas praças.
EVANGELHO SEGUNDO SÃO LUCAS
Tempos de angústia; perseguições; desolação de Jerusalém; vinda do Filho do Homem.
(Lc. 21, 8-36)
Disse o Senhor: “Cuidado para não vos deixardes enganar, porque muitos virão em meu nome e dirão: ‘Sou eu’, e ‘O tempo está próximo’. Não os sigais. Quando ouvirdes falar de guerras e revoluções, não vos assusteis. É preciso que primeiro estas coisas aconteçam, mas não virá logo o fim”. Então lhes disse : “Uma nação se levantará contra outra e um reino contra outro. Haverá grandes terremotos e em muitos lugares fome e peste, acontecerão coisas terríveis e grandes sinais no céu
   Antes de tudo isso, porém, sereis presos e perseguidos, sereis entregues às sinagogas e às prisões, e conduzidos diante de reis e governadores, por causa do meu nome. Assim tereis ocasião de dar testemunho. Tende presente no coração de não vos preocupardes com a defesa. Eu é que vos darei respostas tão sábias, a que nenhum dos adversários poderá resistir nem contradizer. Sereis entregues até mesmo pelos pais e irmãos, por parentes e amigos, e alguns de vós serão mortos. Todos vos odiarão por causa do meu nome. Mas não se perderá um só cabelo da vossa cabeça. Pela vossa perseverança salvareis vossas vidas. 
   Quando virdes Jerusalém cercada de exércitos, compreendei que se aproxima a sua destruição. Então os que estiverem na Judeia fujam para os montes. Os que estiverem na cidade retirem-se. Os que estiverem no interior não voltem para a cidade. Porque esses serão dias de punição, para se cumprir tudo que está nas Escrituras. Ai das mulheres que estiverem grávidas ou amamentando naqueles dias! Pois virá uma grande calamidade sobre o país e um grande castigo sobre este povo. Cairão a fio de espada e serão arrastados como prisioneiros para todas as nações. Jerusalém será pisoteada pelos pagãos até que se completem os tempos das nações. 
   Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas. Na terra a angústia tomará conta das nações, perturbadas pelo estrondo do mar e das ondas. As pessoas desmaiarão de medo e ansiedade pelo que virá sobre toda a terra, pois os poderes do céu serão abalados. Aí verão o Filho do homem vir numa nuvem com grande poder e glória. Quando começarem a acontecer estas coisas, tomai ânimo e levantai a cabeça porque vossa libertação se aproxima”. 
   Contou-lhes então uma parábola: “Observai a figueira e as outras árvores. Notando que começam a brotar, logo sabeis que o verão está próximo. Assim também quando virdes acontecer estas coisas, ficai sabendo que está próximo o reino de Deus. Eu vos asseguro: Não passará esta geração antes que tudo isso aconteça. Passará o céu e a terra, minhas palavras não passarão. 
   Estai atentos, para que o vosso coração não fique insensível por causa da gula, da embriaguez e das preocupações da vida, e aquele dia não vos pegue de surpresa. Pois ele cairá como uma armadilha sobre todos os habitantes de toda a terra. Vigiai sempre e orai para escapardes a tudo que há de vir e ficardes de pé diante do Filho do homem”.
* Leituras conforme o Typikon do Patriarcado Ecumênico (Τυπικν τς Μεγάλης το Χριστο Εκκλησίας): Typikon 03-mar-2014. 

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