23 agosto 2014

18º Domingo depois da Páscoa

PATRIARCADO ECUMÊNICO DE CONSTANTINOPLA
Arquidiocese Ortodoxa Grega de Buenos Aires e América do Sul
Igreja Anunciação da Mãe de Deus
_____________________________________________________________________
Brasília, 24 de agosto de 2014
___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________


11º Domingo de Mateus 
11º Domingo de Mateus
18º Domingo depois da Páscoa




Matinas

Tropário:
            Quando desceste até à morte, tu que és a Vida Imortal, então destruíste o inferno com o resplendor da tua divindade. E quando ressuscitaste os mortos do fundo da terra, todas as potestades celestes exclamaram: ó Cristo Deus, autor da vida, glória a ti!
            Glória ao Pai +, ao Filho e ao Espírito Santo,

            Quando desceste até à morte, tu que és a Vida Imortal, então destruíste o inferno com o resplendor da tua divindade. E quando ressuscitaste os mortos do fundo da terra, todas as potestades celestes exclamaram: ó Cristo Deus, autor da vida, glória a ti!
            Agora, sempre e pelos séculos dos séculos. Amém.

Theotokion:
            Ó Mãe de Deus, Teu mistério é glorioso, Teu mistério está acima de todo entendimento, Tua pureza permanece selada e Tua virgindade intacta, Tu que Te fizeste conhecer como verdadeira Mãe, tendo dado à luz ao verdadeiro Deus. Intercedei por nós a Deus para salvar nossas almas.

Katisma:
            Verdadeiramente, o nobre José desprega Teu puríssimo corpo do madeiro, envolve-o em pano de linho puríssimo e com aromas, Te deposita em um sepulcro novo. Mas, ao terceiro dia, Senhor, ressuscitaste para dar ao mundo a grande misericórdia.
            Glória ao Pai +, ao Filho e ao Espírito Santo,

            O anjo apareceu no túmulo e disse para as santas mulheres: "os perfumes são bons para os mortos, mas Cristo mostrou ser estranho a toda corrupção. Ide e clamai: "O Senhor ressuscitou para dar ao mundo a grande misericórdia."
            Agora, sempre e pelos séculos dos séculos. Amém.

Theotokion:
            Ó Virgem Mãe de Deus tu estás acima de toda a glória, e nós cantamos: pela cruz de teu Filho, o inferno foi abatido, a morte foi destruída pela morte, e nós, os mortos, ressuscitados para a vida, restituindo-nos a bem-aventurança primeira do paraíso.



Evangelho                                                                                          Mc 16: 1-8
Evangelho de Nosso Senhor Jesus + Cristo, segundo o Evangelista São Marcos.

            Passado o sábado, Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago, e Salomé compraram aromas para ungir Jesus. E no primeiro dia da semana, foram muito cedo ao sepulcro, mal o sol havia despontado. E diziam entre si: Quem nos há de remover a pedra da entrada do sepulcro? Levantando os olhos, elas viram removida a pedra, que era muito grande. Entrando no sepulcro, viram, sentado do lado direito, um jovem, vestido de roupas brancas, e assustaram-se. Ele lhes falou: Não tenhais medo. Buscais Jesus de Nazaré, que foi crucificado. Ele ressuscitou, já não está aqui. Eis o lugar onde o depositaram. Mas ide, dizei a seus discípulos e a Pedro que ele vos precede na Galiléia. Lá o vereis como vos disse. Elas saíram do sepulcro e fugiram trêmulas e amedrontadas. E a ninguém disseram coisa alguma por causa do medo.

Divina Liturgia

Tropário da Ressurreição – 2º tom:
            Quando desceste até a morte, Tu que És a vida imortal, então destruíste o inferno com o resplendor da Tua divindade. E quando ressuscitaste os mortos do fundo da terra, todas as potestades celeste exclamaram: Cristo Deus, fator da vida, glória a Ti.

Kondakion – 2º tom:
Glória ao Pai +, ao Filho e ao Espírito Santo.
            Tu te levantaste da tumba, ó Salvador onipotente, e o inferno, vendo esta maravilha, estremeceu de medo, e os mortos ressuscitaram de seus túmulos. Adão e toda a Criação se alegram contigo, e o mundo, ó Salvador meu, te louva para sempre.

Theotokion – 2º tom:
            Agora, sempre e pelos séculos dos séculos. Amém
Teus méritos são glorificados acima de toda a razão, ó Mãe de Deus, na pureza selada, preservaste a tua virgindade, verdadeiramente mãe, és reconhecida que deste à luz o verdadeiro Deus roga a Ele que salve as nossas almas!
Hino à Mãe de Deus
            Ó Admirável e Protetora dos cristãos e nossa Medianeira do Criador não desprezes as súplicas de nenhum de nós pecadores, mas apressa-te em auxiliar-nos como Mãe bondosa que és, pois te invocamos com fé: roga por nós junto de Deus, tu que defendes sempre aqueles que te veneram.

Prokimenon:
            O Senhor te ouça no dia da tribulação, o nome do Deus de Jacó te proteja.
            Ó Senhor, salva o teu povo, e ouve-nos, quando te invocarmos.

Epístola                                                                                  1Cor. 9: 2-12
Leitura da 1ª Epistola de São Paulo aos Coríntios.

            Se eu não sou apóstolo para os outros, ao menos o sou para vós; porque vós sois o selo do meu apostolado no Senhor. Esta é minha defesa para com os que me condenam. Não temos nós direito de comer e beber? Não temos nós direito de levar conosco uma esposa crente, como também os demais apóstolos, e os irmãos do Senhor, e Cefas? Ou só eu e Barnabé não temos direito de deixar de trabalhar? Quem jamais milita à sua própria custa? Quem planta a vinha e não come do seu fruto? Ou quem apascenta o gado e não se alimenta do leite do gado? Digo eu isto segundo os homens? Ou não diz a lei também o mesmo? Porque na lei de Moisés está escrito: Não atarás a boca ao boi que trilha o grão. Porventura tem Deus cuidado dos bois? Ou não o diz certamente por nós? Certamente que por nós está escrito; porque o que lavra deve lavrar com esperança e o que debulha deve debulhar com esperança de ser participante. Se nós vos semeamos as coisas espirituais, será muito que de vós recolhamos as carnais? Se outros participam deste poder sobre vós, por que não, e mais justamente, nós? Mas nós não usamos deste direito; antes suportamos tudo, para não pormos impedimento algum ao evangelho de Cristo.

Aleluia!
            Aleluia, aleluia, aleluia!

            Vinde, regozijemo-nos no Senhor; cantemos as glórias de Deus, nosso Salvador!

            Aleluia, aleluia, aleluia!

            Porque o Senhor é grande, é o grande Rei de toda a terra.
Aleluia, aleluia, aleluia!

Evangelho                                                                              Mt. 18, 23-35
            Evangelho de Nosso Senhor Jesus + Cristo, segundo o Evangelista São Mateus:

            Por isso o reino dos céus pode comparar-se a um certo rei que quis fazer contas com os seus servos; E, começando a fazer contas, foi-lhe apresentado um que lhe devia dez mil talentos; E, não tendo ele com que pagar, o seu senhor mandou que ele, e sua mulher e seus filhos fossem vendidos, com tudo quanto tinha, para que a dívida se lhe pagasse. Então aquele servo, prostrando-se, o reverenciava, dizendo: Senhor, sê generoso para comigo, e tudo te pagarei. Então o senhor daquele servo, movido de íntima compaixão, soltou-o e perdoou-lhe a dívida. Saindo, porém, aquele servo, encontrou um dos seus conservos, que lhe devia cem dinheiros, e, lançando mão dele, sufocava-o, dizendo: Paga-me o que me deves. Então o seu companheiro, prostrando-se a seus pés, rogava-lhe, dizendo: Sê generoso para comigo, e tudo te pagarei. Ele, porém, não quis, antes foi encerrá-lo na prisão, até que pagasse a dívida. Vendo, pois, os seus conservos o que acontecia, contristaram-se muito, e foram declarar ao seu senhor tudo o que se passara. Então o seu senhor, chamando-o à sua presença, disse-lhe: Servo malvado, perdoei-te toda aquela dívida, porque me suplicaste. Não devias tu, igualmente, ter compaixão do teu companheiro, como eu também tive misericórdia de ti? E, indignado, o seu senhor o entregou aos atormentadores, até que pagasse tudo o que devia. Assim vos fará, também, meu Pai celestial, se do coração não perdoardes, cada um a seu irmão, as suas ofensas.

Sinaxe

«Perdoai as nossas dívidas, assim como nós
perdoamos aos nossos devedores»

            A atitude daquele que obteve misericórdia de Deus por causa das grandes dívidas, mas que não soube retribuí-la àquele que lhe devia pouco, a princípio, pode causar em nosso interior indignação e tristeza ante tamanha injustiça ou incoerência. No entanto, não estamos tão imunes ou tão distantes de repetirmos semelhantes disparates. De fato, o primeiro sentimento nosso é o de estranheza. Mas, tal estranheza vai dando lugar à semelhança e, não poucas vezes, à identificação . Não somos tão coerentes assim, não somos tão cristãos assim, como as vezes pensamos ser. E, é nestes momentos de identificação, que precisamos nos soerguer e caminhar.
            O Evangelho narrado por Mateus, no capitulo 18, nos traz a tão conhecida pergunta feita a Jesus por Pedro: “Senhor, quantas vezes devemos perdoar?”. A resposta que Jesus lhe dá, da mesma forma, nos é familiar, pois repetidas vezes, ouvimo-la. A resposta de Jesus, é, então acompanhada pela narrativa que é conteúdo e objeto de reflexão deste XI Domingo de Mateus.
            Jesus, como pedagogo e Mestre, responde a Pedro que devemos perdoar não somente sete vezes, mas setenta vezes sete. Ele complementa e elucida a resposta com esta parábola, inteligentemente construída do ponto de vista ilustrativo, densamente catequético, do ponto de vista da coerência humana e profundamente teológico, pois ensina que os seguidores de Cristo devem imitá-lo, exercitando o perdão e a misericórdia.
            A coerência exige coesão entre o falar e o fazer; exige lógica entre o agir e a fé que dizemos abraçar e professar. E, nem sempre a observamos: todas as vezes que rezamos a Oração do Pai-nosso, pedimos para que Deus perdoe nossos erros, na mesma medida que perdoamos aqueles que nos ofendem com suas fraquezas, insultos, mentiras, injustiças etc. Nossa sorte reside no fato de Deus, ao escutar nossa oração, ser movido mais pela misericórdia do que pelo rigor em cumprir aquilo que ouve de nossa boca.
            Nesta parábola, identificamos dois sujeitos distintos: aquele que perdoa e o que é perdoado. Facilmente ligamos a pessoa do “rei” que perdoa a Deus e a pessoa do servo que é perdoado, a todos nós. Conceder o perdão é um ato e um atributo divino. Ser perdoado é uma realidade inerente à natureza humana.           Quem perdoa se mostra semelhante e se identifica com Deus.
            "Não podemos conhecer a Deus segundo sua grandeza, mas podemos conhecê-Lo segundo seu amor e sua misericórdia. O amor é identificado pela gratuita filiação e a misericórdia revela-se pelo ininterrupto perdão que nos é oferecido a cada queda", diz Santo Irineu.
            Quem é perdoado resgata a pureza e a essência de criatura que é. Aquele que primeiramente foi perdoado, não soube dar o perdão ao outro que também necessitava. Ele soube ser totalmente humano ao reivindicar o perdão de suas dívidas, mas não soube ser nada divino ao negar o mesmo perdão que lhe foi pedido por seu semelhante.
            "Os homens exercem a misericórdia na medida que podem. Em troca recebem-na de Deus de maneira copiosa. Pois não há comparação entre a misericórdia humana e divina. Entre elas há uma grande distância", diz São João Crisóstomo.
            São Mateus usa esta analogia para nos ensinar que Deus sempre está pronto a nos conceder o perdão. Enfatiza, por outro lado, que o que é perdoado deve também estender o perdão ao irmão ofensor, pois o impiedoso será julgado com a mesma severidade. É necessário que o coração do homem se encha de generosidade e misericórdia ante o irmão que erra, se quer que Deus assim proceda quando estiver diante do justo Juiz.
            “É desta forma que eu quero ver se amas o Senhor e a mim, seu servo e teu, se procederes assim: Que não haja no mundo nenhum irmão que, por muito que tenha pecado e venha ao encontro do teu olhar a pedir misericórdia, se vá de ti sem o teu perdão. E se não vier pedir misericórdia, pergunta-lhe tu se a quer. E se, depois, mil outras vezes vier ainda à tua presença para o mesmo, ama-o mais que a mim, a fim de o trazeres ao Senhor. E que sempre te enchas de compaixão por esses desgraçados. E quando puderes, informa os guardiões que estás decidido a proceder deste modo”. (S.Francisco de Assis)
            O perdão parte sempre de Deus e é distribuído aos homens. Estes, por sua vez, o redistribuem, formando a corrente da misericórdia e do amor. Se um elo desta corrente se quebra, rompe-se a possibilidade de todos experimentarem o que Deus nos oferece e o que os irmãos deveriam repassar. A troca do perdão e da misericórdia em uma comunidade cristã entre seus membros é o fiel da balança que nos mostra o quanto esta mesma comunidade de fato vive o que Jesus ensinou. A Igreja, que é comunidade de irmãos que se amam e se perdoam, experimenta a misericórdia do Pai na fonte, e deve repartir tal graça a seus membros. A mútua troca de perdão e de amor faz mais unida a comunidade cristã e a faz digna da expressão: “Vede como eles se amam”.
            “Não é possível manter a unidade nem a paz, se os irmãos não se aplicam a guardar a tolerância mútua e o elo da concórdia graças à paciência. Que dizer ainda, a não ser que não juremos, nem maldigamos, nem reclamemos o que nos tiraram, que apresentemos a outra face a quem nos bate, que perdoemos ao irmão que pecou contra nós, e não só setenta e sete vezes, que desculpemos as suas faltas, que amemos os nossos inimigos, que oremos pelos nossos adversários e por aqueles que nos perseguem?" diz São Cipriano, bispo de Cartago e mártir da Igreja.
            Muitos podem não perdoar, mas o cristão que quer viver sua fé de maneira autêntica, seguindo os passos e os ensinamentos do Senhor deve, não só fazê-lo, como incentivar a que ele seja praticado sempre, pois faz parte da essência do cristianismo condenar o erro mas amar o pecador.
            Atualmente parece que o mundo se identifica mais com o gesto incoerente do servo impiedoso do que com o gesto do rei misericordioso. A linguagem do perdão não é facilmente decifrada pelo mundo; a linguagem da misericórdia é abafada pelos apelos da vingança e da intolerância; a linguagem do amor se faz muda e surda aos que têm um coração incapaz de compreender gestos altruístas.
            É fundamental lembrar que estamos no mundo e não podemos nos deixar contaminar por ele, pois não somos do mundo, como disse o próprio Jesus. Mesmo que estejamos nadando contra a corrente dos ensinamentos do mundo, sabemos que temos um porto seguro, um caminho a ser seguido, uma meta a ser alcançada. A santidade é o que buscamos.

«Não devias também tu ter piedade do teu companheiro,
tal como eu tive piedade de ti?»

            Santo Isaac o Sírio (século VII), monge em Nínive, perto de Mossul no atual Iraque: Discursos espirituais:

            A compaixão, por um lado, e o juízo de simples equidade, por outro, se coexistem na mesma alma, são como um homem que adora Deus e os ídolos na mesma casa. A compaixão é o contrário do julgamento por simples justiça. O julgamento estritamente equitativo implica a igual repartição por todos de uma medida semelhante.
            Dá a cada um o que ele merece, não mais; não se inclina nem para um lado nem para o outro, não discerne na retribuição. Mas a compaixão é suscitada pela graça, inclina-se sobre todos com a mesma afeição, evita a simples retribuição àqueles que são dignos de castigo e cumula para lá de qualquer medida os que são dignos do bem.
            A compaixão está assim do lada da justiça, o julgamento apenas equitativo está do lado do mal… Tal como um grão de areia não pesa tanto como muito ouro, a justiça equitativa de Deus não pesa tanto como a sua compaixão. Assim como um punhado de areia caindo no grande oceano, assim são as faltas de todas as criaturas em comparação com a providência e a piedade de Deus. Tal como uma nascente que corre com abundância não poderia ser bloqueada por um punhado de pó, também a compaixão do Criador não poderia ser vencida pela malícia das criaturas. Aquele que guarda ressentimento quando reza é como um homem que semeia no mar e espera ceifar.



Nenhum comentário:

Postar um comentário