PATRIARCADO ECUMÊNICO DE
CONSTANTINOPLA
Arquidiocese Ortodoxa Grega de Buenos Aires
e América do Sul
Igreja Anunciação da Mãe
de Deus
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Brasília, 29 de junho de 2014
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Festa dos Santos
Apóstolos Pedro e Paulo
3º Domingo de Mateus
3º Domingo depois de Pentecostes
10º Domingo depois da Páscoa
Matinas
Tropário:
Quando desceste até à morte, tu que és a Vida Imortal, então destruíste
o inferno com o resplendor da tua divindade. E quando ressuscitaste os mortos do
fundo da terra, todas as potestades celestes exclamaram: Cristo Deus, fator da vida,
glória a ti!
Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo,
Quando desceste até à morte, tu que és a Vida Imortal, então destruíste
o inferno com o resplendor da tua divindade. E quando ressuscitaste os mortos do
fundo da terra, todas as potestades celestes exclamaram: Cristo Deus, fator da vida,
glória a ti!
Agora, sempre e pelos séculos dos séculos. Amém.
Theotokion:
Ó Mãe de Deus, Teu mistério é glorioso, Teu mistério está acima de
todo entendimento, Tua pureza permanece selada e Tua virgindade intacta, Tu que
Te fizeste conhecer como verdadeira Mãe, tendo dado à luz ao verdadeiro Deus. Intercedei
por nós a Deus para salvar nossas almas.
Katisma:
Verdadeiramente, o nobre José desprega Teu puríssimo corpo do madeiro,
envolve-o em pano de linho puríssimo e com aromas, Te deposita em um sepulcro novo.
Mas, ao terceiro dia, Senhor, ressuscitaste para dar ao mundo a grande misericórdia.
Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo,
O anjo apareceu no túmulo e disse para as santas mulheres: "os
perfumes são bons para os mortos, mas Cristo mostrou ser estranho a toda corrupção.
Ide e clamai: "O Senhor ressuscitou para dar ao mundo a grande misericórdia."
Agora, sempre e pelos séculos dos séculos. Amém.
Theotokion:
Ó Virgem Mãe de Deus tu estás acima de toda a glória, e nós cantamos:
pela cruz de teu Filho, o inferno foi abatido, a morte foi destruída pela morte,
e nós, os mortos, ressuscitados para a vida, restituindo-nos a bem-aventurança primeira
do paraíso.
Evangelho:
Jo 21, 14-25
Evangelho de Nosso Senhor Jesus † Cristo, segundo o Evangelista.
Era esta já a terceira vez que
Jesus se manifestava aos seus discípulos, depois de ter ressuscitado. Tendo eles comido, Jesus perguntou a Simão Pedro:
Simão, filho de João, amas-me mais do que estes? Respondeu ele: Sim, Senhor, tu
sabes que te amo. Disse-lhe Jesus: Apascenta os meus cordeiros. Perguntou-lhe outra
vez: Simão, filho de João, amas-me? Respondeu-lhe: Sim, Senhor, tu sabes que te
amo. Disse-lhe Jesus: Apascenta os meus cordeiros. Perguntou-lhe pela terceira vez:
Simão, filho de João, amas-me? Pedro entristeceu-se porque lhe perguntou pela terceira
vez: Amas-me?, e respondeu-lhe: Senhor, sabes tudo, tu sabes que te amo. Disse-lhe
Jesus: Apascenta as minhas ovelhas. Em verdade, em verdade te digo: quando eras
mais moço, cingias-te e andavas aonde querias. Mas, quando fores velho, estenderás
as tuas mãos, e outro te cingirá e te levará para onde não queres. Por estas palavras,
ele indicava o gênero de morte com que havia de glorificar a Deus. E depois de assim
ter falado, acrescentou: Segue-me! Voltando-se Pedro, viu que o seguia aquele discípulo
que Jesus amava (aquele que estivera reclinado sobre o seu peito, durante a ceia,
e lhe perguntara: Senhor, quem é que te há de trair?). Vendo-o, Pedro perguntou
a Jesus: Senhor, e este? Que será dele? Respondeu-lhe Jesus: Que te importa se eu
quero que ele fique até que eu venha? Segue-me tu. Correu por isso o boato entre
os irmãos de que aquele discípulo não morreria. Mas Jesus não lhe disse: Não morrerá,
mas: Que te importa se quero que ele fique assim até que eu venha? Este é o discípulo
que dá testemunho de todas essas coisas, e as escreveu. E sabemos que é digno de
fé o seu testemunho. Jesus fez ainda muitas outras coisas. Se fossem escritas uma
por uma, penso que nem o mundo inteiro poderia conter os livros que se deveriam
escrever.
Divina Liturgia
Tropário da Ressurreição
– 2º tom:
Quando desceste até a morte, Tu que És a vida imortal, então destruíste
o inferno com o resplendor da Tua divindade. E quando ressuscitaste os mortos do
fundo da terra, todas as potestades celeste exclamaram: Cristo Deus, fator da vida,
glória a Ti.
Tropário de São
Pedro e São Paulo:
Príncipes dos apóstolos e doutores do Universo, São Pedro e São Paulo,
rogai ao Mestre de todas as coisas que dê a paz ao mundo e às nossas almas a sua
grande misericórdia.
HIPACOÏ
Qual é a prisão que não te guardou algemado? Qual é a Igreja na qual
não foste pregador? Damasco se orgulha de ti, ó Paulo, pois te viu caído diante
da Luz; Roma se ufana de possuir teu sangue; Tarso, porém, cuja alegria é maior,
venera com ardor teu nascimento. Ó Pedro, rochedo da fé, e Paulo, glória do Universo,
vinde juntos confirmar-nos!
Kondakion – 2º
tom:
Glória ao Pai , ao Filho e ao Espírito Santo.
Tu te levantaste da tumba, ó Salvador onipotente, e o inferno, vendo
esta maravilha, estremeceu de medo, e os mortos ressuscitaram de seus túmulos. Adão
e toda a Criação se alegram contigo, e o mundo, ó Salvador meu, te louva para
sempre.
Theotokion –
2º tom:
Agora, sempre e pelos séculos dos séculos. Amém
Teus méritos são glorificados acima de toda a razão, ó Mãe de Deus,
na pureza selada, preservaste a tua virgindade, verdadeiramente mãe, és reconhecida
que deste à luz o verdadeiro Deus roga a Ele que salve as nossas almas!
Kondakion de
São Pedro e São Paulo:
Levaste, Senhor, para descansar e gozar de teus bens, os dois infalíveis
pregadores de fala divina, os príncipes dos apóstolos; pois preferiste suas provações
e morte a qualquer sacrifício, Tu, o único conhecedor dos segredos dos corações.
Prokimenon:
Por toda a terra espalhou-se a sua voz, e até os confins do mundo foram
as suas palavras. Os céus narram a glória de Deus; e o firmamento anuncia a obra
de suas mãos.
Epístola
2Cor 11, 21 - 12, 9
Leitura da 2ª Epistola de São Paulo aos Coríntios.
Irmãos, sinto vergonha de o dizer;
temos mostrado demasiada fraqueza... Entretanto, de tudo aquilo de que outrem se
ufana (falo como um insensato), disto também eu me ufano. São hebreus? Também eu.
São israelitas? Também eu. São ministros de Cristo? Falo como menos sábio: eu, ainda
mais. Muito mais pelos trabalhos, muito mais pelos cárceres, pelos açoites sem medida.
Muitas vezes vi a morte de perto. Cinco vezes recebi dos judeus os quarenta açoites
menos um. Três vezes fui flagelado com varas. Uma vez apedrejado. Três vezes naufraguei,
uma noite e um dia passei no abismo. Viagens sem conta, exposto a perigos nos rios,
perigos de salteadores, perigos da parte de meus concidadãos, perigos da parte dos
pagãos, perigos na cidade, perigos no deserto, perigos no mar, perigos entre falsos
irmãos! Trabalhos e fadigas, repetidas vigílias, com fome e sede, freqüentes jejuns,
frio e nudez! Além de outras coisas, a minha preocupação cotidiana, a solicitude
por todas as igrejas! Quem é fraco, que eu não seja fraco? Quem sofre escândalo,
que eu não me consuma de dor? Se for preciso que a gente se glorie, eu me gloriarei
na minha fraqueza. Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que é bendito pelos séculos,
sabe que não minto. Em Damasco, o governador do rei Aretas mandou guardar a cidade
dos damascenos para me prender. Mas, dentro de um cesto, desceram-me por uma janela
ao longo da muralha, e assim escapei das suas mãos. Importa que me glorie? Na verdade,
não convém! Passarei, entretanto, às visões e revelações do Senhor. Conheço um homem
em Cristo que há catorze anos foi arrebatado até o terceiro céu. Se foi no corpo,
não sei. Se fora do corpo, também não sei; Deus o sabe. E sei que esse homem - se
no corpo ou se fora do corpo, não sei; Deus o sabe - foi arrebatado ao paraíso e
lá ouviu palavras inefáveis, que não é permitido a um homem repetir. Desse homem
eu me gloriarei, mas de mim mesmo não me gloriarei, a não ser das minhas fraquezas.
Pois, ainda que me quisesse gloriar, não seria insensato, porque diria a verdade.
Mas abstenho-me, para que ninguém me tenha em conta de mais do que vê em mim ou
ouve dizer de mim. Demais, para que a grandeza das revelações não me levasse ao
orgulho, foi-me dado um espinho na carne, um anjo de Satanás para me esbofetear
e me livrar do perigo da vaidade. Três vezes roguei ao Senhor que o apartasse de
mim. Mas ele me disse: Basta-te minha graça, porque é na fraqueza que se revela
totalmente a minha força. Portanto, prefiro gloriar-me das minhas fraquezas, para
que habite em mim a força de Cristo.
Aleluia!
Aleluia, aleluia, aleluia!
Vinde, regozijemo-nos no Senhor; cantemos as glórias de Deus, nosso
Salvador.
Aleluia, aleluia, aleluia!
Porque o Senhor é grande, é o grande Rei de toda a terra.
Aleluia, aleluia, aleluia!
Evangelho
Mt 16: 13-19
Evangelho de Nosso Senhor Jesus † Cristo, segundo o Evangelista São
Mateus:
Naquele tempo, chegando ao território
de Cesaréia de Filipe, Jesus perguntou a seus discípulos: No dizer do povo, quem
é o Filho do Homem? Responderam: Uns dizem que é João Batista; outros, Elias; outros,
Jeremias ou um dos profetas. Disse-lhes Jesus: E vós quem dizeis que eu sou? Simão
Pedro respondeu: Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo! Jesus então lhe disse: Feliz
és, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que te revelou isto,
mas meu Pai que está nos céus. E eu te declaro: tu és Pedro, e sobre esta pedra
edificarei a minha Igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Eu
te darei as chaves do Reino dos céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos
céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus.
Kinonikón:
Por toda a terra espalhou-se a sua voz, e até os confins do mundo foram
as suas palavras.
Aleluia, aleluia, aleluia!
Sinaxe
Os cristãos orientais observam,
ainda hoje, o jejum em preparação à festa dos santos Pedro e Paulo. Faz parte dos
quatro períodos de jejum do ano litúrgico bizantino. Sua duração é variável porque
começa na segunda-feira que se segue ao Domingo de Todos os Santos (1º Domingo depois
de Pentecostes). Depois da Santa Mãe de Deus, a Theotokos, é a única festa de santos,
precedida por um tempo de jejum.
Também a iconografia dá um destaque
particular aos Príncipes dos Apóstolos. Observamos a admirável fidelidade com a
qual, no Oriente, foi transmitida a fisionomia característica dos dois santos.
Isso nos faz pensar que os primeiros
iconógrafos a retratá-los, lhe foram contemporâneos. Não devemos nos admirar, se
em diferentes regiões geograficamente distantes umas das outras, encontramos o mesmo
e persistente modelo iconográfico.
Pedro é sempre reproduzido com
a fronte baixa, os cabelos grisalhos e um pouco encaracolados, a barba curta e arredondada;
tem na mão as chaves e, usualmente, porta a cártula em que a inscrição mais freqüente
é a proclamação de fé: «Tu és o Cristo, filho do Deus vivo» (Mt 16,16).
Paulo, ao invés, tem um aspecto
mais jovem, com poucos cabelos; a fronte alta é evidenciada também pela calvície
e a barba desce mais longa e lisa.
No Ocidente, São Paulo é quase
sempre retratado segurando uma espada, ao passo que no Oriente, com freqüência,
nós o vemos tendo nas mãos o livro das suas Epístolas. É assim que o admiramos no
belíssimo ícone do maior iconógrafo russo, o monge Andrej Rublev. Tal ícone, do
século XV, foi pintado para a Iconostase da catedral de Zvenigorod.
As particularidades das duas fisionomias
permitem reconhecer Pedro e Paulo também em ícones em que os dois santos aparecem
juntos com outros santos, como, por exemplo, no ícone de 15 de agosto, Dormição
da Mãe de Deus; ou no de Pentecostes. Mais tardios são os ícones onde os Príncipes
dos Apóstolos aparecem no grupo dos Doze. Neste ícone, os santos Pedro e Paulo,
no centro, seguram dos dois lados a maquete de uma Igreja, em formato bizantino,
um simbolismo evidente do papel único dos dois na Igreja instituída por Cristo para
a continuação da sua obra salvífica entre os homens.
Os Santos Apóstolos Pedro e Paulo
Dois homens com a mesma missão,
mas diferentes na origem, temperamento e visão pastoral.
Simão Pedro, um pescador de Betsaida
que mais tarde foi se estabelecer em Cafarnaúm e, obedecendo ao mandato do Senhor,
transforma-se em «Pescador de Homens» para o Reino. Paulo, soldado romano, perseguidor
dos cristãos e com uma carreira promissora dentro do Império, torna-se o destemido
apóstolo missionário, fundador de igrejas, em diversos paises. Ambos chamados, tiveram
seus nomes mudados depois de uma forte experiência da Presença do SENHOR em suas
vidas. Simão recebe o nome de «Pedro» (Mt 16,17-19), resultante da sua profissão
de fé em resposta à pergunta que o Senhor lhe havia dirigido sobre sua identidade.
Movido pelo Espírito Santo Simão lhe responde «Tu és o Cristo, o Filho de Deus».
Sobre a «Fé» de Simão expressada
em sua resposta, o SENHOR edifica sua Igreja: «Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei
a minha Igreja». (Mt16,18)
Saulo de Tarso, sofrendo a tão
conhecida «Queda», convertido após a aparição do SENHOR, transforma-se em Paulo;
de perseguidor a propagador do Evangelho. Sua retórica e poder de persuasão foram
colocados a serviço do seu apostolado. De Antioquia foi para a Ilha de Chipre e
percorrendo depois a atual Turquia, Frigia, Galícia, Filipos, Corinto, Tessalônica.
Em Atenas anunciou o Deus desconhecido aos filósofos gregos. Chegou a Roma pelo
ano 60 ou 61, onde foi preso e redigiu suas Cartas às comunidades eclesiais recém
fundadas. Paulo sofreu o martírio aproximadamente no de 67, não sem antes ter ressaltado
nas Cartas a Timóteo: «Combati o bom combate, percorri o caminho e guardei a fé»
(2Tm 4,7).
Pedro e Paulo: dois nomes que
ao longo dos séculos personificam a Igreja inteira em sua ininterrupta Tradição,
sendo por isso invocados com freqüência, tanto nos ritos orientais como latinos
da Igreja.
Fonte:
DONADEO, Madre Maria, O Ano Litúrgico Bizantino.
Editora Ave Maria. São Paulo, 1990.
«Senhor, tu sabes
tudo, tu sabes que te amo»
S. GREGÓRIO PALAMÁS,
Homilia 28,
Leitura para
a Solenidade de São Pedro e São Paulo (Comentário a JO 21,15-19)
Contemplando Pedro, podemos verificar
que não só expiou suficientemente por suas lágrimas de penitência a negação em que
tombou, como também afastou de sua alma o vício da arrogância, pelo qual se julgava
acima dos outros. Querendo demonstrá-lo a todos, o Senhor, depois de ter padecido
por nós em sua carne e ressuscitado ao terceiro dia, disse a Pedro, conforme as
suas palavras no Evangelho de hoje: Simão, filho de João, tu me amas mais do que
estes? (Jo 21,15), quer dizer, mais do que estes meus discípulos?
Vede como se tornou humilde! Outrora,
mesmo sem ser interrogado, antepunha-se aos outros, dizendo: Ainda que todos te
reneguem, eu nunca (cf. Mc 14,29 e Jo 13,37-38). Agora, interrogado se amava mais
do que os outros, afirma que ama, mas isenta-se de comparações, dizendo: Sim, ó
Senhor, tu sabes que te amo (Jo 21,15). E que faz o Senhor? Depois de mostrar que
Pedro não deixara de amá-lo e se convertera à humildade, cumpre abertamente o que
já lhe anunciara, dizendo: Apascenta os meus cordeiros (Jo 21,15). Se quando Cristo
chamando edifício à assembléia dos que nele crêem, promete que tomará Pedro como
pedra fundamental (cf. Mt 16,18); se quando fala de pesca, o faz pescador de homens
dizendo: de agora em diante serás pescador de homens (cf.Mt 4,19); quando chama
os seus de rebanho, coloca Pedro à frente como Pastor, dizendo: Apascenta meus cordeiros,
apascenta as minhas ovelhas.
Pedro, porém, mais duas vezes
interrogado por Cristo se o ama, entristeceu-se pela repetição da pergunta, julgando
que sua afirmação não merecia crédito. Mas convencido do seu amor por Cristo, não
ignorando que esse amor era mais conhecido por Cristo do que por ele próprio, vence
o impasse não somente confessando o seu amor, mas também anunciando que a pessoa
amada por ele é o Deus de todas as coisas: Senhor, tu sabes tudo, tu sabes que te
amo (Jo 21,17). Pois saber tudo é privilégio exclusivo do Deus de todas as coisas.
O Senhor, então, não apenas constituiu
o autor de tal proclamação pastor, e pastor supremo de toda a sua Igreja, mas também
lhe anuncia que seria cingido de tal força que permaneceria firme até à morte, e
morte de cruz, apesar de não ter resistido outrora à pergunta e à afirmação de uma
criada.
Em verdade, em verdade te digo
(disse a Pedro), quando eras jovem e te cingias de juventude corporal e espiritual,
usavas a tua própria força e ias onde desejavas, pois eras movido por tua vontade
e vivias de acordo com tua escolha; quando porém envelheceres, chegando ao fim da
tua juventude corporal e espiritual, estenderás as mãos (cf. Jo 21,18). Queria dar
a entender com isto que Pedro morreria pela cruz, que iria padecer, mas não contra
a vontade. Estenderás as mãos, e outro te cingirá, isto é, te fortalecerá, e te
conduzirá para onde não queres, separando-te dos homens (cf. Jo 21,18). Mostrava
assim que a nossa natureza quer a vida, e que o martírio de Pedro estava acima de
suas forças humanas. Estas coisas, diz o Senhor, suportarás voluntariamente por
minha causa, dando então testemunho de teres sido fortalecido por mim, pois não
pode a natureza humana realizar o que está acima das forças humanas.
«Pedro faz uma
exata profissão de fé em Cristo»
SÃO CIRILO DE
ALEXANDRIA, BISPO,
DAS HOMILIAS
SOBRE O EVANGELHO DE SÃO LUCAS,
(Lc 9,18-24:
confissão de Pedro)
Um dia Jesus rezava com os discípulos
em lugar retirado. E lhes fez a seguinte pergunta: Quem sou eu, no dizer das multidões?
(Lc 9,18). O Salvador e Senhor de tudo mostrava-se como modelo de santidade ao rezar
a sós com os discípulos. Talvez alguma coisa os perturbasse, provocando neles pensamentos
de dúvida. Viam rezar como qualquer homem aquele que na véspera realizara prodígios
divinos. Não era pois infundada a sua dúvida: que coisa estranha! O que pensar a
respeito dele: é Deus ou homem?
Para acalmar o tumulto de tais
pensamentos e tranqüilizar uma fé quase abalada, Jesus lhes faz uma pergunta, sem
ignorar o que dele se dizia entre os estrangeiros e mesmo entre os judeus. Queria
desse modo, desviá-los da opinião de muitos, e neles consolidar uma fé segura. Quem
sou eu no dizer das multidões? (Lc 9,18). De novo Pedro intervém em primeiro lugar,
fazendo-se o porta-voz de todo o grupo, e pronunciando palavras cheias de amor a
Deus, como exata e perfeita profissão de fé no Cristo: O Cristo de Deus (Lc 9,20).
O discípulo é o arauto atento e sábio da verdade sagrada. Não diz simplesmente que
é um Cristo de Deus, mas o Cristo de Deus. Pois muitos consagrados a Deus foram
chamados cristos com significados diferentes: alguns eram reis e outros eram profetas.
Outros ainda (e somos nós, que alcançamos a salvação por meio do Cristo Salvador
universal, e somos ungidos do Espírito Santo) recebem o nome de Cristo. Por conseguinte,
são muitos os cristãos; mas este é o nome que designa uma condição, ao passo que
o outro é um só, o Cristo de Deus Pai.
Depois que o discípulo fez a profissão
de fé, Jesus proibiu severamente que o dissessem a alguém, acrescentando: O Filho
do homem deverá sofrer muito, ser rejeitado, e afinal ser morto, e ressuscitar no
terceiro dia (Lc 9,21.22). Mas porque não convinha dizer isso a outros? Não era
essa justamente a tarefa dos que foram consagrados por ele ao apostolado? Sim, mas
diz a Escritura: Tudo a seu tempo será comprovado (Sir 39,34). Convinha anunciar
primeiro os acontecimentos ainda não consumados: a paixão, a crucifixão, a morte
na cruz e a ressurreição. Este grande e glorioso milagre confirmará que o Emanuel
é verdadeiro Deus, Filho de Deus Pai por natureza.
Na verdade, destruir a morte e
a corrupção, espoliar o inferno, abater o poder do demônio, tirar o pecado do mundo
e abrir para os homens as portas do paraíso unindo céu e terra, tudo isso mostra
que o Emanuel é verdadeiro Deus. Por isso Jesus ordena que o mistério seja por algum
tempo adorado em silêncio, até que todo o processo da economia chegue a seu término.
Assim, depois da ressurreição ordenou que se revelasse o mistério por todo o mundo,
oferecendo a todos a justificação pela fé e a purificação pelo batismo: Todo poder
me foi dado no céu e na terra. Ide, fazei de todos os povos discípulos, batizando-os
em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a guardar tudo o que
vos mandei. Estarei convosco todos os dias, até o fim dos tempos (Mt 6 28,18-20).
Portanto, Cristo está conosco e em cada um de nós, pelo Espírito Santo. Por ele
e com ele sejam dadas louvor e poder a Deus Pai, com o Espírito Santo, pelos séculos.
Amém.
O mais antigo
testemunho histórico do martírio de Pedro e de Paulo
São Clemente
de Roma, Carta aos Coríntios, 5-7
Deixemos estes exemplos [de perseguição no Antigo Testamento] para
nos concentrarmos nos atletas mais próximos de nós; evoquemos os exemplos valentes
da nossa geração. O ciúme e a inveja desencadearam perseguições contra os mais elevados
e mais justos pilares da Igreja, que combateram até à morte. Olhemos os santos apóstolos:
Pedro, por causa de um ciúme injusto, foi sujeito, não a um nem a dois, mas a numerosos
sofrimentos; depois de assim ter dado o seu testemunho, partiu para o descanso na
glória que tinha merecido. O ciúme e a discórdia permitiram a Paulo mostrar como
se obtém o prêmio reservado à constância. Sete vezes feito prisioneiro, exilado,
lapidado, tornado pregador do evangelho no Oriente e no Ocidente, recebeu a fama
que corresponde à sua fé. Depois de ter ensinado a justiça ao mundo inteiro, até
aos confins do Ocidente, deu testemunho diante das autoridades; foi assim que abandonou
este mundo para ir para o descanso da santidade. Modelo supremo de coragem! A estes
homens que levaram uma vida santa, veio juntar-se uma grande multidão de eleitos
que, em conseqüência do ciúme, sofreram todo o gênero de maus tratos e suplícios,
e deram um exemplo magnífico entre nós. […]
Escrevemos-vos tudo isto, bem amados, não apenas para vos advertir,
mas também para vos exortar. Porque nos encontramos na mesma arena; espera-nos o
mesmo combate. Deixemos, pois, as nossas vãs e inúteis preocupações, para seguirmos
a regra gloriosa e venerável da nossa tradição. Tenhamos os olhos fixados naquilo
que é belo, naquilo que é agradável aos olhos daquele que nos criou, naquilo que
lhe toca. Fixemos o olhar no sangue de Cristo e compreendamos o valor que tem para
Deus seu Pai, pois que, derramado pela nossa salvação, obteve para o mundo a graça
da conversão.
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