QUINTA-FEIRA SANTA
Divina Liturgia de S. Basílio: às 9h
Ofício da Paixão: às 19h
A traição de Judas, por sua vez, mostra que o pecado, a morte, a destruição de si mesmo, provêm também do amor, mas de um amor desfigurado, desviado daquilo que merece verdadeiramente ser amado. Tal é o mistério deste dia único cuja Liturgia, impregnada ao mesmo tempo de luz e de trevas, de alegria e de dor, nos coloca diante de uma escolha decisiva da qual depende o destino eterno de cada um de nós.
Divina Liturgia de S. Basílio: às 9h
Ofício da Paixão: às 19h
(MATINAS: Lc. 22, 1-39 | LITURGIA: 1Cor. 11, 23-32; Mt. 26, 1-20;
Jo. 13, 3-17; Mt. 26, 21-39; Lc. 22, 43-44; Mt. 26, 40-75; 27, 1-2)*
A Quinta-feira
A última Ceia
Dois acontecimentos
marcam a liturgia da grande e santa Quinta-feira: a última Ceia de Cristo com
seus discípulos e a traição de Judas. Um e outro encontram seu sentido no amor.
A última Ceia é a revelação última do amor redentor de Deus pelo homem, do amor
enquanto a essência mesma da salvação.A traição de Judas, por sua vez, mostra que o pecado, a morte, a destruição de si mesmo, provêm também do amor, mas de um amor desfigurado, desviado daquilo que merece verdadeiramente ser amado. Tal é o mistério deste dia único cuja Liturgia, impregnada ao mesmo tempo de luz e de trevas, de alegria e de dor, nos coloca diante de uma escolha decisiva da qual depende o destino eterno de cada um de nós.
"Jesus, sabendo que era chegada a hora de
passar deste mundo para seu Pai, tendo amado os seus que estavam neste mundo,
amou-os até o fim.." (Jo. 13,1). Para compreender de fato a última
Ceia, é preciso ver nela o desembocar deste grande movimento de amor divino que
começou com a criação do mundo e que, agora, irá atingir sua plenitude na morte
e na ressurreição do Cristo.
Amor,
vida e comunhão.
"Deus é Amor" (Jo. 4,8). E o
primeiro dom do Amor foi a vida. Esta era essencialmente uma comunhão. Para
viver, o homem devia se nutrir, comer e beber, comungar o mundo. O mundo era,
pois, amor divino tornado alimento, tornado corpo do homem. Estando vivo, isto
é, comungando o mundo, o homem devia estar em comunhão com Deus, fazer de Deus
a finalidade e a substância de sua vida. Comungar o mundo recebido de Deus era,
na verdade, comungar Deus. O homem recebia seu alimento de Deus e,
transformando-o em seu corpo e sua vida, ele oferecia o mundo inteiro a Deus,
ele o transformava em vida em Deus e com Deus. O amor de Deus havia dado a vida
ao homem, o amor do homem por Deus transformava esta vida em comunhão com Deus.
Era o Paraíso. A vida ali era de fato eucarística. Pelo homem, por seu amor por
Deus, toda a criação devia ser santificada e transformada em sacramento
universal da presença divina, e o homem era o padre deste sacramento.
Mas,
pelo pecado, o homem perdeu esta vida eucarística. Ele a perdeu, porque deixou
de olhar o mundo como um meio de comunhão com Deus e sua vida como uma
eucaristia, uma adoração e um louvor... ele amou-se a si próprio e ao mundo em
si mesmo; ele se fez centro e fim de sua própria vida. Ele imaginou que a fome
a sede, quer dizer, o estado de dependência no qual se encontrava sua vida com
relação ao mundo, poderiam ser satisfeitas pelo próprio mundo, pelo alimento
como tal. Mas o mundo e o alimento, forem despojados de seu sentido primordial
de sacramentos, ou seja, meios para comunhão com Deus, se não forem acolhidos
com fome e sede de Deus; em outras palavras, se Deus não está mais ali, o mundo
e o alimento não podem mais dar a vida, nem satisfazer fome alguma, pois eles
não têm a vida em si mesmos. Amando-os por eles mesmos, o homem desviou seu
amor do único objeto de todo amor, de toda fome, de todo desejo... e ele
morreu. Porque a morte é a inevitável decomposição
da vida amputada de sua única fonte e daquilo que lhe dá seu sentido.
O homem
encontra a morte ali onde ele esperava encontrar a vida. Sua vida tornou-se uma
comunhão com a morte, porque em lugar de transformar o mundo em comunhão com
Deus pela fé, pelo amor e pela adoração, ele submete-se inteiramente ao mundo;
ele deixou de ser o padre para tornar-se o escravo dele. E por este pecado do
homem, o mundo inteiro tornou-se um cemitério onde os povos, condenados à
morte, comungam a morte, "plantados
nas trevas da morte" (Mt. 4,16).
O homem
traiu, mas Deus permaneceu fiel ao homem. Como nós dizemos na Liturgia de São
Basílio: "Tu não rejeitaste para
sempre a criatura que afeiçoaste, Ó Deus de bondade, nem esqueceste a obra de
Tuas mãos; mas Tu a visitaste de várias maneiras na ternura de Teu coração."
Uma
nova obra divina ia começar: a da redenção e da salvação. Ela se cumpriria no
Cristo, o Filho de Deus, que para dar outra vez ao homem sua beleza original e
devolver à sua vida o caráter de comunhão com Deus, se fez homem, tomou sobre
Si nossa natureza, com sua sede e sua fome, com seu desejo e amor pela vida.
Nele, a vida foi revelada, dada, aceita, cumprida como uma perfeita eucaristia,
uma total e perfeita comunhão com Deus. O Cristo rejeitou a tentação
fundamental do homem, viver somente do
pão, e revelou que é Deus e seu Reino que são o verdadeiro alimento, a
verdadeira vida do homem. E desta perfeita vida eucarística, repleta de Deus,
portanto divina e imortal, ele faz dom a todos aqueles cuja vida encontra nele
todo seu sentido e seu conteúdo. Tal é a rica significação da última Ceia. O
Cristo se oferece como alimento verdadeiro do homem, pois a vida manifestada
nele é a verdadeira vida. Assim, o movimento de amor que começa no Paraíso com
o divino "tomai e comei..."
(porque se nutrir é a vida do homem) atinge sua plenitude com o "Tomai e comei" do Cristo (porque
Deus é a vida do homem). A última Ceia recria o Paraíso de delícias, restaura a
vida enquanto eucaristia e comunhão.
Esta
hora de amor extremo é também a da mais extrema traição. Judas deixa a luz da
câmara alta para afundar-se dentro da noite. "Era de noite" (Jo. 13,30). Por que ele parte? "Ele ama", responde o Evangelho, e
os hinos da Quinta-feira santa sublinham diversas vezes este amor fatal.
Importa pouco, com efeito, que este amor consista no dinheiro. O dinheiro aqui, simboliza todo amor pervertido e
desviado que leva o homem a trair a Deus. É um amor roubado a Deus e Judas é,
pois, o ladrão. O homem, mesmo se não
é mais Deus ou em Deus que ele ama, não cessa de amar e de desejar, pois ele
foi criado para o amor, e o amor é a sua própria natureza; mas é então uma
paixão cega e auto-destrutiva e a morte é dela o fim. A cada ano, quando nos
afogamos nesta luz e nesta profundeza insondáveis da grande Quinta-feira, a
mesma questão crucial nos é colocada: respondo ao amor do Cristo e aceito que
ele se torne minha vida, ou serei eu o Judas na Sua noite?
Os
ofícios da quinta-feira.
Os
ofícios da grande Quinta-feira compreendem: as matinas, as vésperas seguidas da
Liturgia de São Basílio, o Grande. Nas igrejas catedrais, o lava-pés tem lugar
após à Liturgia; enquanto o Diácono lê o Evangelho, o bispo lava os pés de doze
padres, nos relembrando que é o amor do Cristo que é o fundamento da vida na
Igreja e que, no seio desta, está o modelo de toda relação. É também nesta
grande Quinta-feira que os santos óleos são consagrados pelos chefes das
Igrejas autocéfalas; esta cerimônia significa que o amor novo do Cristo é o dom
que recebemos do Espírito no dia de nossa entrada na Igreja.
Nas
matinas, o tropário (8º Tom) dá o tema do dia: a oposição entre o amor do
Cristo e o desejo insaciável de Judas:
« Quando os ilustres
discípulos estavam iluminados na ceia e no lava-pés, Judas, o mal adorador, foi
ingrato e injusto, e pelo amor ao dinheiro te entregou aos juízes iníquos, ó
Justo Juiz. Contempla, ó amante do dinheiro: este homem, por sua avareza, foi
levado à forca. Foge do desejo insaciável, o qual ousou tais coisas contra o
Mestre. Ó Senhor, que tratas todos com justiça, glória a ti! »
Depois
da leitura do Evangelho de Lucas, o belo cânon de São Cosme nos introduz na
contemplação do mistério da última Ceia, de seu lado místico e eterno. O hirmos
da nona ode nos convida a tomar parte no banquete ao qual o Senhor nos convida:
« Vinde,
vós os crentes! Alegremo-nos da hospitalidade do Senhor no banquete da
imortalidade, na câmara alta, elevando nossos corações...»
Nas
vésperas, os stykeroi sublinham o outro polo trágico desta grande Quinta-feira:
a traição de Judas:
« Judas,
servo e enganador, discípulo e traidor, amigo e demônio, se revelou por suas
ações. Ao seguir o Mestre, conspirou sua traição...»
Após a
Entrada, faz-se três leituras do Velho Testamento:
- Êxodo 19, 10-19: A descida de Deus do monte Sinai em direção a seu povo, imagem da vinda de Deus na Eucaristia.
- Jó 38, 1-24 e 42, 1-5: Fala de Deus a Jó, e resposta deste: "Eu falei sem compreensão de maravilhas que me ultrapassam e que eu ignoro..." — e estas maravilhas divinas são cumpridas no dom do Corpo de Cristo e de seu Sangue.
- Isaías 50, 4-11: Começo das profecias do Servo sofredor.
A
Epístola é tirada de São Paulo, primeira carta aos Coríntios 11, 23-32; é o
relato da última Ceia, dando o sentido da comunhão.
A
leitura do Evangelho da Liturgia (a mais longa do ano) é formada de trechos de quatro Evangelistas
e nos faz ouvir o relato completo da última Ceia, da traição de Judas e da
prisão de Cristo no jardim do Getsêmani.
O hino
dos Querubins e a antífona da comunhão são substituídos pelas palavras da
oração antes da comunhão:
« Da tua
Ceia Mística aceita-me hoje como participante, ó Filho de Deus, pois não direi
o teu segredo aos teus inimigos, nem te darei o beijo como Judas, mas
confesso-me a ti como o bom ladrão, dizendo: Lembra-te de mim, Senhor, no teu
Reino.
»
* Protopresbítero Alexander SCHMEMANN.
Professor e teótogo ortodoxo (1921-1983)
EVANGELHO SEGUNDO SÃO LUCAS
A trama para matar Jesus; A preparação para a última Ceia; Instituição da Eucaristia; Maior é o que serve; Palavra sobre Pedro; Exortação e promessa.
(Lc. 22, 1-39)
A preparação para a última Ceia. Chegou, pois, o dia da Festa dos Pães sem Fermento, em que se devia matar o cordeiro pascal. Jesus enviou Pedro e João, dizendo-lhes: “Ide preparar-nos a Ceia da Páscoa”. Eles perguntaram-Lhe: “Onde queres que a preparemos?” Respondeu-lhes: “Entrando na cidade, virá ao vosso encontro um homem carregando um cântaro de água. Segui-o até a casa em que entrar e dizei ao dono da casa: ‘O Mestre te manda perguntar: onde está a sala em que vou comer a Ceia da Páscoa com os meus discípulos?’ Ele vos mostrará uma grande sala mobiliada, no andar de cima. Fazei ali os preparativos”. Eles foram e acharam tudo como lhes dissera, e prepararam a Ceia da Páscoa.
Tomando um cálice, deu graças e disse: “Tomai este cálice e distribuí entre vós. Pois eu vos digo: Não mais beberei deste vinho até que chegue o reino de Deus”. E tomando um pão, deu graças, partiu-o e deu-lhes dizendo : “Isto é o meu corpo, que é dado por vós. Fazei isto em memória de mim”.
Do mesmo modo, depois de haver ceado, tomou o cálice, dizendo: “Este cálice é a nova aliança em meu sangue, derramado por vós. Eis, porém, que a mão de quem me vai entregar está comigo à mesa. Pois, segundo está determinado, o Filho do homem vai morrer, mas ai daquele homem por quem ele é entregue!” Eles começaram a perguntar uns aos outros quem dentre eles haveria de fazer uma coisa destas.
Maior é o que serve. Surgiu entre eles uma discussão sobre quem deles deveria ser considerado o maior. Jesus disse-lhes: “Os reis das nações as dominam e os que exercem autoridade são considerados benfeitores. Entre vós não seja assim. Ao contrário, o maior entre vós seja como o menor, e quem manda, como quem serve. Pois quem é o maior, quem está sentado à mesa ou quem serve? Não é quem está sentado à mesa? Pois Eu estou no meio de vós como quem serve. Vós sois os que permanecestes comigo nas minhas tentações. Eis por que Eu confio a vós o Reino, assim como o Pai o confiou a mim; assim comereis e bebereis à minha mesa no meu Reino e vos sentareis em tronos, como juízes das doze tribos de Israel.”
Palavra sobre Pedro. “Simão, Simão, Satanás vos procurou para vos peneirar como trigo. Mas eu orei por ti, para que tua fé não falhe; e tu, uma vez convertido, confirma os irmãos”.
Respondeu Simão: “Senhor, estou pronto para ir contigo não só à prisão mas até à morte”. Jesus lhe disse: “Pedro, eu te digo que antes que hoje o galo cante, por três vezes negarás que me conheces”.
Exortação e promessa. E perguntou-lhes: “Quando vos enviei sem bolsa, nem sacola, nem sandálias, faltou-vos alguma coisa?” – “Nada”, responderam eles. Jesus acrescentou: “Pois agora, quem tiver bolsa, que a pegue e também a sacola, e quem não tiver, venda o manto e compre uma espada. Pois eu vos digo que se deve cumprir em mim a seguinte escritura: Foi contado entre os criminosos. Pois aquilo que me diz respeito está para realizar-se”. Eles disseram: “Senhor, aqui estão duas espadas”. E Jesus lhes respondeu: “É o bastante”.
Ao sair, Jesus dirigiu-se, como de costume, para o monte das Oliveiras, e os discípulos também o seguiram.
† DIVINA LITURGIA DE SÃO BASÍLIO
Irmãos, recebi do Senhor o que vos transmiti: O Senhor Jesus, na noite em que foi entregue, tomou o pão e, depois de dar graças, partiu-o e disse: “Isto é meu corpo, que se dá por vós; fazei isto em memória de mim”. E, do mesmo modo, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: “Este cálice é o nova Aliança no meu sangue; todas as vezes que o beberdes, fazei-o em memória de mim”. Pois todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice, anunciareis a morte do Senhor, até que ele venha. Assim, pois, quem come o pão ou bebe o cálice do Senhor indignamente será réu do corpo e do sangue do Senhor.
Examine-se, pois, o homem a si mesmo e então coma do pão e beba do cálice; pois aquele que, sem discernir o corpo [do Senhor], come e bebe sua própria condenação. Por isso há entre vós muitos doentes e débeis e muitos adormecidos. Se nos examinássemos a nós mesmos, não seríamos julgados. Mas, julgados pelo Senhor, somos corrigidos para não sermos condenados com o mundo.
EVANGELHO SEGUNDO SÃO MATEUS, JOÃO E LUCAS
Tropário (8º Tom)
Ὅτε οἱ ἔνδοξοι Μαθηταί, ἐν τῷ νιπτῆρι τοῦ Δείπνου ἐφωτίζοντο, τότε Ἰούδας ὁ δυσσεβής, φιλαργυρίαν νοσήσας ἐσκοτίζετο, καὶ ἀνόμοις κριταῖς, σὲ τὸν δίκαιον Κριτὴν παραδίδωσι. Βλέπε χρημάτων ἐραστά, τὸν διὰ ταῦτα ἀγχόνῃ χρησάμενον, φεῦγε ἀκόρεστον ψυχὴν τὴν Διδασκάλῳ τοιαῦτα τολμήσασαν. Ὁ περὶ πάντας ἀγαθός, Κύριε δόξα σοι.
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Quando os ilustres discípulos estavam iluminados na ceia e no lava-pés, Judas, o mal adorador, foi ingrato e injusto, e pelo amor ao dinheiro te entregou aos juízes iníquos, ó Justo Juiz. Contempla, ó amante do dinheiro: este homem, por sua avareza, foi levado à forca. Foge do desejo insaciável, o qual ousou tais coisas contra o Mestre. Ó Senhor, que tratas todos com justiça, glória a ti!
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Kondákion (2º Tom)
Τὸν ἄρτον λαβών, εἰς χεῖρας ὁ προδότης, κρυφίως αὐτάς, ἐκτείνει καὶ λαμβάνει, τὴν τιμὴν τοῦ πλάσαντος, ταῖς οἰκείαις χερσὶ τὸν ἄνθρωπον, καὶ ἀδιόρθωτος ἔμεινεν, Ἰούδας ὁ δοῦλος καὶ δόλιος.
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Judas, traidor e desleal, tomou o pão com as mesmas mãos que receberam o preço daquele que criou o homem com suas mãos, e se fez perverso.
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PRIMEIRA EPÍSTOLA DE SÃO PAULO AOS CORÍNTIOS
A Eucaristia
(1Cor. 11, 23-32)
(1Cor. 11, 23-32)
Examine-se, pois, o homem a si mesmo e então coma do pão e beba do cálice; pois aquele que, sem discernir o corpo [do Senhor], come e bebe sua própria condenação. Por isso há entre vós muitos doentes e débeis e muitos adormecidos. Se nos examinássemos a nós mesmos, não seríamos julgados. Mas, julgados pelo Senhor, somos corrigidos para não sermos condenados com o mundo.
Conspiração dos sacerdotes judeus; Unção em Betânia; Traição de Judas; Última Ceia;
O lava-pés; Instituição da Eucaristia; Prediz a fuga de todos e a negação de Pedro;
No Getsêmani; Prisão do Messias; Messias diante do Sanedrim;
Negação de Pedro; Jesus é levado a Pilatos.
(Mt. 26, 1-20; Jo. 13, 3-17; Mt. 26, 21-39; Lc. 22, 43-44; Mt. 26, 40-75; 27, 1-2)
A unção de Betânia. Quando Jesus estava em Betânia, na casa de Simão, o leproso, uma mulher chegou perto dele com um vaso feito de alabastro, cheio de precioso perfume e derramou-Lhe sobre a cabeça enquanto ele estava à mesa. Vendo isso, os discípulos disseram indignados: “Para que tanto desperdício? Este perfume poderia ser vendido por bom preço, e o dinheiro distribuído aos pobres”. Ao ouvir isso, Jesus lhes disse: “Por que incomodais esta mulher? Ela me fez uma boa ação. Porque pobres sempre os tendes convosco, a mim, porém, nem sempre me tendes. Ao derramar este perfume no meu corpo, ela me ungiu para a sepultura. Eu vos garanto que, em qualquer parte do mundo onde este evangelho for anunciado, será também contado, em sua memória, o que ela fez”.
A traição de Judas. Então um dos Doze, chamado Judas Iscariotes, foi falar com os sumos sacerdotes e lhes disse: “Quanto quereis dar-me, se eu vos entregar Jesus?” Eles decidiram dar-lhe trinta moedas de prata. E a partir de então, procurava uma ocasião oportuna para entregá-lo.
A última Ceia. No primeiro dia da Festa dos Pães sem Fermento, os discípulos se aproximaram de Jesus e perguntaram: “Onde queres que te preparemos a Ceia da Páscoa?” Ele respondeu: “Ide à cidade, à casa de certo homem, e dizei-lhe: O Mestre mandou dizer: O meu tempo está próximo; quero celebrar em tua casa a Páscoa com os meus discípulos”. Os discípulos fizeram como Jesus lhes tinha mandado e prepararam a Ceia da Páscoa. Chegada a tarde, ele se pôs à mesa com os Doze.
[Jo.] O lava-pés. Jesus sabia que o Pai Lhe tinha colocado todas as coisas nas mãos; sabia que tinha saído de Deus e para Deus voltava. Levantou-se então da mesa, tirou o manto, tomou uma toalha e amarrou-a na cintura. Depois derramou água numa bacia e começou a lavar os pés dos discípulos e a enxugá-los com a toalha da cintura. Ao chegar a Simão Pedro, este Lhe disse: “Senhor, Tu me lavas os pés?” Jesus respondeu-lhe: “O que estou fazendo não o entendes agora. Mais tarde o compreenderás”.
“Jamais me lavarás os pés” – disse Pedro. Jesus respondeu: “Se não te lavar os pés, não terás parte comigo”. Simão Pedro disse: “Então, Senhor, não só os pés mas também as mãos e a cabeça”. Jesus lhe disse: “Quem se banhou precisa lavar só os pés, pois está todo limpo. Vós estais limpos mas nem todos”. Jesus sabia quem havia de entregá-Lo. Por isso disse: “Nem todos estais limpos.”
Depois de lavar-lhes os pés, vestiu o manto, pôs-se de novo à mesa e perguntou-lhes: “Sabeis o que vos fiz? Vós me chamais Mestre e Senhor e dizeis bem, porque o sou. Se pois Eu, Mestre e Senhor, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros. Dei-vos o exemplo para que façais o mesmo que Eu vos fiz. Na verdade Eu vos digo que o escravo não é maior do que o seu senhor, nem o mensageiro maior do que aquele que o enviou. Se compreenderdes isto e o praticardes, sereis felizes.”
[Mt.] A Instituição da Eucaristia. E, enquanto comiam, disse-lhes: “Eu vos garanto que um de vós me entregará”. Muito tristes, começaram a dizer um por um: “Por acaso sou eu, Senhor?” Ele respondeu: “Quem põe comigo a mão no prato, esse me entregará. O Filho do homem segue seu caminho como dele está escrito; mas ai daquele por quem o Filho do homem for traído! Melhor seria para esse homem não ter nascido”.
Então Judas, que ia entregá-Lo, perguntou: “Por acaso sou eu, Mestre?” E ele respondeu: “Tu o disseste”.
Enquanto comiam, Jesus tomou um pão e pronunciou a bênção. Depois, partiu o pão e o deu aos discípulos, dizendo: “Tomai e comei, isto é o meu corpo”. Em seguida, tomando um cálice, depois de dar graças, deu-lhes, dizendo: “Bebei dele todos, pois isto é o meu sangue, o sangue da Aliança, derramado por muitos, para o perdão dos pecados. Digo-vos que já não beberei deste fruto da videira até o dia em que o beberei de novo convosco no reino de meu Pai”.
Pedro tomou a palavra e Lhe disse: “Ainda que todos fiquem desapontados contigo, eu jamais me decepcionarei”. Jesus lhe respondeu: “Eu te garanto que nesta mesma noite, antes que o galo cante, já me terás negado três vezes”. Pedro insistiu: “Ainda que eu tenha de morrer contigo, não te negarei”. E o mesmo diziam todos os discípulos.
[Lc.] E Apareceu-Lhe um anjo do céu, que O confortava. E cheio de angústia orava com mais insistência. Seu suor tornou-se como gotas de sangue caindo por terra.
[Mt.] E Ele Voltou aos discípulos e os encontrou dormindo. E disse a Pedro: “Não fostes capazes de vigiar uma hora comigo? Vigiai e orai para não cairdes em tentação. O espírito está pronto, mas a carne é fraca”.
Afastou-se pela segunda vez e orou, dizendo: “Pai, se este cálice não pode passar sem que eu dele beba, faça-se a tua vontade”. E, voltando outra vez, os encontrou adormecidos. É que eles tinham os olhos pesados de sono. Deixou-os de novo e foi orar pela terceira vez, dizendo as mesmas palavras. Então voltou até os discípulos e lhes disse: “Dormi agora e descansai! Já se aproxima a hora e o Filho do homem vai ser entregue em mãos de pecadores. Levantai-vos! Vamos! Já se aproxima quem me vai entregar”.
A prisão do Messias. Jesus ainda estava falando, quando chegou Judas, um dos Doze, junto com um grande bando armado de espadas e cacetes, enviado pelos sumos sacerdotes e anciãos do povo. O traidor lhes tinha dado esta senha: “Aquele que eu beijar é Jesus; prendei-o”.
Tão logo chegou, Judas aproximou-se de Jesus e disse: “Salve, Mestre!” E o beijou. Jesus lhe disse: “Amigo, faze o que tens a fazer”. Então eles avançaram sobre Jesus e o prenderam. Nisso um dos que estavam com Jesus meteu a mão na espada, puxou-a e feriu o escravo do Sumo Sacerdote, decepando-lhe a orelha. Jesus, porém, lhe disse: “Põe a espada na bainha, pois quem toma da espada, pela espada morrerá. Ou pensas que não posso pedir a meu Pai e Ele me enviaria, neste instante, mais de doze legiões de anjos? Mas, nesse caso, como vão cumprir-se as Escrituras, segundo as quais é assim que deve acontecer?”
Naquela hora Jesus disse à multidão: “Saístes para prender-me como se Eu fosse um ladrão, com espadas e cacetes? Todos os dias Eu estava sentado no Templo a ensinar, e não me prendestes. Mas tudo isso aconteceu para que se cumprissem as Escrituras dos Profetas”. Então todos os discípulos O abandonaram e fugiram.
O Messias diante do Sanedrim. Os que prenderam Jesus levaram-No a Caifás, o Sumo Sacerdote, onde os escribas e anciãos se haviam reunido. Pedro o seguiu de longe até o pátio do Sumo Sacerdote. Entrou ali e sentou-se junto com os guardas para ver como ia terminar. Os sumos sacerdotes e todo o Sinédrio procuravam falsos testemunhos contra Jesus para condená-Lo à morte. Mas não os encontraram, embora muitas testemunhas falsas se tivessem apresentado. Finalmente apresentaram-se duas testemunhas que disseram: “Este homem falou: ‘Posso destruir o Santuário de Deus e em três dias reconstruí-lo’”.
Então o Sumo Sacerdote levantou-se e perguntou: “Nada respondes ao que estes depõem contra ti?” Jesus, porém, permanecia calado. O Sumo Sacerdote lhe disse: “Conjuro-te pelo Deus vivo: dize-nos se Tu és o Cristo, o Filho de Deus”. Jesus respondeu-lhe: “Tu o disseste. Entretanto Eu vos digo: Um dia vereis o Filho do homem sentado à direita do Todo-poderoso, vindo sobre as nuvens do céu”. Então o Sumo Sacerdote rasgou as vestes e disse: “Blasfemou! Que necessidade temos de mais testemunhas? Acabais de ouvir a blasfêmia. O que vos parece?” Eles responderam: “É réu de morte”. Então começaram a cuspir-Lhe no rosto e a dar-Lhe bofetadas, e outros a ferir-Lhe o rosto; e diziam: “Adivinha, ó Cristo, quem foi que te bateu?”
A negação de Pedro. Enquanto isso, Pedro estava sentado lá fora, no pátio. Uma criada aproximou-se dele e disse: “Tu também estavas com Jesus, o Galileu”. Mas ele negou diante de todos, dizendo: “Não sei o que dizes”. Mas, ao sair em direção à porta, outra criada o viu e disse aos que lá estavam: “Este homem estava com Jesus, o Nazareno”. E de novo ele negou com juramento que não conhecia o homem. Pouco depois, os que ali estavam chegaram perto dele e disseram: “De fato, tu também és um deles, pois teu sotaque te denuncia”. Ele então começou a rogar pragas e a jurar que não conhecia o homem. Neste instante o galo cantou. Pedro se lembrou do que Jesus lhe dissera: “Antes que o galo cante, me negarás três vezes”. E, saindo para fora, Pedro chorou amargamente.
[Mt.] Jesus é levado a Pilatos. Chegada a manhã, todos os sumos sacerdotes e os anciãos do povo reuniram-se em conselho contra Jesus para O condenarem à morte. Depois O levaram amarrado e O entregaram ao governador Pilatos.
† OFÍCIO DA PAIXÃO
Leitura dos 12 Evangelhos da Paixão
- Jo. 13, 31-38; 14-18, 1 - Jesus se revela aos apóstolos; A Oração de Cristo.
- Jo. 18, 1-28 - A prisão do Messias; Jesus diante de Caifás.
- Mt. 26, 57-75 - O Messias diante do Sanedrim.
- Jo. 18, 28-40; 19, 1-16 - Jesus é levado a Pilatos; A flagelação.
- Mt. 27, 3-32 - O suicídio de Judas; O julgamento; A flagelação.
- Mc. 15, 16-32 - A flagelação e a crucificação de Cristo.
- Mt. 27, 33-54 - A crucificação e morte de Cristo.
- Lc. 23, 32-49 - A crucificação; Os dois ladrões.
- Jo. 19, 25-37 - Últimas palavras e morte.
- Mc. 15, 43-47 - O sepultamento do Messias.
- Jo. 19, 38-42 - O sepultamento do Messias.
- Mt. 27, 62-66 - Sentinelas em guarda do túmulo.
* Leituras conforme o Typikon do Patriarcado Ecumênico (Τυπικὸν τῆς Μεγάλης τοῦ Χριστοῦ ᾽Εκκλησίας): Typikon 17-abr-2014.
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