A GRANDE E SANTA SEXTA-FEIRA
Ofício da Transladação do Corpo de Cristo: às 9h
Ofício das Lamentações: 19h
(OFÍCIO DAS LAMENTAÇÕES: 1Cor. 5, 6-8; Gl. 3, 13-14 e Mt. 27, 62-66)*
Da luz
da grande Quinta-feira passamos às trevas da Sexta-feira, o dia da Paixão do
Cristo, de sua morte e de sua sepultura. A Igreja primitiva chamava a este dia
"A Páscoa da Cruz", porque
ele é de fato o começo desta Páscoa ou Passagem cujo sentido nos será revelado
progressivamente; primeiro na paz do Grande e Santo Sábado, depois na alegria
do dia da Ressurreição.
Mas
antes, as trevas. Se ao menos pudéssemos imaginar que as trevas da Sexta-feira
Santa não são puramente simbólicas e comemorativas! É muito frequentemente com
o sentimento de nossa própria justiça e de nossa própria integridade que
contemplamos a tristeza solene destes ofícios. Há dois mil anos, sim, homens maus mataram o Cristo, mas hoje nós — o
bom povo cristão — levantamos suntuosos túmulos em nossas igrejas; não é esta a
prova da nossa justiça? E no entanto, a Sexta-feira Santa não concerne somente
ao passado. É o dia do Pecado, o dia do Mal, o dia no qual a Igreja nos ensina
a aprender a terrível realidade do pecado e seu poder no mundo. Pois o pecado e
o mal não desapareceram: ao contrário, permanecem a lei fundamental do mundo e
de nossa vida. Nós que nos dizemos cristãos não entramos frequentemente nesta
lógica do mal que conduziu o Sinédrio e Pilatos, os soldados romanos e toda a
multidão a detestar, torturar e matar o Cristo? De que lado nós teríamos ficado
se tivéssemos vivido em Jerusalém no tempo de Pilatos? Esta é a pergunta que
nos é feita por cada uma das palavras do ofício de Sexta-feira Santa. É de fato
o dia deste mundo, de sua condenação
real e não somente simbólica, e do julgamento real e não somente ritual, de
nossa vida... É a revelação da verdadeira natureza do mundo que preferiu então
e continua a preferir as trevas à luz, o pecado ao bem, a morte à vida. E
condenando o Cristo à morte este mundo
condenou-se a si mesmo à morte, e na medida em que aceitamos seu espírito, seu
pecado e sua traição a Deus, estamos também condenados... Este é o primeiro
significado, terrivelmente realista, da Sexta-feira Santa: uma condenação à
morte...
O dia da Redenção
No
entanto, este dia do mal cuja manifestação e triunfo estão em seu paroxismo, é
também o dia da Redenção. A morte do Cristo nos é revelada como uma morte
salvífica para nós e para nossa salvação.
Ela é uma morte salvífica porque é o supremo e perfeito sacrifício. O Cristo dá sua morte a seu Pai e no-la dá também. Ele a dá a seu Pai porque não há outro meio de destruí-la e libertar os homens dela; ora, é a vontade do Pai que os homens sejam salvos da morte. O Cristo nos dá sua morte porque na verdade é em nosso lugar que Ele morre. A morte é o fruto natural do pecado, um castigo iminente. O homem escolheu não mais estar em comunhão com Deus, porém como ele não tem a vida nele mesmo e por ele mesmo, morre. Em Jesus Cristo, entretanto, não há pecado, logo não há morte. É somente por amor a nós que ele aceita morrer; Ele quer assumir e compartilhar de nossa condição humana até o fim. Ele aceita o castigo de nossa natureza, exatamente como assumiu o fardo inerente à natureza humana. Ele morre porque se identifica verdadeiramente conosco, tomou sobre si a tragédia da vida do homem. Sua morte é então a revelação suprema de sua compaixão e de seu amor. E porque sua morte é amor, compaixão e co-sofrimento, nela a própria natureza da morte foi mudada. Ela não é mais um castigo, mas um esplendoroso ato de amor e de perdão, o termo de toda ausência de comunhão e de toda solidão. A condenação é transformada em perdão.
Ela é uma morte salvífica porque é o supremo e perfeito sacrifício. O Cristo dá sua morte a seu Pai e no-la dá também. Ele a dá a seu Pai porque não há outro meio de destruí-la e libertar os homens dela; ora, é a vontade do Pai que os homens sejam salvos da morte. O Cristo nos dá sua morte porque na verdade é em nosso lugar que Ele morre. A morte é o fruto natural do pecado, um castigo iminente. O homem escolheu não mais estar em comunhão com Deus, porém como ele não tem a vida nele mesmo e por ele mesmo, morre. Em Jesus Cristo, entretanto, não há pecado, logo não há morte. É somente por amor a nós que ele aceita morrer; Ele quer assumir e compartilhar de nossa condição humana até o fim. Ele aceita o castigo de nossa natureza, exatamente como assumiu o fardo inerente à natureza humana. Ele morre porque se identifica verdadeiramente conosco, tomou sobre si a tragédia da vida do homem. Sua morte é então a revelação suprema de sua compaixão e de seu amor. E porque sua morte é amor, compaixão e co-sofrimento, nela a própria natureza da morte foi mudada. Ela não é mais um castigo, mas um esplendoroso ato de amor e de perdão, o termo de toda ausência de comunhão e de toda solidão. A condenação é transformada em perdão.
A destruição da morte.
Enfim,
a morte do Cristo é uma morte salvífica porque destrói a própria fonte da
morte: o mal. Aceitando-a por amor, entregando-se a seus carrascos e
permitindo-lhes uma vitória aparente, o Cristo manifesta que em realidade esta
vitória é a derrota decisiva e total do mal. Com efeito, para ser vitorioso, o
pecado deve aniquilar o bem, deve provar que ele é toda a realidade da vida,
arruinar o bem e, numa palavra, mostrar sua própria superioridade; mas ao longo
de sua Paixão, é o Cristo e somente ele que triunfa. O mal nada pode contra ele,
pois não pode levar o Cristo a aceitar o mal como verdade. A hipocrisia se revela
hipocrisia, o assassinato e o medo. E enquanto o Cristo avança silenciosamente
para a Cruz e para seu fim, quando a tragédia humana está em seu apogeu, seu
triunfo, sua vitória sobre o mal e sua glorificação aparecem progressivamente
em luz plena. A cada passo esta vitória é reconhecida, confessada, proclamada:
pela mulher de Pilatos, por José, pelo bom ladrão, pelo centurião.
Quando ele morre na cruz, tendo aceito o supremo horror da morte, a solidão absoluta (Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?) não resta senão confessar: "Verdadeiramente este homem era o filho de Deus!" Assim esta morte, este amor e esta obediência, esta plenitude de vida destroem aquilo que faz da morte o destino universal. "E os túmulos foram abertos" (Mt. 27, 52). Já aparecem os primeiros clarões da Ressurreição...
Quando ele morre na cruz, tendo aceito o supremo horror da morte, a solidão absoluta (Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?) não resta senão confessar: "Verdadeiramente este homem era o filho de Deus!" Assim esta morte, este amor e esta obediência, esta plenitude de vida destroem aquilo que faz da morte o destino universal. "E os túmulos foram abertos" (Mt. 27, 52). Já aparecem os primeiros clarões da Ressurreição...
Este é
o duplo mistério desta grande Sexta-feira; os ofícios deste dia nos mostram e
nos fazem participar dele. De um lado, eles insistem constantemente sobre a
Paixão do Cristo enquanto pecado de todos os pecados, crime de todos os crimes.
Nas Matinas (celebrada na noite de quinta-feira), as doze leituras do relato da
Paixão nos fazem seguir passo a passo o Cristo em seus sofrimentos; nas Horas
(que substituem a divina Liturgia, pois a interdição de celebrar a Eucaristia
neste dia significa que o sacramento da presença do Cristo não pertence "à esta criação" de pecado e de
trevas, mas que ele é o sacramento do mundo
que há de vir); nas Vésperas, enfim, o Ofício das Lamentações (descida da
Cruz), as leituras e os hinos estão cheios de solenes acusações contra aqueles
que voluntária e livremente decidiram matar o Cristo justificando seu crime em
nome de sua religião, de sua lealdade política, de suas considerações práticas
e de sua obediência profissional.
Por
outro lado, encontramos desde o começo do ofício o segundo aspecto do mistério
deste dia: o do sacrifício de amor que prepara a vitória final. Desde a
primeira leitura do Evangelho, onde ressoa a advertência solene do Cristo:
"Agora o Filho do Homem foi
glorificado e Deus foi glorificado nele", até aos Stycherons do final
da Véspera, a luz se faz cada vez mais viva e, ao mesmo tempo, crescem a
esperança e a certeza de que a morte será vencida pela morte:
« Ó Tu,
Redentor de todos, quando foste colocado num túmulo novo para todos os homens,
o Hades que não respeita ninguém, te viu e tremeu de medo. As trancas foram
quebradas, as portas se abriram, os mortos levantaram-se. Então Adão, exultante
de reconhecimento, gritou a Ti: Glória à tua condescendência, ó tu
misericordioso!
»
E
quando no final da Véspera, a imagem do Cristo no túmulo (Ἐπιτάφιος) é colocada no
centro da Igreja, quando este longo dia chega a seu fim, sabemos que a longa
história da salvação e da redenção chega também a seu fim. O sétimo dia, o do
repouso, o Sábado abençoado desponta e, com ele, a revelação do túmulo que dá
vida...
* Protopresbítero Alexander SCHMEMANN.
Professor e teótogo ortodoxo (1921-1983)
In: "O mistério pascal: comentários litúrgicos", pp. 23-25
Professor e teótogo ortodoxo (1921-1983)
Tropário (8º Tom)
Ὅτε οἱ ἔνδοξοι Μαθηταί, ἐν τῷ νιπτῆρι τοῦ Δείπνου ἐφωτίζοντο, τότε Ἰούδας ὁ δυσσεβής, φιλαργυρίαν νοσήσας ἐσκοτίζετο, καὶ ἀνόμοις κριταῖς, σὲ τὸν δίκαιον Κριτὴν παραδίδωσι. Βλέπε χρημάτων ἐραστά, τὸν διὰ ταῦτα ἀγχόνῃ χρησάμενον, φεῦγε ἀκόρεστον ψυχὴν τὴν Διδασκάλῳ τοιαῦτα τολμήσασαν. Ὁ περὶ πάντας ἀγαθός, Κύριε δόξα σοι.
|
Quando os ilustres discípulos estavam iluminados na ceia e no lava-pés, Judas, o mal adorador, foi ingrato e injusto, e pelo amor ao dinheiro te entregou aos juízes iníquos, ó Justo Juiz. Contempla, ó amante do dinheiro: este homem, por sua avareza, foi levado à forca. Foge do desejo insaciável, o qual ousou tais coisas contra o Mestre. Ó Senhor, que tratas todos com justiça, glória a ti!
|
Ὁ εὐσχήμων Ἰωσήφ, ἀπὸ τοῦ ξύλου καθελὼν τὸ ἄχραντόν σου Σῶμα, σινδόνι καθαρᾷ, εἱλήσας καὶ ἀρώμασιν, ἐν μνήματι καινῷ κηδεύσας ἀπέθετο.
Ὅτε κατῆλθες πρὸς τὸν θάνατον, ἡ ζωὴ ἡ ἀθάνατος, τότε τὸν ᾍδην ἐνέκρωσας, τῇ ἀστραπῇ τῆς Θεότητος· ὅτε δὲ καὶ τοὺς τεθνεῶτας ἐκ τῶν καταχθονίων ἀνέστησας, πᾶσαι αἱ Δυνάμεις τῶν ἐπουρανίων ἐκραύγαζον· Ζωοδότα Χριστὲ ὁ Θεὸς ἡμῶν, δόξα σοι. Ταῖς Μυροφόροις Γυναιξί, παρὰ τὸ μνῆμα ἐπιστάς, ὁ Ἄγγελος ἐβόα· Τὰ μύρα τοῖς θνητοῖς ὑπάρχει ἁρμόδια, Χριστὸς δὲ διαφθορᾶς ἐδείχθη ἀλλότριος. |
O nobre José, tirando do madeiro o teu puríssimo corpo, envelveu-o num lençol de linho branco; e embalsamando-o com aromas, sepultou-o num túmulo novo.
Quando desceste até à morte, Tu que és a Vida Imortal, então destruíste o inferno com o resplendor da tua divindade. E quando ressuscitaste os mortos do fundo da terra, todas as potestades celestes exclamaram ó Cristo Deus, autor da vida, glória a ti! O anjo apareceu no sepulcro e disse às mulheres portadoras de aromas: os aromas são bons para os mortais, mas Cristo manifestou-se sem corrupção. |
Kondákion (8º Tom)
Τὸν δι' ἡμᾶς Σταυρωθέντα, δεῦτε πάντες ὑμνήσωμεν· αὐτὸν γὰρ κατεῖδε Μαρία ἐπὶ τοῦ ξύλου, καὶ ἔλεγεν· Εἰ καὶ σταυρὸν ὑπομένεις, σὺ ὑπάρχεις ὁ Υἱὸς καὶ Θεός μου.
|
Vinde todos e louvemos Aquele que foi crucificado por nós! A Mãe de Deus, vendo-O sobre a cruz, disse-Lhe: Tu, que sofres tal morte, és em verdade o meu Filho e o meu Deus!
|
PRIMEIRA EPÍSTOLA DE SÃO PAULO AOS CORÍNTIOS E AOS GÁLATAS
A Lei libertadora de Cristo
(1Cor. 5, 6-8 e Gl. 3, 13-14)
(1Cor. 5, 6-8 e Gl. 3, 13-14)
Cristo resgatou-nos da maldição da Lei, fazendo-se maldição por nós, pois está escrito: Maldito todo aquele que é suspenso no madeiro. Assim a bênção de Abraão se estendeu aos pagãos em Cristo Jesus e pela fé recebemos a promessa do Espírito.
Sentinelas em guarda do túmulo
(Mt. 27, 62-66)
* Leituras conforme o Typikon do Patriarcado Ecumênico (Τυπικὸν τῆς Μεγάλης τοῦ Χριστοῦ ᾽Εκκλησίας): Typikon 18-abr-2014.
Nenhum comentário:
Postar um comentário