11 abril 2014

Sábado de Lázaro (12/04/2014)

SÁBADO DE LÁZARO
Início da Semana Santa
(LITURGIA: Hb. 12, 28-29; 13, 1-8 e Jo. 11, 1-45)*
Sábado de Lázaro
Prelúdio da Cruz
« Tendo completado o percurso dos 40 dias... nós suplicamos ver a Semana Santa da tua paixão. »
   É com essas palavras, cantadas nas vésperas da sexta-feira de Ramos, que termina a quaresma, e que entramos na comemoração anual dos sofrimentos de Cristo, de sua morte e de sua ressurreição. Ela começa no sábado de Lázaro. A festa da ressurreição de Lázaro, somada à da entrada do Senhor em Jerusalém, é chamada nos textos litúrgicos: "Prelúdio da Cruz."
É portanto no contexto da grande semana que o significado desta festa dupla fica mais claro. O tropário comum à esses dois dias nos diz:
« Ressuscitando Lázaro, o Cristo confirmou a verdade da Ressurreição Universal. »
   Aqueles que estão familiarizados com a liturgia ortodoxa, conhecem o caráter singular e paradoxal dos ofícios desse sábado de Lázaro. Esse sábado é celebrado como um domingo, quer dizer que se celebra aí o ofício da Ressurreição quando, normalmente, o sábado é consagrado à comemoração dos defuntos. A alegria que ressoa no ofício sublinha o tema principal: a vitória próxima de Cristo sobre o Hades. Na Bíblia, o Hades significa a morte e seu poder universal, a noite inevitável e a destruição que traga toda a vida, envenenando com suas trevas devastadoras o mundo inteiro. Mas eis que, pela ressurreição de Lázaro, "a morte começa a tremer"; é o começo de um duelo decisivo entre a vida e a morte, um duelo que nos dá a chave de todo o mistério litúrgico da Páscoa. Para a Igreja primitiva, o sábado de Lázaro era, o "anúncio da Páscoa"; de fato, esse sábado proclama e já faz aparecer a maravilhosa luz e a paz do sábado seguinte: o grande e santo Sábado, o dia do túmulo vivificante que dá a vida.
   Compreendemos logo que Lázaro, "o amigo de Jesus," personifica cada um de nós e toda a humanidade, e que Betânia, "a casa" do homem Lázaro, é o símbolo de todo o universo, habitat do homem. Todo homem foi criado amigo de Deus e chamado a esta amizade divina que consiste no conhecimento de Deus, na comunhão com ele, o compartilhar da mesma vida: "A vida estava nele, e a vida era a luz dos homens" (Jo. 1,4). E portanto este amigo bem amado de Deus, criado por amor, ei-lo destruído, aniquilado por um poder que Deus não criou: a morte. Deus é afrontado em sua obra por um poder que a destrói e torna nulo seu desígnio. A criação é apenas tristeza, lamentação, lágrimas e finalmente morte. Como é possível? Essas questões se encontram latentes no texto detalhado que João nos faz da vinda de Jesus à tumba de seu amigo. "Uma vez chegado à tumba de seu amigo," diz o evangelista, "Jesus chorou" (Jo. 11,35). Por que ele chora, uma vez que ele sabe que dentro de um instante ele ressuscitará Lázaro à vida?
   Os hinógrafos bizantinos não souberam compreender o sentido verdadeiro dessas lágrimas, atribuindo-as à sua natureza humana, uma vez que, de sua natureza divina ele detinha o poder de ressuscitar os mortos. Entretanto, a Igreja ortodoxa ensina claramente que todas as ações de Cristo são teândricas, isto é, ao mesmo tempo divinas e humanas, sendo as ações do único e mesmo Deus-Homem, o Filho de Deus encarnado. É o Homem-Deus que vemos chorar, é o Homem-Deus que fará sair Lázaro de seu túmulo. Ele chora. . . são lágrimas divinas; ele chora porque contempla o triunfo da morte e da destruição da criação saída das mãos de Deus. "Ele já cheira mal," dizem os judeus, como para impedir Jesus de se aproximar do corpo; terrível advertência que vale para todo o universo, para toda a Vida. Deus é Vida e Doador de Vida, ele chamou o homem para esta realidade divina da vida, e eis "que ele cheira mal." O mundo foi criado para refletir e proclamar a glória de Deus, e eis "que ele cheira mal!" No túmulo de Lázaro Deus encontra a morte, a realidade da antivida, da destruição e do desespero. Ele se encontra face à face com seu Inimigo que lhe arrebatou a criação, que era sua, para tornar-se o Príncipe. Nós que seguimos Jesus se aproximando do túmulo, entramos com ele na sua Hora, aquela que ele anunciou frequentemente como o apogeu e o cumprimento de toda sua obra. Neste curto versículo do Evangelho: "Jesus chorou," é a Cruz que é anunciada, sua necessidade e seu significado universal. Compreendemos agora que é porque "Jesus chorou," melhor dizendo porque ele amava seu amigo Lázaro, que ele tem o poder de o chamar à vida. A ressurreição não é a simples manifestação de um poder divino, mas antes o poder de um amor, o amor tornado poder. Deus é Amor e Amor é Vida, ele é criador de vida. . . É o Amor que chora sobre o túmulo e é o Amor também que dá a vida; lá está o sentido das lágrimas divinas de Jesus. Elas nos mostram o amor de novo à obra, recriando, resgatando e restaurando a vida humana presa das trevas: "Lázaro, sai para fora!..."
   Eis porque esse sábado de Lázaro inaugura ao mesmo tempo a cruz como supremo sacrifício de Amor, e a ressurreição como seu último triunfo:
« Cristo é para todos alegria, verdade, luz e vida, Ele é a ressurreição do mundo, n'Ele o amor apareceu para aqueles que estão na terra, imagem da ressurreição,  concedendo a todos o perdão divino. » (Kondákion do Sábado de Lázaro)

Protopresbítero Alexander SCHMEMANN
Professor e teótogo ortodoxo (1921-1983) 
In: "O mistério pascal: comentários litúrgicos", pp. 7-9
† DIVINA LITURGIA DE SÃO JOÃO CRISÓSTOMO
Tropário de Lázaro (1º Tom)
Τὴν κοινὴν Ἀνάστασιν πρὸ τοῦ σοῦ πάθους πιστούμενος, ἐκ νεκρῶν ἤγειρας τὸν Λάζαρον Χριστὲ ὁ Θεός· ὅθεν καὶ ἡμεῖς ὡς οἱ παῖδες, τὰ τῆς νίκης σύμβολα φέροντες, σοὶ τῷ νικητῇ τοῦ θανάτου βοῶμεν· Ὠσαννὰ ἐν τοῖς ὑψίστοις, εὐλογημένος ὁ ἐρχόμενος, ἐν ὀνόματι Κυρίου.
Ó Cristo Deus, dando-nos, antes da tua Paixão, uma garantia da ressurreição geral, ressuscitaste Lázaro dos mortos; por isso, nós também, como os filhos dos hebreus, levamos os símbolos da vitória, clamando: Ó vencedor da morte, hosana nas alturas! Bendito o que vem em nome do Senhor!
Kondákion de Lázaro (2º Tom)
Ἡ πάντων χαρά, Χριστὸς ἡ ἀλήθεια, τὸ φῶς ἡ ζωή, τοῦ Κόσμου ἡ ἀνάστασις, τοῖς ἐν γῇ πεφανέρωται, τῇ αὐτοῦ ἀγαθότητι, καὶ γέγονε τύπος τῆς ἀναστάσεως, τοῖς πᾶσι παρέχων θείαν ἄφεσιν.
Cristo é para todos alegria, verdade, luz e vida, Ele é a ressurreição do mundo, n'Ele o amor apareceu para aqueles que estão na terra, imagem da ressurreição, concedendo a todos o perdão divino.
EPÍSTOLA DE SÃO PAULO AOS HEBREUS
Exortações à vida cristã.
(Hb. 12, 28-29; 13, 1-8)
Irmãos, já que recebemos o reino inabalável, guardemos a graça, pela qual serviremos a Deus, como bem lhe agrada: com temor e reverência religiosa. Pois em verdade nosso Deus não deixa de ser um fogo devorador.
   Perseverai no amor fraterno! Não vos esqueçais da hospitalidade pela qual alguns, sem saber, hospedaram anjos. Lembrai-vos dos presos, como se estivésseis presos com eles, e dos que sofrem maus tratos, como se estivésseis no corpo deles. Todos vós, considerai o matrimônio com respeito e conservai o leito conjugal imaculado porque Deus julgará os impuros e adúlteros. Vivei sem avareza. Contentai-vos com o que tendes, pois Deus mesmo disse: "Não te abandonarei nem te desampararei. De maneira que confiantemente possamos dizer: O Senhor é meu auxílio, não temerei. O que me poderá fazer o homem?
   Lembrai-vos de vossos dirigentes, que vos pregaram a palavra de Deus, e considerando o fim de sua vida, imitai-lhes a fé. Jesus Cristo ontem e hoje é o mesmo também pelos séculos.
EVANGELHO SEGUNDO SÃO JOÃO
A ressurreição de Lázaro.
(Jo. 11, 1-45)
Naquele tempo, Lázaro caiu doente em Betânia, onde estavam Maria e sua irmã Marta. Maria era aquela que tinha ungido o Senhor com óleo perfumado e lhe tinha enxugado os pés com os cabelos. Seu irmão Lázaro estava enfermo. As irmãs mandaram dizer a Jesus: “Senhor, aquele a quem amas está doente”. Quando ouviu isso, Jesus disse: “Esta doença não causará a morte mas se destina à glória de Deus: por ela o Filho de Deus será glorificado”. Ora, Jesus amava Marta, sua irmã e Lázaro. Embora estivesse informado de que ele estava doente, demorou-se ainda dois dias naquele lugar. Depois disse aos discípulos: “Voltemos para a Judeia”. Os discípulos disseram: “Mestre, há pouco os judeus te queriam apedrejar e tu voltas para lá?” Jesus respondeu: “Não são doze as horas do dia? Se alguém caminha durante o dia, não tropeça porque vê a luz deste mundo; mas se caminha de noite, tropeça porque lhe falta a luz”. Depois destas palavras, acrescentou: “Lázaro, nosso amigo, adormeceu mas eu vou despertá-lo”. “Senhor, se ele está dormindo é porque vai ficar bom” – disseram os discípulos. Jesus se referia à morte, mas eles pensavam que estivesse falando do repouso do sono. Então Jesus lhes falou claramente: “Lázaro morreu. Eu me alegro de não ter estado lá, para que vós assim acrediteis. Mas vamos até ele”. Tomé, chamado Dídimo, disse então aos companheiros: “Vamos nós também para morrermos com ele”. 
   Quando Jesus chegou, já fazia quatro dias que Lázaro estava no túmulo. Betânia ficava perto de Jerusalém, a uns três quilômetros. Muitos judeus tinham vindo até Marta e Maria para as consolar da morte do irmão. Quando Marta ouviu que Jesus havia chegado, saiu-lhe ao encontro. Maria ficou sentada em casa. Marta disse a Jesus: “Senhor, se tivesses estado aqui, meu irmão não teria morrido. Sei, porém, que tudo quanto pedires a Deus ele te concederá”. Jesus respondeu: “Teu irmão ressuscitará”. “Sei que ele ressuscitará na ressurreição do último dia” – disse Marta. Jesus lhe disse: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá. E quem vive e crê em mim jamais morrerá”. Crês isto?” “Sim, Senhor – respondeu ela – creio que és o Cristo, o Filho de Deus, que devia vir a este mundo”. Dito isso, ela foi chamar sua irmã Maria e disse-lhe baixinho: “O Mestre está aí e te chama”. Ao ouvir isso, Maria levantou-se imediatamente e foi ao encontro dele. É que Jesus ainda não havia entrado no povoado mas ficou lá onde Marta o tinha encontrado. Os judeus, que estavam em casa com ela e a consolavam, vendo que Maria se tinha levantado e saído às pressas, seguiram-na pensando: “Ela vai ao sepulcro para chorar”. Assim que Maria chegou onde Jesus estava, lançou-se aos pés dele e disse: “Senhor, se tivesses estado aqui, o meu irmão não teria morrido”.  
   Quando viu que Maria e todos os judeus que vinham com ela estavam chorando, Jesus se comoveu profundamente. E emocionado, perguntou: “Onde o pusestes?” “Senhor, vem ver” – disseram-lhe.  Jesus começou a chorar. Os judeus comentavam: “Vede como ele o amava”. Alguns, porém, disseram: “Ele, que abriu os olhos do cego de nascença, não podia fazer com que Lázaro não morresse?” Tomado novamente de profunda emoção, Jesus se dirigiu ao sepulcro. Era uma gruta com uma pedra colocada na entrada. Jesus ordenou: “Tirai a pedra”. Marta, irmã do morto, disse: “Senhor, já está cheirando mal, pois já são quatro dias que está aí”. Jesus respondeu: “Eu não te disse que, se acreditasses, verias a glória de Deus?” Tiraram então a pedra. Jesus levantou os olhos para o alto e disse: “Pai, eu te dou graças porque me atendeste. Eu sei que sempre me atendes, mas digo isto por causa da multidão que me rodeia, para que creiam que tu me enviaste”. Depois dessas palavras, gritou bem forte: “Lázaro, vem para fora”! O morto saiu com os pés e as mãos atados com faixas e o rosto envolto num sudário. Ordenou Jesus: “Desatai-o e deixai-o andar”. 
   Muitos judeus, que tinham ido visitar Maria e visto o que Jesus fizera, acreditaram nele.
* Leituras conforme o Typikon do Patriarcado Ecumênico (Τυπικν τς Μεγάλης το Χριστο Εκκλησίας): Typikon 12-abr-2014.

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